twyla 27/11/2022
pierre anthon se você precisa de ajuda pisque duas vezes
depois que acabei a leitura precisei de um tempinho para digerir. tive algumas diferentes interpretações que vão além do exposto na história, mas uma coisa é certeira: os amigos de pierre anthon precisam de umas sessões de terapia. a história no começo não é muito cativante, a escrita da autora é maçante e eu senti que nunca saía do lugar, até que do meio pro final as coisas foram acontecendo mais rápido, rápido até de mais ?
deixarei aqui apenas três das minhas interpretações, que fazem mais sentido:
01. o livro não é sobre provar que alguma coisa na vida importa, e sim sobre refletir que o "nada" tem significado, o "nada" é alguma coisa, mas a mente humana é limitada de mais para sequer tentar entender. apesar da complexidade, o "nada" existe, e era isso que pierre anthon tentava explicar.
02. sobre não aceitar opiniões que divergem da sua. impossível não pensar nisso considerando a polarização política que perdura no Brasil. ignorantes tentam, por a + b, provar que seu ponto de vista é o correto, fazem coisas absurdas para tentar mudar a opinião de quem pensa diferente, até partir para a violência.
03. a arte, que se tornou um mercado de grande circulação de dinheiro e deixou de ser uma manifestação, de fato, artística. é mais seguro apostar naquilo que é julgado "bom" ou "belo" pelo senso comum, ganhar dinheiro para caramba, do que realmente se expressar e criar obras com algum significado.
deixo meu alerta de gatilho, tem umas cenas bem exageradas e macabras.
spoiler aqui em baixo: um trecho que me deixou levemente deprimida, principalmente pelo fato de que não tenho uma religião e pra mim depois da vida não tem mais nada além do nada ?
"Que significado tinha a primavera se logo o outono chegaria e tudo o que brotava simplesmente murcharia e morreria? Como podíamos nos sentir felizes com as árvores brotando, com os estorninhos regressando ou com a crescente altura do sol no céu a cada dia que passava? Logo tudo se inverteria e seguiria o rumo oposto até voltar à escuridão e ao frio, quando não haveria flor nem folhas nas árvores. A primavera só nos lembrava de que em breve nós também desapareceríamos. Levantar um braço era um aviso de que eu o abaixaria em algum momento e ele se transformaria em nada. Sempre que eu sorria e ria, me perseguia o pensamento de quantas vezes eu choraria com essa mesma boca e com esses mesmos olhos até que, um dia, eles não se abririam mais e, então, outros ririam e chorariam até serem também colocados sob a terra. Somente o movimento dos planetas pelo céu parecia ser eterno, mas nem isso, porque, numa manhã, Pierre Anthon explicou aos gritos que o universo estava se comprimindo e que chegaria ao colapso total, a um Big Bang invertido. Tudo ficaria tão reduzido e denso que seria como nada. Nem os planetas resistiam a tamanho raciocínio. E era assim com tudo. Era insuportável. Suportar. Persistir. Todas as coisas, nenhuma coisa, nada. Andávamos por aí como se não existíssemos."