Resenhas - A Ilha de Um Homem Só

Alexandre 10/01/2014

Uma ilha poética
“A Ilha de um homem só”, sustentada pela Editora Penalux, é um livro reflexivo. Um espelho das nossas contradições humanas, de nossas condições interrogativas, tão intrínsecas e que apropria nossas vontades, capsulando nossos passos e as escolhas. Ao lê-lo, abstraímos, navegamos solitariamente até a íntima ilha erma, reduto fiel dos nossos dilemas; depositário verídico das nuances que caracterizam o nosso ser; palco para nossos atos mais nus; esconderijo dos mais idílicos encantos, dos olhares mais belos para o amor e os demais sentimentos.
Guilherme Antunes entrega de si, para nos apresentar a nós mesmos. Ele cria uma ponte propiciando um encontro interior em si, mas em nós. Porque há sintonia, há lamento verídico em sua oração sistêmica, deflagrando com sutileza as armadilhas sensoriais do ser humano. “Sem qualquer olhar, não haveria horizonte”. Ele assim declama, porque não há como captar a discrepância dos encantos presentes, delineados por uma alma oceânica, sem que essa vista esteja sensível ao redor e enraizada no coração. Sua ilha é a ilha de todos. Mundo inexato onde o exato se aprisiona na sensibilidade vivente, naufragada na deserta ilha dentro de cada um. É o coração que dá o tom. Oscila do amargo para o doce. Seu jeito meticuloso de arquitetar seus sonhos e prantear os mistérios que atiçam sua alma é o seu modo de apresentar, não apenas sua humanidade ferida e colorida, mas espreitar o íntimo de todos.
O epicentro sensorial do livro reside nos multifacetados anseios humanos – tão bem destrinchados. É orgânico, quase literal, mas poético. Sua poesia é descortinada com atrevimento, mas com sintetismo e paulatino. Este livro é perturbador, para quem nele se perde, mas apaziguante e libertador quando você entende a beleza nascida no encontro das palavras. São retratos de alguém que prossegue na incansável busca de si, mas que abraça qualquer um que seja humano. Um paraíso encantatório onde a poesia é praticada na sua forma mais crível e voraz. Uma ilha na qual todo mundo devia naufragar, porque o oceano ao redor é lindo! Recomendo!