Angela 17/10/2012
Maravilhosamente perturbador.
Antes de falar propriamente de O Império do Sol, quero explicitar o quão é diferente as vivências, visões e consequências de uma guerra que assolou todo um mundo.
Eu vi em A Chave Para Rebeca uma guerra de conspirações, trapaças, jogos de sedução em que as grandes perdas e as grandes vitórias se conseguiam através do quanto você é inteligente, sagaz, endinheirado e o quanto vc se dava bem com a população nativa.
No livro de J. G. Ballard tudo e todos são atingidos por uma guerra apocalíptica.
Somos levados a entrar nas atrozes experiências de um rico e mimado garoto inglês que, iniciada a guerra com a invasão japonesa na China, se perde dos pais e se vê rodeado pelas mais profundas e perturbadoras visões de miséria humana.
É um livro emocionalmente difícil, pois, pelo menos em mim, deixou muitas reflexões acerca do quanto é estranho o ser-humano e suas prerrogativas.
Como é estranho o acostumar-se humano.
Em ambos os livros é a mesma guerra, porém neste de Ballard, ela é mais visceral, mais nua, tem pus.
No livro de Ken Follet a guerra até parece um grande espetáculo de esgrimistas.
Temos de levar em conta o temperamento do povo. No de Follet temos os egipcios, indolentes, malandros, negociantes... na descrição até se assemelham um pouco com o povo brasileiro.
Agora em Xangai, os chineses são um povo destroçado, arruinado, apáticos e são levados de acordo com quem está no poder. Os ingleses os maltratam, depois os japoneses, depois os norte-americanos e, por fim, os próprios chineses através da ascensão dos kuomitang e da reforma.
Sei que fiz muita digressão, mas afirmo que este livro deve ser lido, relido, pensado e repensado.
As memórias de guerra de Jamie são excruciantes e o são porque vemos uma criança e, após os anos, um pré-adolescente enlouquecer aos poucos ao ponto de se acostumar com a destruição que o cerca.
Jim, aos poucos, se transforma em um prisioneiro que, após anos sobrevivendo preso e acorrentado ao suplício, quando se livra disso não vê sentido na vida.
Vale a pena demais ser lido.
Recomendadíssimo.