Debaixo de algum céu

Debaixo de algum céu Nuno Camarneiro




Resenhas - Debaixo de Algum Céu


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regifreitas 23/09/2020

DEBAIXO DE ALGUM CÉU (2011), de Nuno Camarneiro.

Segundo livro desse jovem escritor português que leio. O primeiro foi NO MEU PEITO NÃO CABEM PÁSSAROS, em 2012.

Neste, temos uma fio narrativo principal, em terceira pessoa, no qual um narrador onisciente nos vai apresentando os personagens - um grupo de moradores de um prédio próximo a uma praia. Há, também, narrativas em primeira pessoa, nas quais podemos ouvir a voz de alguns desses personagens. Tudo sem muita complicação, já vindo enunciado nos títulos que abrem os capítulos qual é a voz da vez.

Duas questões não me agradaram na obra. A narrativa em terceira pessoa: achei dispensável. O autor poderia ter escolhido contar e aprofundar mais a história a partir somente dos múltiplos pontos de vista dos personagens; seria bem mais interessante. Falando em personagens, todos são muito estereotipados: o jovem padre com dúvidas quanto a sua fé; a solidão de dois idosos que reencontram o prazer na companhia um do outro; um jovem casal em crise após o nascimento do primeiro filho; uma família com filhos adolescentes (constantemente em pé de guerra), e pais com uma vida amorosa insossa. O pior de tudo é que nenhum deles tem carisma, nenhum causa simpatia, aversão ou mesmo compaixão.

Já comentei por aqui que gosto muito da escrita dos autores portugueses. Muitos deles carregam um estilo que mescla o poético com uma certa filosofia e melancolia. Algumas passagens, aqui, trazem essas características, são daquelas que merecem ser grifadas por conta da beleza da linguagem. Mas isso por si só não segura uma obra que, no geral, apresenta uma narrativa que não empolga e não acrescenta nada. Apenas mediana.
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Paula 01/05/2013

Debaixo de nosso céu
"Num prédio encostado à praia, homens, mulheres e crianças - vizinhos que se cruzam mas se desconhecem - andam à procura do que lhes falta - um pouco de paz, de música, de calor, de um Deus que lhes sirva."

Uma história contada em oito dias, um prédio que é quase um mundo, representando esse universo de sonhos, esperanças, frustrações e muitos outros sentimentos que compõem nossos dias. Histórias que se cruzam, amores que se compartilham ou se desfazem. Humano, absurdamente humano.

Gostei muito da escrita do Nuno Camarneiro, tão sincera e poética. É certamente um dos nomes que devemos acompanhar de agora em diante. Recomendo.

"São precisos homens que tragam poemas nos bolsos e músicas nos lábios, que interrompam a luta para beber chá e cortejar as senhoras, que fujam das certezas como um louco da realidade. Só homens incertos podem manter um mundo que se esquiva de qualquer sentido, não é na lógica que superamos os animais, mas tão-só nas diferentes modalidades de loucura."

Daniel 22/08/2013minha estante
Gostei também, mas achei um tanto angustiante...




PEDRO 15/06/2013

Narrativa Primorosa
Um livro cuja leitura esvai-se no mesmo tempo de um lufo de vento que toca o prédio situado à costa portuguesa, onde moram as personagens. Nuno é um mestre da narrativa primorosa. Um jovem (conta apenas 35 anos) que já é um escritor completo. Nesta obra premiada descreve, de forma simultânea, a angústia de uma dezena de personagens, inclusive as de um gato ciumento, o transcorrer de sete dias, estertores de um ano, e de um dia, albor de um novo. E fá-lo com narrativa poética segura, premiando o leitor com surpresas (algumas chocantes) do cotidiano e as vicissitudes de personagens tão bem construídas quanto a distância que as separam em seus diferentes modos de viver. Dá quase para se sentir o bafejar da beira-mar e o cheiro da maresia. Fantástico.
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Hermes 02/04/2014

Bom apenas
Livro bom, para mim, tem que cumprir alguns requisitos. Eis os principais:

a) Boa história: criativa, empolgante, surpreendente, interessante, coerente e verossímil;
b) Personagens inusitadas, complexas e bens construídas;
c) Narrativa fluida, envolvente e bem articulada;
d) Vocabulário rico;
e) Reflexões interessantes, daquelas que te fazem interromper a leitura e levantar a cabeça para pensar no que o autor escreveu;
f) Boas sacadas.

50 Tons de Cinza e O Alquimista (já resenhados aqui no blog), por exemplo, não cumprem nenhum desses requisitos; considero-os, portanto, livros ruins. Por outro lado, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Crime e Castigo (ainda não resenhados aqui) atendem a todos esses itens com louvor, o que os torna, na minha opinião, excelentes livros. Para descrever minha impressão sobre Debaixo de Algum Céu, resolvi submetê-lo a esse check list. Essa obra foi aprovada em alguns pontos e reprovada em outros.

Antes de detalhar a avaliação, vou falar um pouco mais sobre o livro em questão. Debaixo de Algum Céu, obra do escritor português Nuno Camarneiro, foi o vencedor do Prêmio Leya de 2012, concurso realizado em Portugal pela editora de mesmo nome, que abre oportunidades para romances escritos em língua portuguesa. A título de curiosidade, um brasileiro foi o vencedor da primeira edição desse prêmio (2008), trata-se de Murilo Carvalho, com o livro O Rastro do Jaguar.

Debaixo de Algum Céu conta a história dos moradores de um edifício localizado em algum ponto do litoral português. Entre os moradores, temos: um jovem solteiro, especialista em informática, em crise moral por conta do trabalho que está realizando; um padre em conflito espiritual; uma viúva, que perdeu o marido recentemente e conta somente com a companhia de um gato; um casal em crise, com uma filha recém-nascida; uma família comum (pai, mãe, uma adolescente e um menino), com problemas comuns; uma mulher sozinha e angustiada por conta de alguns erros que cometeu; um zelador excêntrico. Esses são os seus principais personagens. O romance relata o que se passa na vida dessas pessoas do dia de Natal até o primeiro dia de um novo ano.

Apresentado o livro e seu conteúdo, vamos ao resultado da minha avaliação, segundo os critérios elencados acima:

a) Reprovado. A história, ou melhor, as várias histórias do livro são coerentes e verossímeis, mas faltam criatividade e surpresa; e as tais histórias tampouco nos empolgam. Um padre confrontado com desejos carnais é um tema mais do que batido nas artes. A viúva que ainda cultiva adoração pelo marido morto, uma mulher solitária e problemática, um casal em crise e a família padrão desgastada são histórias mais do que comuns. Nenhuma novidade.

b) Reprovado. Como se pode perceber pelo item anterior, as personagens são bem manjadas; algumas são até bem construídas, mas nenhuma é realmente complexa, nem inusitada. A única diferente é David, que tem a tarefa de criar pessoas virtuais para o mundo virtual gerido pela empresa que o contratou. Ele foge do comum, mas também não se destaca. Todas as personagens desse livro me pareceram bem distantes; não consegui me identificar com nenhuma delas; nenhuma delas me emocionou. Talvez pelo fato de contar várias histórias de várias pessoas distintas, o autor não tenha mergulhado profundamente em nenhuma, o que deixou fria a relação leitor/personagem. Ao final, fica a impressão de que não conhecemos ninguém direito.

c) Passa raspando. A narrativa é bem articulada, mas não é fluida e envolvente. Em vários pontos, achei-a meio amarrada.

d) Aprovado. Vocabulário muito bom.

e) Também foi aprovado. O autor nos oferece boas reflexões. Exemplo: "Oito dias são pouco tempo na vida de uma pessoa, mas nascer é só um dia e morrer também. Há alguns maiores e outros que nada importam, há semanas grandes como anos e horas infinitas, o tempo de uma vida é descontínuo e assimétrico." Outro trecho que nos faz para a leitura, levantar a cabeça e pensar: "Nesta história o tempo é medido em medos, um a cada dia, o tempo certo para que homens tremam e mudem." Há pensamentos muito interessantes, só os achei em número excessivo. Em alguns momentos, eles se preocupa mais em filosofar do que contar a história. Parece que ele tem filosofia para tudo, até para um farol na praia. Poderia ter maneirado a mão nesse sentido.

f) Reprovado. Não vi nada diferente, não vi nenhuma lance genial, inusitado ou marcante.

Enfim, por tudo o que foi dito, dá para considerar Debaixo de Algum Céu apenas bom livro. Não chega a ser perda de tempo lê-lo, mas está longe de ser uma obra marcante; não é daquelas que vai ficar na nossa cabeça por algum tempo.

site: http://garrafadacultural.blogspot.com.br/2013/12/debaixo-de-algum-ceu.html
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Ladyce 05/08/2015

Autor controlador
Esta foi a minha apresentação ao escritor português Nuno Camarneiro, ganhador do Prêmio Leya de 2012, com esse livro. Tenho mantido contato próximo com autores lusitanos publicados aqui no Brasil. Acho que a literatura publicada além-mar anda muito interessante e não me canso de experimentar novos escritores. Por isso mesmo, mergulhei em “ Debaixo de algum céu” com muita expectativa. Talvez mais expectativas do que deveria.

A ideia central de Nuno Camarneiro é muito interessante e rica em possibilidades: seguir a vida, por uma semana, de um grupo de pessoas que têm em comum habitarem o mesmo edifício de apartamentos. Rico em possibilidades, em caracterização de personagens de diversos caminhos, o tema é fascinante. A limitação de tempo e de lugar, onde muitos personagens exibem suas características não é estranho à literatura nem ao cinema. De “Anjo Exterminador “de Buñuel ao edifício de apartamentos, personagem do romance “A beleza do Ouriço”, de Muriel Barbery, exemplos abundam. Todos trabalhos de sucesso. Sucesso esperado por essa coletânea de histórias de Nuno Camerneiro, quase um conjunto de contos, não fosse a ocasional interação entre os personagens residentes do prédio.

Nuno Camarneiro preenche seu texto com uma série de frases de efeito, que certamente encontrarão lugar nos livros e sites de citações, frases inspiradas. No entanto a narrativa é fria. Controlada demais, quase sem interação de personagens, diálogos. Nem mesmo entre membros de uma família no mesmo apartamento há diálogos. Só ocasionalmente. Todos os personagens são taciturnos, reservados e sigilosos. Não há um que seja mais expansivo, não há um que quebre estrondosamente as regras. E, no entanto, apesar de vidas cerradas e quietas, nenhum deles se dá a indulgência de um hábito secreto, transgressor, uma mania, um comportamento fora do eixo, em sua intimidade, características que fazem qualquer personagem tridimensional. Resultado: todos são figuras de papelão. A presença do narrador se impõe em demasia tirando qualquer leveza do texto, qualquer mobilidade dos personagens. Tudo é visto e contado com a mesma voz em monótona narrativa, sem humor, sem ironia, demasiadamente contida e estereotipada. Por isso mesmo os capítulos são legendados para que se saiba quem narra aquele trecho.

A narrativa, mesmo assim, é ritmada e bem feita. Cheguei ao fim do livro com facilidade, sempre esperando que algo acontecesse de proporções adequadas às minhas horas de dedicação à leitura. O desfecho foi um tanto anticlimático. A rigorosa mão do autor pode ser sentida forjando acontecimentos que nem sempre parecem ser a consequência natural dos personagens. Vamos ver o que mais Nuno Camarneiro poderá trazer ao público, no futuro. Tenho a impressão de que o autor precisa se soltar. Com esse pulso de ferro, seus personagens não têm chance de crescer e nos surpreender e quem sabe surpreender até ao próprio autor?
Marta Skoober 05/08/2015minha estante
Pensei tratar-se de um romance, não de um conjunto de narrativas curtas. O tema central é deveras interessante, faz pensar em leitores voyeristas.


Ladyce 05/08/2015minha estante
Marta, esses contos são entremeados, mas cada capítulo pertence a um personagem e em pouquíssimos os personagens se cruzam ou interagem para construir de fato um enredo. Sim, você tem razão, o tema é fascinante.




Marcela 06/02/2017

Simples e profundo
Lindo livro. Personagens cheios de vida ou em total ausência dela... Gente como a gente que acerta e erra todo dia; faz loucuras na hora da raiva e depois se arrepende e tudo muda; gente que parece do bem, mas que esconde um monte de coisa podre; gente de coração tão bom que parece que nada sofreu; gente que parece que a vida nem existe mais; gente que se esconde e nem lembra como gente é; gente pequena e gente grande; gente velha e gente nova... Super vale a pena a leitura e a sensibilidade da escrita e a linguagem poética do autor são encantadoras...
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Inês Montenegro 27/01/2018

"Não há um enredo único que seja espinha dorsal desta história. Como indicado na sinopse, a premissa é a de se debruçar um pouco sobre cada um dos moradores do prédio, salteando constantemente entre uns e outros. O facto de se tratarem de trops de personagens bastante utilizadas e, dentro da bolha do romance, diferirem bem entre si leva a que esta constante mudança de foco narrativo não se torne confusa, sendo fácil ao leitor acompanhar as mudanças e novas situações. Poderemos resumir o enredo como sendo o acompanhamento do mundano de um grupo de vizinhos, durante o período compreendido entre o Natal e o Ano Novo, com foco no seu psicológico." (...)

Opinião completa em:

site: https://booktalesblog.wordpress.com/2017/09/30/debaixo-de-algum-ceu-nuno-camarneiro/
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Lusia.Nicolino 09/01/2020

Descobrindo autores
Eu adoro descobrir autores. Eu adoro os autores portugueses. Eu adoro os livros que vem com alguns ingredientes que me lembram o porquê da minha paixão pelos livros: boa história, boa narrativa, capacidade de surpreender, encantar, emocionar, fazer refletir, mesmo que o mote seja – um prédio, seus moradores e oito dias compreendidos entre o final do ano e o primeiro dia do ano vindouro.
Já apertou o pescoço de uma criança? Já duvidou de sua fé? Já reservou para um gato todo o carinho que traz nas mãos? Já reencontrou o amor que estava mesmo ali, ao lado?
Quando enfrenta uma tempestade, o que mais nos acaba, além da energia elétrica?
Camarneiro nos deixa viver esses oito dias como espectador dos fins e dos recomeços. Pode espiar pela janela ou dividir o elevador com um dos moradores, não vai se arrepender.

Quote: “São precisos homens que tragam poemas nos bolsos e músicas nos lábios, que interrompam a luta para beber chá e cortejar as senhoras, que fujam das certezas como um louco da realidade. Só homens incertos podem manter um mundo que se esquiva de qualquer sentido, não é na lógica que superamos os animais, mas tão-só nas diferentes modalidades de loucura."

site: https://www.facebook.com/lunicolinole
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