Nara Jr 25/12/2010Imoralidade ou ironia?Tratado do Amor Cortês (Traité de l’Amour Courtois) é o título dado por Claude Buridant à sua tradução e comentários da obra de André Capelão (Andreas Capellanus). Este clérigo do século XII (embora não esteja totalmente claro que sua clerezia seja a eclesiástica) é o autor do Tractatus de Amore ou De arte honeste amandi.
Aparentemente, essa summa amoris pretende ensinar a arte da cortesia, porém sua conclusão é surpreendente: após páginas dedicadas ao deus amor e à idealização da mulher, condena categoricamente o amor e vitupera a mulher como a origem de todos os males.
O paroxismo da obra não se resolveu. Ainda que a leitura geral pareça indicar certo cinismo em André Capelão, não faltaram críticos que o consideraram um verdadeiro adepto do amor cortês. O clérigo talvez tivesse percebido seus excessos e tentasse com o epílogo negativo contrabalançar seus princípios liberais. Ou, o que seria pior, assumisse conscientemente a duplicidade de vida.
O livro — escrito com estilo, requinte e erudição — interessa porquanto ilustra o ideal aristocrático da cortesia, retrata o período áureo do trovadorismo, e diverte com a descrição de galanteios inventados entre pretendentes de classes sociais diversas.
Por outro lado, a obra decepciona pela apologia do adultério e da luxúria, cuja condenação aparece no texto muito tardiamente. Por fim, deixa um mau sabor de boca com seu desfecho antifeminista.