Miguel.Moreira 02/02/2024
A Abolição do Homem – C. S. Lewis
Publicado em 1º de janeiro de 1943, C. S. Lewis aborda a perda do espírito na educação moderna, e nos apresenta os problemas desencadeados dos erros pós-iluministas que geraram uma crise de teleologia (ciência das causas finas).
Somos levados a refletir sobre essas ideias pós-modernas que contaminaram a educação, gerando homens fracos que negam a Lei Natural (Tao), e que rejeitam toda a tradição ocidental. Vale lembrar que o público-alvo é a população ocidental, mas para não excluir ninguém da possibilidade de salvação, ou então gerar críticas de que ele é eurocêntrico, Lewis relaciona as verdades universais de diversas culturas, e faz uma espécie de sincretismo moral entre as culturas, e adota o termo oriental para definir Lei Natural, o tal do Tao. O autor nos mostra que as virtudes mais nobres do ser humano é algo universal, pois o Tao está presente em todas as tradições.
A velha educação tinha como objetivo ensinar o aluno a pensar, ensinar a busca pela verdade, em outras palavras, ensiná-lo a ser humano; um paralelo é um pássaro que ensina o filhote a voar.
Já a nova educação tem o objetivo de tornar o aluno um militante, com ensinamentos seletivos, cheios de omissões e distorções da realidade; é um ensino propagandista, que condiciona o aluno para uma determinada ideologia.
Com a negação dos valores, o homem se torna fraco, e a guerra exige que ele tenha forças para enfrentar fisicamente e psicologicamente, mas como cultivar virtudes quando se foi educado, desde criança, a negá-las? O homem se torna estéril.
A figura do Inovador defende o progresso, mas para tal ambição é necessário um ideal fixo. Ele crê que o progresso é o ponto mais elevado da civilização, mas há uma diferença entre o progresso que defendem e o progresso real (que seria aquele dotado de virtudes, lealdade, temperança, coragem etc.); acredita que o progresso é inevitável, mas ao mesmo tempo luta, grita e espuma por ele, de forma extremamente imperativa e totalitária. O ponto mais absurdo que defende é a obediência aos nossos instintos, e critica quando alguém é senhor de suas paixões; o autor está, claramente, falando da revolução sexual.
Essa entrega às paixões é justamente o oposto do que o ser racional é, pois o que nos diferencia dos outros animais é, justamente, a capacidade de pensar e a de controlar os seus instintos. Lewis defende que o Tao é a única fonte de todos os juízos de valor, principalmente os valores ligados à Razão. Portanto, a Lei Natural é a base da sociedade humana que rege o mundo, sua negação se dá por ignorância ou más inclinações.
A razão pela qual Lewis defende a tradição é justamente pela liberdade, pois ao abolir a tradição e negar o Tao, o ser humano está propício a ser manipulado de forma mais eficaz. Em complemento ao livro anterior (As ideias têm consequências), é o retrato do imediatismo, no auge da Segunda Grande Guerra as pessoas estavam tão fissuradas pelos acontecimentos catastróficos, vomitados pela mídia da época, e ignoravam a origem da guerra em si; Lewis vai contra a manada e contra a audiência com esta obra e descreve de forma simples, porém com muitas minúcias e muita riqueza e esclarecimento.
O homem tem o poder de manipular outro homem através da educação e da cultura, ou seja, o Estado tem as armas para condicionar uma população inteira para onde quiser, através da manipulação. Lewis cita que a resistência ao Estado é a família que vive longe dele, no contexto, os camponeses (As crônicas de Nárnia mostram muito bem o heroísmo de uma minoria reacionária). Uma arma citada como meio de domínio é o uso de métodos contraceptivos, em meio à revolução sexual: se usados unicamente como métodos contraceptivos, estão simplesmente negando a vida; mas há um outro uso dessa arma contra a civilização e a liberdade, pois com os métodos contraceptivos é possível selecionar quem vai nascer e quem não vai, algo muito parecido com o conceito de raça ariana.
Lewis finaliza o livro com uma lição para combater de forma real essa tentativa de abolição do homem, que é o cultivo do conhecimento, autodisciplina e virtudes, pois “a descoberta da virtude leva ao conhecimento natural de Deus”. As virtudes cardeais são: Temperança, Coragem, Justiça e Prudência; isso fornecerá a verdadeira liberdade ao homem, e para isso é necessário cultivar o primeiro princípio da Lei Natural, que é o valor à vida.
Uma obra necessária, não é uma leitura muito fácil, mas nada que as anotações não resolva. A tradução está um pouco estranha, mas compreensível (talvez isso tenha dificultado um pouco o andamento).