Taci 19/06/2013
Mosaico? Está mais para uma colcha de retalhos...
Imagine você, leitor que adora uma ficção com super poderes e afins, uma realidade paralela na qual um vírus alienígena poderosíssimo atinge a população de Nova Iorque e, a partir daí, se espalha para o resto do mundo. Acrescente a isso o fato de que esse tal vírus poderosíssimo pode dar super poderes as pessoas – tais como: telepatia, força descomunal, enfim, essas coisas tipo X-Men que todo mundo conhece – que ficaram conhecidas como Ases, ou pode transformá-las em aberrações horrorosas, conhecidos como Curingas. E aí, instala-se o caos! Pronto. Imaginou? Pintou a cena na cabeça direitinho? Agora, me responda qual a primeira impressão que algo assim causa? No mínimo se espera algo muito, mas muito bom.
Bom, já deu para perceber que eu considero a premissa da história muito boa, certo? Pois é. Mas se o livro foi bom, só tenho a dizer que poderia ter sido infinitamente melhor. E, na minha humilde opinião, o "defeito" (por assim dizer) reside justo na quantidade de gente envolvida escrevendo esta história. Estilos e características de um monte de gente diferente tentando se encaixar numa mesma história. O que poderia ter resultado em algo muitíssimo interessante, acabou não cumprindo o esperado e no final ficou isso aí... Acredito que tenha melhorado muito nos volumes seguintes ou não teria tido tanto fôlego para mais de vinte livros!
Aqui no Brasil o sucesso se deu por essas letras gigantes na capa formando o nome "George R. R. Martin", conhece? Ah, o marketing... Se você se interessou porque pensou que o Papai Noel sádico d'As Crônicas de Gelo e Fogo era a cabeça pensante por trás desse livro, sinto informar, pode ir tirando seu cavalinho da chuva! O vovô é editor e, vez ou outra, colaborador nesse projeto chamado Wild Cards.
A coisa toda começou lá em 1946, logo após o fim da Guerra, quando todos tentavam se reerguer e retomar suas vidas. A partir daí, os primeiros capítulos do livro mostram as mudanças sofridas pelos protagonistas, que são apresentados aos leitores pouco a pouco. Inclusive, o terceiro capítulo, intitulado "O dorminhoco", escrito por Roger Zelazny, foi um dos que mais gostei nessa primeira fase de apresentação e conhecimento dos personagens. E é em "O dorminhoco" que conhecemos Croyd Crenson, que ora o vírus – que foi batizado de Carta Selvagem – transforma em Ás, ora em Curinga. Para que isso aconteça, ele só precisa fechar os olhos, e dormir...
"Ele tinha 14 anos de idade quando o sono se tornou seu inimigo, uma coisa sombria e terrível que aprendeu a temer como outros temiam a morte."
Pouco tempo depois de toda a população reconhecer as mudanças causadas pelo vírus, um grupo no senado – denominado Comitê da Câmara sobre Atividades Antiamericanas – iniciou uma caça às bruxas, colocando todos os Ases de que tinham conhecimento atrás das grades. Exceto aqueles denominados "testemunhas amigáveis" que eram basicamente os X-9 da história que não conseguiam segurar a língua e deduravam os outros. A coisa toda começa a tomar proporções enormes, mais um Comitê é criado e sobre qualquer um que pairasse a suspeita de que fosse um Ás, estava na mira do governo. Eram condenados pelo único "crime" de terem sido vítimas de um vírus alienígena. A caçada às bruxas dos tempos moderna fica definitivamente fora de controle quando as chamadas "Leis das cartas selvagens" são aprovadas. Leis que, basicamente, exigem que os Ases se tornem os cães de guarda dos Estados Unidos, caso contrário seriam mandados para a prisão num piscar de olhos.
Enredo e início devidamente explanados, àqueles que, ainda assim, sentiram curiosidade a respeito de Wild Cards, sugiro apenas que diminua um pouco aquela coisinha chata chamada expectativa. Chamado de romance mosaico, Wild Cards sofre de certa falta de continuidade nos seus capítulos. Digo isso porque, como comentei anteriormente, são autores e estilos bem diferentes, inserindo fatos – que em minha opinião ficaram bem mal conectados entre si – num mesmo pano de fundo. Ficou mais um trabalho de patchwork do que de mosaico.
Diferenças gritantes entre um capítulo e outro fizeram com que o texto perdesse a fluidez e provocasse até certa irritação. Por exemplo, ficamos esperando a continuação de um capítulo muito bom que foi "O dorminhoco" e recebemos um "Capitão Cátodo e o ás secreto" (escrito por Michael Cassutt), um "A noite longa e obscura de Fortunato" (Lewis Shiner) e "Bem fundo" (Edward Bryant e Leanne C. Harper) que são desnecessariamente ruins – este último disparado o pior do livro. Ou seja, é MUITA instabilidade mesmo.
No mais, a curiosidade de ler, ao menos, o próximo volume é maior do que a insatisfação de ter lido este primeiro. Acredito de verdade que a história toda dê uma guinada sensacional daqui para frente. "Wild Cards - O Começo de Tudo" não é ruim, mas também não é ótimo, embora tenha potencial de sobra para produzir algo muitíssimo interessante. Só me resta, então, esperar...