Otávio - @vendavaldelivros 07/12/2022
"Não, não é justo, mas o que faz da nossa vida um Inferno é nossa expectativa de viver para sempre. A vida é curta. A morte é para sempre.”
Madison, a filha de um bilionário e de uma famosa atriz de cinema, é uma menina de treze anos que morre e vai parar no Inferno. Lá, em uma busca constante para conversar com Satã, Maddy acaba fazendo amigos peculiares, que vão desde um garoto punk até uma “líder de torcida” que está sempre querendo saber as horas e, junto desses amigos, vive experiências únicas no mundo dos mortos. Essa história, que tinha tudo para ser no máximo um típico humor americano de sessão da tarde é, na verdade, uma obra brilhante de um autor com poucas amarras.
Publicado em 2011, Condenada é o primeiro de uma “trilogia de dois” escrita pelo norte-americano Chuck Palahniuk e cria um Inferno que espelha muito da nossa própria realidade. Já havia lido Sobrevivente, do mesmo autor, e foi um livro que gostei tanto que sempre que posso recomendo. Não deveria ter me surpreendido com a alta qualidade de Condenada, exatamente por já ter tido uma experiência literária tão positiva.
Acidez e sarcasmo. É impossível falar de Condenada (e provavelmente de qualquer obra do autor) sem citar essas duas características tão marcantes. Palahniuk sabe como ser ácido e sarcástico sem perder a mão. Críticas à forma como idolatramos pessoas superficiais, como muitas vezes criamos vidas de fachadas diferentes da vida real, buscando aprovação e fama. Críticas sobre o culto ao corpo, às dietas milagrosas e ao estilo de vida “saudável” se moldam em alfinetadas ácidas e, no geral, muito engraçadas.
Em sua saga pelo Inferno, Maddy, junto com seus amigos, nos mostra que a vida por aqui é, talvez, muito próxima da “morte” por lá e que a Terra e a vida devem ser valorizadas em sua essência e não vividas de maneira fútil e rasa. Leitura fluída, deliciosa, com personagens cativantes e em um fluxo que torna impossível parar de ler, Condenada se mostra um livro de terror fora do convencional porque assusta de verdade desnudando nossas próprias hipocrisias.