Memórias do cárcere

Memórias do cárcere Graciliano Ramos




Resenhas - Memórias do Cárcere


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Fabio Shiva 20/08/2020

“O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que futuro nos reservariam?”
“Memórias do Cárcere” é um livro autobiográfico, que relata os dez meses que o autor passou como prisioneiro político em 1936, durante as agitações que antecederam a ditadura de Getúlio Vargas, que foi de 1937 a 1945. Quando lemos essa obra magnífica em meio ao turbilhão político e ideológico em que vivemos atualmente, o que primeiro salta aos olhos é o quanto o fascismo tem história no Brasil, a ponto de poder ser considerado uma verdadeira tradição brasileira. Muitas das pavorosas cenas descritas no livro, para meu grande espanto, poderiam estar acontecendo nos dias de hoje. Por esse motivo, boa parte da leitura foi destinada a reflexões sobre o que é o fascismo e sobre o porquê do fascismo ser tão atrativo para nós, brasileiros.

A palavra “fascismo” deriva do italiano “fascio”, que significa “feixe de varas”. A ideia básica por trás desse nome é a de que uma única vara ou graveto pode ser facilmente quebrada, mas um feixe de varas torna-se difícil de quebrar. Notem como essa ideia, em si, traduz algo não somente verdadeiro, como belo também: “a união faz a força”.

O problema só começa quando o fascismo substitui a palavra “união” pela palavra “maioria”, afirmando que a maioria é soberana e que as minorias devem se curvar à vontade da maioria. À primeira vista, essa parece ser uma ideia perfeitamente lógica e até justa. Só que o passo seguinte e imediato do fascismo é utilizar a força do feixe para quebrar os gravetos isolados. Ou seja: utilizar a força da maioria para fazer calar e até destruir as minorias. E aí é que nós percebemos o poder das palavras que expressam as ideias, e como uma sutil troca de palavras pode se tornar extremamente perigosa.

Pois o fascismo começa afirmando que a união é boa. Ninguém tem como discordar dessa afirmação. Mas daí vem o fascismo e diz que a união da maioria é boa. E antes que tenhamos tempo de decidir se essa afirmação é válida, o fascismo já está dizendo que a maioria é boa, e logo em seguida que só a maioria é boa. E assim, em um piscar de olhos, o fascismo já está usando a força da maioria para perseguir as minorias. Notem que o que começou afirmando a força da união rapidamente se torna um poder destrutivo, que provoca o ódio e, justamente, a desunião.

Sabem uma imagem que representa o fascismo melhor que a do feixe de varas? É a de um valentão truculento e autoritário, que quer resolver qualquer diferença de opinião com a força dos músculos, na porrada. Essa imagem do valentão nos ajuda a entender que o fascismo não trata de união, nem sequer de maioria, mas única e exclusivamente de força. O fascismo, em resumo, é o culto à lei do mais forte.

E aqui eu evoco a sabedoria de meu mestre de capoeira, Mestre Tyko Kamaleão, quando ele fala do “pseudo-valentão”:

“O pseudo-valentão é aquele que se coloca como um homem valente, mas que deixa ver, escondida por debaixo da casca do personagem, uma criança medrosa, pedindo proteção e carinho.” (Mestre Tyko Kamaleão)

Todo fascista é um pseudo-valentão. Não é uma pessoa forte, mas alguém que se finge de forte, porque no fundo sente muito medo. E quem tem medo, agride o outro. Mas o que é que, afinal, assusta tanto o fascista? É justamente a diferença. O fascista percebe a diferença como uma ameaça direta à sua existência. Pois ele tem medo que, no fundo, o diferente seja melhor do que ele. O ódio do fascismo à diversidade é mais facilmente explicável quando substituímos a frase “não pode haver ninguém diferente de nós” por “não deve haver ninguém melhor do que nós”. Esse é o medo por trás da violência fascista.

Como toda minoria nada mais é que um grupo de pessoas que age ou pensa de forma diferente da maioria, o fascismo acaba se tornando uma máquina inventada para perseguir as minorias, em nome de um complexo de inferioridade de uma maioria medíocre. É esse um retrato do Brasil de Graciliano Ramos que, infelizmente, ainda reflete boa parte do Brasil de hoje.

“Memórias do Cárcere”, publicado em 1953, como obra póstuma, e logo se tornou o maior sucesso de vendas do autor. Em 1984 a obra foi transformada em um filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos (https://youtu.be/p0Gy67_6kJc).

A primeira vez que li esse livro, aos 14 anos, me marcou profundamente. E só 30 anos depois, ao reler essas “Memórias”, foi que tive a verdadeira dimensão do impacto provocado em mim pela força da personalidade e da prosa de Graciliano Ramos. Pois só então percebi o quanto o homem e o escritor que sou inconscientemente se espelharam na severa figura parental projetada pelo “velho Graça”: o que será que ele diria de meus escritos?

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/08/memorias-do-carcere-graciliano-ramos.html


“Realmente a desgraça nos ensina muito: sem ela, eu continuaria a julgar a humanidade incapaz de verdadeira nobreza.”

“Nunca eu me vira sem ocupação: enxergava na preguiça uma espécie de furto.”

“O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que futuro nos reservariam?”

“Por que desprezá-los ou condená-los? Existem – e é o suficiente para serem aceitos.” (sobre os homossexuais)

“Vemos um sujeito sem as unhas dos pés, sabemos que elas foram arrancadas a torquês, e a nossa curiosidade não vai além; os sofrimentos findaram, as unhas renascerão, a memória da vítima se embotou; horrível é imaginarmos a redução de uma criatura com tenazes quando pensamos nela, exatamente quando pensamos nela.”

“Não nos revolta a safadeza, revolta-nos a estupudez.”

“Todos em roda estavam assim, firmes, de braços cruzados, impassíveis. Nenhum sinal de protesto, ao menos de compaixão. Também me comportara com essa horrível indiferença, como se assistisse a uma cena comum. Éramos frangalhos; éramos fontes secas; éramos desgraçados egoísmos cheios de pavor. Tinham-nos reduzido a isso.”

“Vocês não vêm corrigir-se, estão ouvindo? Não vêm corrigir-se: vêm morrer.” (fala de um dos guardas da colônia correcional)

“Ali no canto da sala enorme, à direita, os nossos receios se limitavam: desapareceríamos daquele jeito, iguais ao Neves, a Domício Fernandes, ao negro ansioso que pedia uma injeção de morfina. Essa perspectiva de nenhum modo era desagradável; tínhamos imaginado torturas, a chama do maçarico devastando carnes, e o consumo lento, a inanição, quase nos surgia como favor.”

“José Lins é memorialista, o grande mérito dele é haver exposto, nua e bárbara, a vida nos engenhos de açúcar; é uma enorme força que se esvai fora de seu âmbito.” (sobre José Lins do Rego)

“A imaginação de Jorge os encantava, imaginação viva, tão forte que ele supõe falar a verdade ao narrar-nos existências românticas nos saveiros, nos cais, nas fazendas de cacau.” (sobre Jorge Amado)

“Era coisa prevista, imaginada sempre, mas o jeito de fazer o enterro, a mudança de uma criatura humana em pacote jogado fora sem quebra da rotina, expôs-me com horrível clareza à insignificância das nossas vidas.”

“O Governo se corrompera em demasia; para aguentar-se, precisava simular conjuras, grandes perigos, salvar o país enchendo as cadeias.”

“O temor às vezes nos leva a temeridades, empresta às nossas ações aparência falsa de coragem.”

“Impossível conceber o sofrimento alheio se não sofremos.”

“A perspectiva de liberdade assustava-me. Em que iria ocupar-me? Era absurdo confessar o desejo de permanecer ali, ocioso, inútil, com receio de andar nas ruas, tentar viver, responsabilizar-me por qualquer serviço.”

“Apareciam-me de longe divergências em esboço, e éramos forçados a reconhecer que ninguém tinha culpa. Estávamos feitos daquele jeito, cada um de nós estava feito de certo modo – e em vão tentávamos explicar uns aos outros que a leitura de um artigo não nos transformava.”



site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Elyene 21/08/2020minha estante
Uma aula em forma de resenha ?? Colocar na lista pra ler!


Fabio Shiva 21/08/2020minha estante
Oi, Elyene! Gratidão por seu comentário e por essa energia boa! Leia sim, que é uma obra-prima de nossa Literatura!


Wallace 16/11/2021minha estante
Bastante interessante o seu comentário. O mais interessante nesse tema do fascismo brasileiro é como um presidente ditatorial é visto como modelo de presidencialismo pelo ex-presidente da república Lula e tantos outros políticos da esquerda brasileira, como Ciro Gomes, por exemplo. A esquerda, em geral, ama o Getúlio. É algo para ser estudado com cuidado.

Termino esse post com um trecho do do Diário Completo do grande escrito Lúcio Cardoso:

"Leitura: Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos. Não posso, não tenho forças para gostar de livros assim -a modéstia do autor é falsa e o que ele viu e aprendeu durante o período de sua prisão, restrito e superficial. Não há uma visão inteira do homem, mas de seu lado mais imediato- é uma projeção física e não interna. Espanta-me que se possa comparar este livro com A Casa dos Mortos de Dostoiévski. A diferença é fundamental: um é o ponto de partida em que um escritor acha o Cristo e descobre o homem em sua profundidade - o outro é o ponto de chegada de um autor visceralmente materialista."


Cristiane ð 21/06/2022minha estante
A ilha grande me fez querer ler é essa resenha me convenceu! ???


moraes_psi 30/01/2024minha estante
Achei boa a colocação do Fábio, mas também excelente o complemento da colocação do colega Wallace (aqui dos comentários).
Eu gosto do Graciliano e respeito muito as dores em que passou descritas e mesmo seu posicionamento. Mas ele, ainda em vida, assistiu os horrores da esquerda em países do Leste Europeu e teve tempo suficiente pra encontrar lá também o totalitarismo extremamente violento do qual narrou. Vindo de grupos que depois foram base pra criação do Partido dos Trabalhadores e do comunismo de Cuba. É preciso separar o artista de seu posicionamento, mas pra mim é mais difícil quando há uma clara hipocrisia. É diferente de quem não viu onde sua ideologia chegou, como os autores do socialismo frances do século XIX.

E isso tudo é diferente de posição e polarização, são fatos e sensatez, principalmente se vier de nós, uma geração que viu os Muros de Berlim cairem e mesmo assim vão lá e colocam no poder partidos cúmplices. Graciliano Ramos era um excelente escritor da nossa literatura, pena que faltou sensibilidade em sua posição política. Mas não tiro seu sifromento, já que Getúlio se aproveitou da Guerra Fria para promover sua sede de poder.
Que Deus tenha piedade de nós.




Elizabeth 30/06/2022

Dor
O livro me faz lembrar que não podemos esquecer de ler sobre nossa história. Para não repetir. Sempre pesquisar antes de dar opinião.
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Arsenio Meira 25/08/2012

Leitura inesquecível. Uma porrada. Um retrato do nosso país, o drama de um homem público íntegro, um intelectual honesto, um grande e invencível escritor.
Arsenio Meira 09/08/2013minha estante
É verdade, Felipe. Às vezes pesa um pouco, mas é um painel fiel de um fato grave que marcou não só Graciliano, mas diversas pessoas que pensavam diferente. Toda e qualquer ditadura é a morte de tudo. Concordo contigo também. O "Memórias" merece 5 estrelas. Abraços




Felipe 27/07/2023

Graciliano foi único na história brasileira. Não é apenas um livro sobre o tour de prisões que culminou no Rio de Janeiro. É sobre a visão de um homem absurdamente analítico (e paradoxalmente um bruto sensível) tendo contato com figuras das mais variadas. A forma que Graciliano utiliza é a única possível para esse relato. Mergulha-se no cimento.
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Daisy 08/06/2022

👎Racismo e homofobia
🔵 Meu primeiro contato com Graciliano Ramos foi no Ensino Médio com “São Bernardo” (1934). Muitos anos depois li o mais famoso dos seus livros, “Vidas Secas” (1938). Dessas leituras, ficou a memória de uma excelente escrita, o que me fez, em 2021, escolher “Memórias do Cárcere” (1953) para leitura de um clássico nacional e que, “de quebra”, abordava um assunto que buscava conhecer mais: a Ditadura Vargas. O resultado foi decepcionante. As curiosidades históricas ficaram em segundo plano quando me deparei com sucessivos comentários racistas e homofóbicos ao longo das mais 700 páginas do livro. Inicialmente, cogitei abandonar a leitura, mas tomei a decisão de continuar após identificar, em uma rápida pesquisa na internet, que não havia uma análise da obra que destacasse como os negros e os homossexuais são retratados pelo escritor.

🔴 Eis um dos trechos racistas: “Atazanavam-me as brincadeiras dela, expostas ao negrinho descarado, horrivelmente feio. Uma espécie de macaco, e às vezes me espantava de que o mostrengo pudesse falar. A cabeça era uma insignificância, os dedos curtos e nodosos mexiam-se como se estivesse a manejar o revólver nas matas de Piraí. Um bicho. (...) A figura simiesca irritava-me. (...) – Como diabo se interessa você por um bicho como esse? Nise continuava a rir, a atacar-me. E Pai João andava em roda, aos pulinhos, rombo e torpe, a grunhir, repetindo as palavras: Furtou, furtou. Uma vez não me contive: -Sabe que não gosto dessas intimidades? – Hem, fungou o animal, desfranzindo o riso parvo”.
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André Vedder 15/05/2023

Mais do que apenas memórias...
Graciliano transforma um relato de seus 10 meses presos em literatura da mais alta qualidade. Com uma escrita ímpar, que nos faz recorrer ao dicionário frequentemente, o autor consegue descrever seus sentimentos e detalhar todas as agruras sofridas em uma narrativa que nos leva para dentro de sua cabeça.
Mais do que apenas memórias de um tempo sombrio, Graciliano nos brinda com um tratado sobre a psicologia humana e sua volubilidade perante situações adversas.

"As conveniências de um grupo social conduzem às vezes um indivíduo a sacrifícios."

"Precisamos viver no inferno, mergulhar nos subterrâneos sociais, para avaliar ações que não poderíamos entender aqui em cima. Dar de beber a quem tem sede. Bem. Mas como exercer na vida comum essa obra de misericórdia?"

"Às vezes não queremos saber se nos comportamos bem ou mal; procedemos assim por não nos ser possível proceder de outra maneira; a violência animal nos impele e domina."

"Éramos frangalhos; éramos fontes secas; éramos desgraçados egoísmos cheios de pavor. Tinham-nos reduzido a isso. Qual a razão daquela ferocidade?"

“O temor às vezes nos leva a temeridades, empresta às nossas ações aparência falsa de coragem.”

“Impossível conceber o sofrimento alheio se não sofremos.”

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Accioly 19/06/2010

Uma Pancada Necessária
A sua vida está uma maravilha? Sem problemas para resolver? Então é chegada a hora, pegue seu Memórias do Cárcere (e seus gigantescos dois volumes, quatro dependendo da edição) e prepare-se para receber um relato cru e indigesto sobre a experiência de Graciliano Ramos entre os presos políticos (e comuns) da Era Vargas. Este, sem dúvida, é o grande mérito da obra: mostrar sem rodeios, exageros ou omissões a rotina de ociosidade forçada destinada aos presos políticos. Em certos trechos do relato, o leitor será contagiado pelo tédio reinante; em outros, ficará angustiado com o ambiente insalubre e claustrofóbico descrito pelo autor (confesso que quase abandonei o livro durante a incômoda descrição da viagem no porão do navio-prisão Manaus).

Ora, por que ler um livro que traz à tona sentimentos tão ruins? Em primeiro lugar, há de se reconhecer a precisão do autor em passar aos leitores exatamente estes sentimentos. Em segundo, o relato nos mostra como a vida de pequenas e simples pessoas pode ser duramente afetada por arbítrios governamentais se não se garantem direitos básicos ao indivíduo. A construção desta memória é importantíssima para evitar que no futuro pessoas sejam presas, submetidas à agruras sem sequer serem acusadas formalmente por algum crime. Acredito que quanto mais brasileiros tiverem acesso à estas memórias do cárcere, mais afastados estaremos de aventuras autoritárias.
Toni 11/08/2009minha estante
ainda não li as memórias do ramos, mas lembro que enquanto lia o texto-mais-ou-menos de 'Olga', a única parte que realmente me emocionou foi Graciliano Ramos, coadjuvante, perambulando pelas celas com o caderninho que se transformaria nas memórias do cárcere debaixo do braço. desde então sou doido pra lê-lo, mas a oportunidade ainda não chegou. =D excelente resenha, siñor. ambas o são, verdade seja dita. =D


Professor_estudante 13/09/2011minha estante
Faz tempo que li esse livro, e foi somente o 1º volume, mas gostei muito. Muito boa a resenha.




kel59 05/12/2022

Foi difícil essa leitura. Me perdi em tantos momentos...
Mas essa autobiografia é sensacional. O livro é tão bem detalhado, ele expõe mesmo a perversidade do sistema carcerário e escreve isso duma maneira tão clara. Não vou negar que é complexa essa psicologia de Graciliano. Também não vou negar que facilita muito o livro ser rico em detalhes. Tá aí um clássico que todo mundo devia ler.
Correspondeu a todas as minhas expectativas!
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Ed Carvalho 07/10/2021

Que livro!!!
Eu já não sou mais a mesma pessoa após ler Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos. Encantei-me com o relato da confusa e injusta prisão, sem julgamentos e sem justificativas, no sistema que ele denominou de "pequeno fascismo tupiniquim". Em momento algum monótono ou maçante, o autor floreia com mesóclises e eloquência os relatos de convívio com diversas personalidades contrastantes, em porões imundos, sob condições desumanas e autoritarismo sem sentido. Abordando temáticas ora sutis ora polêmicas, como racismo, homossexualidade e politicagem, Ramos descreve de modo loquaz e magníloquo um dos muitos momentos absurdos de nossa história, desmascarando de certa forma o mito popular do governo Vargas. Achei um dos melhores livros da literatura nacional dos que já li e olha que ainda nem iniciei o volume 2.
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Guilherme 14/10/2020

Recomendadíssimo
Muitos motivos para recomendar esse livro:
1) O modo como Graciliano enxerga e conta os acontecimentos é o diferencial.
2) Quem está estudando português (por qualquer motivo que seja) vai encontrar aqui uma aula de como escrever bem, além de aprender várias palavras pouco conhecidas do cotidiano.
3) O livro é grande mas os capítulos curtos o torna ótimo pra quem quer iniciar ou reiniciar o gosto pela leitura diária.
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ELIZ 09/01/2020

Muito denso e que te faz sentir náuseas.
As memórias nem sempre são felizes, mas saber contá-las é um talento para poucos. Você sente cada linha escrita dentro de vc, mistura de angústia, revolta, o ser humano esvair de sua dignidade, ter vergonha de si. Impossível não entrar na história.
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Raquel Lima 05/01/2010

Noossa!
Li este livro há muito anos, nem tinha colocado como lido, porque não lembrava mais de nada. Mas agora, influenciada, pela tristeza que a Ilha grande nos proporciounou peguei para ler novamente. Meu Deus!...Gracialiano consegue nos manter preso as suas celas, seu nojo, o cheiro...não somente o asco das podridões da cadeia, mas da vida naquele momente. Vou correndo ler o segundo.
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Nélio 26/04/2020

“O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que futuro nos reservariam? Provavelmente não havia lugar para nós, éramos fantasmas, rolaríamos de cárcere em cárcere, findaríamos num campo de concentração. Nenhuma utilidade representávamos na ordem nova. Se nos largassem, vagaríamos tristes, inofensivos e desocupados, farrapos vivos, fantasmas prematuros; desejaríamos enlouquecer, recolhermo-nos ao hospício ou ter coragem de amarrar uma corda ao pescoço e dar o mergulho decisivo. Essas ideias, repetidas, vexavam-me; tanto me embrenhara nelas que me sentia inteiramente perdido.”

“Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos, não foi um livro de leitura fácil, mas agradou, além de ser uma etapa cumprida dos meus planos, claro! Há passagens que nos levam a dúvidas se faltaram revisões ou se eram para ficar assim... Até poderia ser feita uma outra leitura em grupo, quem sabe... Como o autor foi-se antes de terminar a escrita dele – e, provavelmente, uma última revisão -, só nos resta aproveitar o que está aí.
Enquanto relato da sua vida nas prisões durante o Estado Novo, a obra nos deixa impressões terríveis de como é viver algo desse tipo em “ásperos tempos”, para parafrasear com um título de uma trilogia de livros de Jorge Amado sobre a mesma época histórica. Fome, doenças, condições insalubres e tantos outros tipos de sofrimentos sobram ao longo do longo livro.
“Quem dormiu no chão deve lembra-se disto, impor-se disciplina, sentar-se em cadeiras duras, escrever em tábuas estreitas. Escreverá talvez asperezas, mas é delas que a vida é feita: inútil negá-las, contorná-las, envolvê-las em gaze.“

Se tomamos o livro pela sua estética literária, notamos um narrador em crises – inclusive sobre sua capacidade de escritor. O livro vai além de narrar como foi a vida de quem foi preso e ficou vagando pelas cadeias sem nem mesmo merecer uma acusação ou um julgamento. Ele viveu uma condenação, e pronto. Entretanto, Graciliano se revela, se mostra em suas durezas de viver, em suas dificuldades no relacionamento com a mulher, suas incertezas e em seus temores. Nem seus filhos lhe são motivos para se pensar coisas boas... Sua literatura nascente ainda lhe causa desconfiança. E ele vai espezinhando isso até depois que seu livro “Angústia” sai pulicado e começa a fazer sucesso com ele ainda na cadeia. Nada o demove de seu pessimismo pessoal. Angústia foi escrito antes da prisão, mas o título dele é o tom que ele escolhe para seu relato escrito bem depois de sua saída da cadeia (“Resolvo-me a contar, de pois de muita hesitação, casos passados há dez anos) e só publicado depois de sua morte, em 1953.
“Era disparate desejar permanecer nela, mas assaltava-me uma grande covardia, o receio de voltar a assumir responsabilidades, a certeza de que o meu trabalho de indivíduo solitário, na ditadura mal disfarçada por um congresso de sabujos, seria pouco mais ou menos inútil. Preferível o cativeiro manifesto ao outro, simulado, que nos ofereciam lá fora. “

Um fato que foge ao tom do livro, mas que é rico, é a percepção dele das diferentes formas de falar. Ele ficava muito incomodado quando ouvia um uso de pronomes fora da norma culta. Os diferentes portugueses que falamos no nosso grande país chamava sua atenção a ponto de ele não perder esses “detalhes” de vista.
Realmente, não foi uma leitura agradável, prazerosa como a leitura de sua obra prima - para mim, pelo menos – “Vidas Secas”; mas é um livro forte que todos que reconhecem o valor da literatura na nossa formação pessoal devem ler, em algum momento da vida.
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Karinny 18/05/2021

Já imaginava me deparar com um livro duro. Graciliano não gostava de desperdiçar palavras, e se ele escreveu estas mais de 600 páginas, é porque tinha algo importante a colocar para fora. Impossível sair desta leitura sem reflexões profundas sobre a condição humana, principalmente quando a própria humanidade é colocada à prova, na ausência das condições mais básicas à preservação da dignidade.
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nery20 26/06/2023

Anacronismo
Quando lemos um livro levamos em consideração muita coisa. Além das informações contidas nele, há também nossos julgamentos, nossas vivências, nossas crenças. Nesse clássico da literatura nacional, me peguei em alguns momentos torcendo o nariz para algumas expressões que julgo racistas e homofóbicas do autor. Entendo também que não cabe anacronismo nessas situações, todavia não tem como não ter um incômodo em relação a esses temas.
Quanto ao assunto principal do livro, apesar do autor ser muito cabrunco em relação a sua autoimagem e a sobre sua escrita, ele descreve com riquezas de detalhes os diversos tipos de cárceres que passou, mostrando uma realidade das cadeias, durante o golpe militar, que a imprensa da época não reportava. Por ser um livro escrito há bastante tempo, a língua portuguesa também era muito rebuscada, fazendo assim me perder um pouco em alguns momentos.
Ele é um retrato histórico e bem datado de um Brasil arcaico e tirano com seus presos. Talvez não seja muito diferente dos dias atuais.
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