Lucas Muzel 09/12/2023Confusão propositalEssa série causou uma certa confusão ao ser lida de maneira seriada. Lendo mês a mês, misturado em outras revistas de mix, e ainda em paralelo com Crise Infinita. Acredito que esse possa ser o motivo do Morrison ter escrito duas histórias para fazer a ponte entre o fim de "Descanse em Paz" e "Crise Infinita".
Parte da confusão parece ser intencional. Batman lida com padrões, e tenta fazer conexões em tudo que for possível. A armadilha perfeita, feita por um antagonista espelhado, seria criar diversos símbolos, com significados aprofundados, que ocupariam a mente avançada do Cavaleiro das Trevas. Toda a explicação da mão do homem morto, do vermelho e do preto, e sua conexão com Luva Negra é fascinante nesse aspecto. Há até mesmo um paralelo entre as cartas e a "inserção" do Coringa no pequeno grupo, até então formado por 5 integrantes. Até mesmo a colorização das páginas contrasta as duas cores em diversos momentos. A informação em excesso é um tipo de adversário para quem é adepto de deduções lógicas.
Já as duas histórias ponte são muito, muito boas. Foi basicamente um resumo de quase 70 anos de histórias do Homem-Morcego. Contada com diversos pulos, mas ainda assim foi resumida como se Bruce Wayne fosse imortal. O contexto de estar sendo manipulado mentalmente enquanto se vivencia uma ilusão já foi explorado pelo Morrison na fase dele da LJA. Na época, cada integrante da Liga teve uma ilusão diferente nas mãos do vilão O Chave. A do Batman era que ele estava mais velho, casado com Selina, e tinha seu filho Bruce Wayne Jr. atuando como Robin ao lado do Dick Grayson. Isso também é uma referência direta a uma história antiga da era de prata. Nas duas histórias de "Descanse em Paz", Alfred tem um sonho (ou escreve uma ficção) onde o Batman nunca existiu. Uma história da era de prata que foi recontada nessa versão febril e onírica.
Antes de começar a escrever, o roteirista pensou em uma ideia: fazer com que o Batman tivesse um plano de contingência para que, caso ele sumisse, a Polícia de Gotham arranjaria um substituto. Era algo nessa linha. Aí ele descobriu que essa história já tinha sido contada no passado. Foi depois disso que ele mergulhou nas histórias e as tratou como se todas fossem parte de uma biografia de um único ser humano. É um conceito muito interessante e que só pode ser feito com personagens com muitas publicações. E que só pode ser bem explorado adequadamente em uma fase longa, o que felizmente ocorreu com Morrison.