Tipos de perturbação

Tipos de perturbação Lydia Davis




Resenhas - Tipos de perturbação


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Alê | @alexandrejjr 30/07/2020

Perturbado sim, satisfeito não

A verdade é que desconheço profundamente a tradição estadunidense de literatura. Sou adepto do que é produzido pelos latino-americanos e pelos europeus clássicos como franceses, ingleses, russos e espanhóis. Tampouco lembro em que momento cheguei neste livro, mas tendo a acreditar que foi devido à esquisitice do título: "Tipos de perturbação". Li um pouco sobre a autora e resolvi encarar, mas a experiência não foi das melhores.

Lydia Davis é conhecida pela precisão de suas narrativas breves e "desconcertantes", de acordo com matérias que li na época. No entanto, ao terminar o livro senti uma estranha sensação de vazio e indiferença. A maior parte do que está ali não provocou absolutamente nada em mim durante a leitura. Pareciam textos jogados no papel que foram apresentados a algum editor insano e este, por sua vez, resolveu publicar. Chegar na última página me fez desconfiar a respeito de todos os elogios. Mas calma. Apesar de sair decepcionado, Lydia Davis entrega aos leitores, paradoxalmente, lampejos de genialidade, o que talvez faça valer a leitura de seus textos.

Em seus melhores momentos Lydia é realmente sublime. São textos curtíssimos, muitas vezes compostos de frases ou de apenas um parágrafo, nomeados com títulos chamativos como "Colaboração com a mosca", "Ideia para um documentário de curta-metragem", "Conhecendo seu corpo" e "Distraída". Neles as ideias ganham vida e a tal perturbação do título da capa acontece. Além desses, alguns poucos textos médios e mais longos são realmente brilhantes, como a emulação do estilo kafkaniano de "Kafka prepara o jantar", o híbrido estranho de "Saudades: um estudo de cartas escritas por alunos de uma classe do quarto ano primário desejando melhoras a um colega", que faz uma espécie de ensaio sobre uma ficção, ou ainda o total absurdo de "A queima de membros da família". Dentro do desconexo conjunto de narrativas deste livro, esses textos se sobressaem e divertem.

É claro que eu não iria deixar de destilar meu ódio em três textos inacreditavelmente chatos, sem ritmo e desinteressantes. São eles: o interminável "Helen e Vi: um estudo sobre saúde e vitalidade"; "Rumo ao sul, lendo Pioravante marche", que tem sua única virtude no título; e, por último mas não menos irritante, "Diário de Cape Cold".

Infelizmente "Tipos de perturbação" é um livro muito irregular, que pode ir do trivial ao genial em apenas uma virada de página. Acredito que vale perder um tempo com a Lydia Davis, afinal a literatura possui infinitas possibilidades, mas faça isso somente se conseguir um belo desconto ou ganhar o seu exemplar de presente de um amigo - ou, quem sabe, até de um inimigo.
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Toni 25/09/2018

Na economia dos textos literários, quanto menos se diz, mais se exige que o leitor “““complete””” o texto (bem entre aspas mesmo). Basta lembrar aquele conto de Augusto Monterroso, um dos mais curtos da história da literatura: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”. As ficções da estadunidense Lydia Davis não fogem à regra e parecem fazer da mesma regra gato e sapato. Nos 57 textos reunidos em Tipos de perturbação a heterodoxia se faz norma, do microconto a longas e complexas paródias de estudos acadêmicos, do chiste ao aforismo, do epigrama à lista de empregadas domésticas de uma contista, de ideias anotadas num pedaço de papel à análise comparativa das vidas de duas mulheres idosas (uma filha de pais afro-americanos, outra de pais imigrantes suecos).
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Há muito pouca heterodoxia, no entanto, na corrente freática que atravessa todas as páginas dessas ficções: cada narrativa revela, subrepticiamente, insuficiências emocionais, o abandono de si em momentos de insegurança, a fragilidade dos predicados da linguagem. São textos que desassossegam tanto pela via do tédio no caso das narrativas mais longas (uma crítica ao estilo técnico-engessado de estudos universitários), quanto pela via do desconforto nos fragmentos mais breves: exemplos do descompasso em que vivemos — sem tempo para ouvir o outro, mas ávidos por histórias profundas e sentimentos verdadeiros.
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"SOLITÁRIA
Ninguém me liga. Não posso verificar se tem recado na secretária porque não saí de casa. Se eu sair, talvez alguém ligue enquanto estiver fora. Aí poderei checar se há recados quando voltar." (p. 101)
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cacai 03/02/2018

Lydia Davis nos mostra que uma boa história não precisa de enredos fantásticos ou de minúcias descritivas que se prolongam por várias páginas - não que obras deste tipo não sejam ótimas também. O simples pode ser fantástico.
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GilbertoOrtegaJr 22/11/2014

Tipos de Perturbação – Lydia Davis
Tipos de Perturbação da contista norte americana Lydia Davis segue a linha de contos experimentais, são cinquenta e sete contos, a maioria são de contos pequenos, porém tem alguns maiores. Um dos pontos mais interessantes é a quebra de um dos padrões primordiais de qualquer narrativa começo, meio e fim, pelo contrário os contos lembram fotografias no sentido de pegar pequenos recortes do dia a dia.

Os temas para os contos podem até ser recortes cotidianos, mas os pontos de vista, ou estilo de narrativa da autora porém passam longe do obvio, me deixando fascinado como a forma como cada conto depois de acabado me deixa com a impressão de que foi trabalhado detalhadamente até atingir um nível artístico.

Saudades: um estudo de cartas escritor por alunos de uma classe de quarto ano primários desejando melhoras a um colega apesar de ser irritantemente longo (minha dica é não leia ele antes de dormir se você está realmente afim de dormir o mais rápido possível) é o meu conto favorito, nele a autora analisa cartas escritas pelos alunos de uma sala desejando melhoras a um colega doente a mando do professora, a autora faz uma análise de personalidade, estilo de escrita e outras minucias de cada aluno, como um verdadeiro estudo linguístico.

Colaboração com a mosca por sua vez é minúsculo, duas linhas, onde uma mosca pousa ne uma palavra transformando assim em acento gráfico. Ideia para um documentário de curta metragem é outro dos contos mínimos o conteúdo do conto é: “Representantes de diversos fabricantes de produtos alimentícios tentando abrir suas próprias embalagens.” Também entra nesta mesma linha o conto Solitária: “Ninguém me liga. Não posso verificar se tem recado na secretaria eletrônica porque não saí de casa. Se eu sair, talvez alguém ligue enquanto estiver fora. Aí poderei checar se há recados quando voltar.”

Enquanto os contos pequenos são focados, não acredito que isso seja intencional, em recortes cotidianos que pode acontecer com qualquer um, os grandes são situações que parecem fugir da normalidade; Coisas que descobrimos a respeito do bebê é quase um estudo de como a chegada de um filho novo muda a vida da sua mãe em pequenas coisas que vistas rapidamente podem parecer normal, Kafka prepara o jantar é um conto sobre o que o próprio nome revela o escritor angustiado diante da escolha de um prato para o jantar com uma mulher, A senhora D e suas empregadas é uma espécie de inventario sobre a relação de uma dona de casa com as várias empregadas que passaram pela sua casa e as respectivas frustações causadas a cada troca de empregada, Helen e Vi: um estudo sobre a vitalidade é um conto que tem como base a comparação de vários pontos da vida de duas senhoras de idades.

Em Tipos de Perturbação a palavra de ordem parece ser diversão os contos são engraçados e sempre inusitados, apesar dos que são mais curtos me deixarem com a impressão de que me envolvi menos. É após ler o livro e ver as várias situações criadas por Lydia Davis que dá para entender como foi que a autora ganhou o Man Booker Prize 2013.



site: http://lerateaexaustao.wordpress.com/2014/11/23/tipos-de-perturbacao-lydia-davis/
Ladyce 22/11/2014minha estante
Parece fascinante. Não sou uma de contos. Mas acho que vou ler esse... Obrigada




jota 26/12/2013

Uma mosca a perturbar sua sopa
São 57 textos, ou ficções, de diversos tamanhos versando sobre assuntos bastante variados. Que vão desde uma mosca que pousa sobre um texto e ali coloca um acento, em “Colaboração com a mosca”, que contem apenas duas linhas, até um alentado “estudo” de quase trinta páginas denominado “Saudades: um estudo de cartas escritas por alunos de uma classe do quarto ano primário desejando melhoras a um colega.” Ufa!

O editor da Companhia das Letras chama nossa atenção na apresentação do livro de Lydia Davis - que recebeu elogios tanto do escritor Dave Eggers (de Uma Comovente Obra de Espantoso Talento) quanto do colega Jonathan Franzen (de Liberdade e As Correções) – para o aspecto kafkiano de certos textos, também de certa semelhança com a literatura de Cortázar e mesmo, quando Davis trata de temas conjugais, da concisão irônica de nosso Dalton Trevisan.

Tudo certo quanto a isso, mas também acredito que quem leu Breves Entrevistas com Homens Hediondos, de David Foster Wallace, e que nunca vai se esquecer daquelas gigantescas notas de rodapé que ocupavam páginas e mais páginas do livro, e apreciou tudo aquilo, vai matar as saudades com “Rumo ao sul, lendo Pioravante marche”, que apresenta suas indefectíveis notinhas mas felizmente não é tão longo, somente um tanto confuso.

Não são apenas as notas de rodapé de “Rumo ao sul...” que lembram o estilo de DFW, mas muitos dos textos “perturbados” que Davis nos apresenta aqui. É possível até mesmo estabelecer algumas conexões com as histórias que Thomas Bernhard conta em O Imitador de Vozes.

Bem, cada leitor tem seu encontro com os livros e é perfeitamente aceitável que alguns considerem as ficções de Davis tremendamente confusas ou aborrecidas enquanto outros as considerem geniais, renovadoras da literatura. Assim como seriam os livros de DFW. Ou são, conforme certos críticos.

Mas se você deseja ler umas boas histórias para passar o tempo, se distrair, se emocionar ou sentir prazer que não seja apenas de ordem intelectual, aprecia mais conteúdo e nem tanto assim forma, talvez seja melhor ficar longe das “perturbações” de Lydia Davis. Porque elas podem ser provocações, isso sim. E isso seria ruim?

Lido entre 23 e 26/12/2013.
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Felipe 07/08/2013

Tipos de perturbação
O livro de Lydia Davis não é, definitivamente, para o leitor acomodado. Aquele que gosta de tudo bem explicado, linear, tradicional, corre o risco de achar este livro esquisito ou chato. Mas não é. Leio muito, gosto de vários gêneros, e não é todo dia que um livro me surpreende. E não digo no sentido de revilravoltas rocambolescas, tramas estapafúrdias, assassinatos inesperados, nada disso. "Tipos de perturbação" surpreende pela prosa, pelo uso das palavras, pela capacidade de Davis em subverter gêneros, em misturar contos, micro-histórias, aforismos e frases soltas em um livro que, ao contrário do que seria mais próvavel, é coerente.
A visão que a autora tem das coisas é unica, ela passa seu pente fino e nos entrega algo inesperado, íntimo, que passaria incólume, sem que isso denote uma falta de relevância.
"Tipos de perturbação" não perturba, apesar de tudo. Desafia. E é muito melhor justamente por isso.
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