DCosta 10/10/2013Domitila, uma mulher complexaA proposta de Paulo Rezzutti é contar a "verdadeira história da marquesa de Santos" e para isso fez um pesquisa histórica bem rica em cartas trocadas entre os principais personagens da história: Domitila, D.Pedro, Dona Leopoldina e outras tantas de parentes ou conhecidos além de notícias e anúncios de jornais, alguns documentos oficiais como da Academia de Direito de São Paulo e de outras instituições. O resultado é uma biografia que mistura a trajetória de uma mulher excepcional e imprevisível com a própria história do Brasil entre 1797 e 1867, são 70 anos de vida, até nisso a personagem é única uma vez que as pessoas daquela época não viviam tanto, D.Pedro I, por exemplo, morreu com 45 anos.
O livro é dividido em três partes da vida de Domitila: antes, durante e depois deD.Pedro I. O primeiro período descreve a vida de Domitila na juventude em São Paulo, local do seu nascimento, seu primeiro casamento infeliz e a separação. Numa época que as mulheres apanhavam dos seus homens porque mereciam e conviviam com essa realidade, Domitila não se submeteu, se separou e mesmo sem conseguir o divórcio formal, seguiu sua vida sem marido.
A segunda fase é sobre o romance e o status que ela adquiriu na Corte no Rio de Janeiro. O quanto ela influenciou a vida política do Brasil e conseguiu enriquecer com todos os presentes, regalias e mesada recebidos do imperador do Brasil.
A terceira fase começa com o rompimento do romance com D.Pedro I, que depois da morte de D. Leopoldina, manda a amante de volta para São Paulo e casa com D. Amélia por quem se apaixona. Domitila volta rica para São Paulo e embora ainda enfrente algum tipo de preconceito, logo se impõe e ainda casa pela segunda vez.
O mais interessante é ver que Domitila era uma mulher muito complexa as vezes altiva, arrogante, outras vezes piedosa, caridosa e generosa. Uma mãe muito zelosa e uma filha muito cuidadosa com os pais.
A narrativa é interessante mas não é um romance, é contada por um narrador que faz um esforço minucioso de trazer provas de que Domitila era uma mulher ambígua e utiliza as fontes históricas para dar veracidade à história. É um livro original, curioso, investigativo e instigante. Além disso faz descrições preciosas do Rio de Janeiro daquela época, dos costumes, dos tipos de relacionamentos, é muito interessante.
Eu recomendo a leitura !