Desde que conheci Cinder no Goodreads ano passado fiquei intrigada com a mistura dos gêneros. Distopia com ficção científica que ainda faz ilusões a personagens de contos de fadas. Muitos elementos que se não fossem usados com cuidado poderiam resultar em uma mistura trágica. Foi com imensa felicidade que soube que a Rocco lançaria o livro e por isso não hesitei em solicitá-lo. Marissa Meyer não só conseguiu uma história única e criativa como fascinante, bela e intrigante. Um bálsamo de inovação em tempos de tão pouco coisa realmente nova.
Cinder é um ciborgue, um ser humano que por danos severos foi cirurgicamente operado e completado com peças eletrônicas e um sistema de computação que controla vários aspectos de seu corpo, além de funcionar como um computador embutido integrado a rede. Cinder se considera uma aberração. Vivendo em Nova Pequim em um pequeno apartamento com a madrasta e duas irmãs Cinder é uma excelente mecânica. Trabalha no mercado e vê todo seu dinheiro ir para a madrasta. A vida de Cinder toma um rumo inesperado quando recebe o príncipe Kai em sua banca, com um androide defeituoso em mãos. O modelo é velho e o príncipe quer sigilo sobre o conserto. Cinder aceita consertar o velho androide mesmo sabendo que Kai mentiu sobre o motivo da urgência. Nesse mesmo dia o caos varreu o mercado quando a dona da banca de pães foi recolhida pelas autoridades. Mais uma vítima da letumose, doença fatal que varre a Comunidade. Vítimas aparecem de forma aleatória por todo o mundo. Os desafortunados são recolhidos pelas autoridades para morrerem isolados. Cinder retorna para casa assustada e ainda tem que enfrentar Adri, que prepara as filhas para o baile imperial. Com mais uma de suas desculpas Adri não vai deixar ela ir ao baile. Peony, sua meia-irmã mais nova querendo fugir das chateações da mãe sai com Cinder em busca de peças no ferro-velho quando o impensável acontece: Peony está contaminada.
Com medo e impotente Cinder vê a melhor meia-irmã ser levada para morrer. Culpando-a e como meio de punição Adri oferece Cinder como cobaia de testes para a cura da letumose. Levada a força, será usada e desmontada. Cinder não imagina o que vem por ai e como sua vida vai mudar para sempre...
Para dizer de forma simples a base do enredo é essa, afinal de fosse discorrer sobre todos os pontos fascinantes do livro ficaria longo demais. A história de Cinder e do mundo é desenvolvida de forma cadenciada e harmoniosa. Meyer construiu uma história com várias vertentes e introduziu pouco a pouco uma trama intrincada e bem articulada que passeia com destreza pela ficção científica, trata de intrigas políticas, preconceitos e constrói um universo distópico fascinante e único, com sub tramas interessantes e interligadas. A ambientação é rica e vívida sem mencionar inovadora. Desde a Comunidade Oriental passando pelo cenário mundial que sofreu graves alterações até a surpreendente população Lunar.
Cinder é uma protagonista forte, inteligente, independente, mas dolorosamente consciente de sua condição sendo até muito dura consigo mesmo e com uma personalidade que confere a sua narração um tom realista e perfeito para revelar ao leitor esse futuro assombroso da raça humana. Como ciborgue Cinder está em uma das classes mais baixas de ser vivente, sendo desprezado pelos humanos e sofrendo diariamente com sua condição "monstruosa". O desenrolar da história é um revelar para Cinder. A autora acertou ao lançar pouco a pouco as peças da trama entrelaçando a história do príncipe Kai a de Cinder de maneira genuína. Uma heroína que não deixou seus sentimentos interferirem no seu julgamento, mesmo sofrendo enxerga com clareza as escolhas que cada um tem de fazer. Os personagens são todos muito bem delineados, com personalidades cativantes e que conquistam o leitor de primeira. Sendo notável a delicadeza com que Meyer desenvolve a androide Iko e mais ainda beleza solitária, quase triste que dá a Cinder em suas ações e relacionamentos.
Leitura rápida, instigante e enternecedora que nos prende de maneira única. Universo denso com personagens complexos e história refrescante. Meyer utilizou muito bem a estrutura do conto de fadas e nos presenteou com uma Cinderela ciborgue imperdível. Com um final que deixe qualquer um morrendo de ansiedade e cheio de perguntas, e querendo mais detalhes desse futuro assombroso. A edição da (...)
Termine o último parágrafo em: http://www.cultivandoaleitura.com/2013/06/resenha-cinder.html