jota 26/12/2013Uma mosca a perturbar sua sopaSão 57 textos, ou ficções, de diversos tamanhos versando sobre assuntos bastante variados. Que vão desde uma mosca que pousa sobre um texto e ali coloca um acento, em “Colaboração com a mosca”, que contem apenas duas linhas, até um alentado “estudo” de quase trinta páginas denominado “Saudades: um estudo de cartas escritas por alunos de uma classe do quarto ano primário desejando melhoras a um colega.” Ufa!
O editor da Companhia das Letras chama nossa atenção na apresentação do livro de Lydia Davis - que recebeu elogios tanto do escritor Dave Eggers (de Uma Comovente Obra de Espantoso Talento) quanto do colega Jonathan Franzen (de Liberdade e As Correções) – para o aspecto kafkiano de certos textos, também de certa semelhança com a literatura de Cortázar e mesmo, quando Davis trata de temas conjugais, da concisão irônica de nosso Dalton Trevisan.
Tudo certo quanto a isso, mas também acredito que quem leu Breves Entrevistas com Homens Hediondos, de David Foster Wallace, e que nunca vai se esquecer daquelas gigantescas notas de rodapé que ocupavam páginas e mais páginas do livro, e apreciou tudo aquilo, vai matar as saudades com “Rumo ao sul, lendo Pioravante marche”, que apresenta suas indefectíveis notinhas mas felizmente não é tão longo, somente um tanto confuso.
Não são apenas as notas de rodapé de “Rumo ao sul...” que lembram o estilo de DFW, mas muitos dos textos “perturbados” que Davis nos apresenta aqui. É possível até mesmo estabelecer algumas conexões com as histórias que Thomas Bernhard conta em O Imitador de Vozes.
Bem, cada leitor tem seu encontro com os livros e é perfeitamente aceitável que alguns considerem as ficções de Davis tremendamente confusas ou aborrecidas enquanto outros as considerem geniais, renovadoras da literatura. Assim como seriam os livros de DFW. Ou são, conforme certos críticos.
Mas se você deseja ler umas boas histórias para passar o tempo, se distrair, se emocionar ou sentir prazer que não seja apenas de ordem intelectual, aprecia mais conteúdo e nem tanto assim forma, talvez seja melhor ficar longe das “perturbações” de Lydia Davis. Porque elas podem ser provocações, isso sim. E isso seria ruim?
Lido entre 23 e 26/12/2013.