Poly 27/09/2013Assim que peguei o livro em mãos, senti a capa com textura aveludada, as letras em alto relevo e vi a imagem serena eu decidi que PRECISAVA lê-lo.
Adorei a harmonização do design da capa e o miolo é bem bonito. Há um mapa mostrando a viagem de Gabrielle, um sumário com os títulos dos capítulos e diversas citações de poesias e provérbio no meio da narrativa. Um trabalho belíssimo.
O livro conta a história de Gabrielle, uma jovem médica veneziana que decide partir ao encontro de seu pai, o Dr. Mondini, que há dez anos saiu de casa e há algum tempo parou de dar notícias. A história toda se passa no século 16, uma época em que as mulheres não podiam exercer a medicina sem que um médico homem ficassem responsável por elas.
Sem seu pai por perto, Gabrielle estava impedida de exercer a profissão que tanto gosta, assim, ela decide viajar pela Europa em busca do seu pai.
Gabrielle não sai sozinha nessa aventura, ela viaja com seus fiéis criados Olmina e Lorenzo. Conforme avançamos na leitura percebemos que Olmina e Lorenzo são mais que empregados e amigos, eles têm um carinho tão grande por Gabrielle que pode ser considerado como um amor paternal.
O relacionamento entre eles é lindo e bastante tocante.
"Quando se vê muitas coisas cedo demais, qualquer mudança é uma ameaça.
P.24"
Além da busca por seu pai, Gabrielle continua um projeto que começou com ele, que é a escrita de um livro de curas. Enquanto ela viaja e conversa com outros médicos, ela vai escrevendo o livro e acrescentando doenças e informações que encontra pelo caminho.
Então, além da história, o livro é recheado com as anotações do livro de Gabrielle e de cartas antigas que seu pai.
As doenças descritas por Gabrielle possuem nomes pomposos e alguns sintomas bizarros, acredito que hoje em dia, várias delas seriam classificadas como transtornos mentais.
"PORFÍRIA
Aversão à luz que faz com que a pessoa desenvolva úlceras e pelos de animal.
P. 249"
Acredito, inclusive, que Gabrielle desenvolveu algum tipo de transtorno, pois a busca pelo seu pai chega à obsessão. E, se seu pai também teve algum tipo de doença, só lendo a história completa para descobrir.
É uma leitura bastante densa e envolvente. Podemos sentir a angústia e a frustração de Gabrielle a cada parada por não conseguir encontrar seu pai. E também o anseio de Olmina para voltar para casa.
"Ele estava sempre partindo. Apertei a carta em minha mão. Minha mãe sabia distorcer a verdade e ainda conservar parte dela. Ela o conhecia de um modo diferente de mim. Teve sua afeição precoce arruinada pela arrogância (da parte dele ou dela?). Talvez nenhum dos dois ainda tenha conseguido superar as palavras ásperas que provocaram velhas mágoas.
P. 145"
Apesar da narrativa ser em um tom mais dramático, há um certo grau de aventura que nos prende à leitura. Gabrielle, Olmina e Lorenzo passam por muitas situações difíceis e perigosas.
Eles saem de Veneza, uma cidade cercada pelo mar, viajam pelo continente europeu, passando por regiões frias e com neve, vão de barco até Edimburgo, retornam pelo continente e vão parar no Marrocos. Eles vivenciam várias culturas e climas e conhecem diversas pessoas peculiares.
Há muitas passagens choráveis e eu teria chorado mais, se eu não lesse basicamente apenas em público.
"Alguns viajantes gostam de ler sobre os locais que visitam, sobre os companheiros de estrada que fizeram registros agradáveis ou admiráveis. Outros gostam de ler o trabalho de pessoas famosas que moraram nesses municípios ou cidades nais quais chegarão. Outros ainda divertem-se com as histórias locais compartilhadas nas tavernas e estalagens. Eu lia e relia as cartas de meu pai para descobrir em que estrada ou cidade adiante poderia achá-lo.
P.
167"
Gostei do livro por ele retratar uma realidade completamente diferente da minha, mas não há nada de excepcional nele para incluir como favorito ou ganhar 5 estrelas.
Não encontrei nenhum erro de digitação ou tradução. O título do livro foi traduzido ao pé da letra e eu gostei assim.
Regina O’Melveny é uma escritora basicamente de poesias, com seus textos publicados em diversos periódicos, mas como primeira obra narrativa, ela fez um ótimo trabalho. É um livro diferente de tudo que eu vi por aí e vale à pena a leitura para fugir do tradicional.
Não é um livro para sentar e devorar de uma vez só. Suas palavras foram escritas para serem saboreadas pouco a pouco. Recomendo uma leitura mais tranquila e pausada, para um melhor aproveito.