Três mulheres fortes

Três mulheres fortes Marie NDiaye




Resenhas - Três Mulheres Fortes


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Rods 19/07/2016

Ode às mulheres
Três mulheres fortes, de Marie Ndiaye, é um conjunto de novelas que se entrelaçam de maneira sutil e bem concatenada. O sentimento aflitivo que permeia cada uma das narrativas embala todo o livro, atingindo o leitor de uma maneira angustiante. A força que cada personagem tem recai sobre diversos pontos diferentes, desde a família, as escolhas e até mesmo a própria ignorância. A constatação de nunca atingirem sua potência, estando limitadas às mais variadas situações somente por serem mulheres, é muito bem baliza pela autora.

Norah é uma mulher batalhadora e que sofre com a figura paterna. O retorno à casa do pai, um homem antigamente rígido e hermético, revela uma criatura destruída pelo tempo e pelas escolhas malfadas. São nas ranhuras causadas pela infância, o distanciamento da mãe e da irmã que as memórias sublimadas voltam à superfície. Sua força reside em se sustentar como eixo principal que mantém os resquícios de uma família que ruma à bancarrota.

Rudy Descas, voz masculina que narra a segunda novela, é um personagem fraco e atormentado pela sua própria incapacidade, sempre à procura de desculpas para fazer frente a problemas que não consegue superar. A necessidade sufocante de manter sua mulher ao seu lado, bem como o ciúme velado que sente pelo filho, são catalisadores da ruína de seu casamento. É por meio de manobras egoístas que sua paranoia enclausura sua família em um ambiente insalubre, que aos poucos mina o bem estar familiar. Fanta demonstra sua força no peso de suas escolhas, sempre seguindo com a cabeça erguida, mesmo que às custas de seus sonhos.

Por fim, Khady Demba encontra dificuldades para superar a perda do marido e por não ?cumprir com seu papel feminino?. A família do esposo demonstra total apatia por uma mulher que se encontra sem voz, forçando-a a se degradar em sua condição humana. Toda a epopeia em busca de uma vida melhor culmina em sofrimento, mas, mesmo em sua ignorância e com o corpo vilipendiado pelos interesses alheios, se mantém espiritualmente intacta, digladiando-se com todas as foças para se agarrar à vida. É em um ambiente de bestialização do Ser que retira forças de si própria para se firmar como pessoa e não regredir à barbárie.

Três mulheres fortes é uma ode às mulheres. Independente de como se manifestam na sociedade, continuam batalhando de cabeça erguida e suportando sem reclamar todas as imolações que seus corpos sofrem. É por meio de uma resiliência inumana que, mesmo sendo agredidas e deformadas, retornam à vida mais fortes do que na nunca.
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Juliana 20/01/2019

Uma precisão lancinante
A escrita precisa de Marie clava um sulco de angústia na mente de quem lê, como as garras da águia que se encontra com Rudy Descas no meio do livro. Os três contos, aflitivos até a medula e sutilmente entrelaçados, são o relato seguro de três forças femininas esmagadas por um deserto masculino e estéril. Três ruas sem saída, três glicínias recém arrancadas exalando no vento quente o último perfume.
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