O amor de uma boa mulher

O amor de uma boa mulher Alice Munro




Resenhas - O Amor de Uma Boa Mulher


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Jacy.Antunes 20/10/2022

Três contos
Alice Munro cria um microcosmo em pequenas cidades habitado por mulheres jovens no Canadá.
Nos anos 50 as suas personagens não se enquadram no papel que a sociedade exigia das mulheres. Então elas traem os maridos, vivenciam o aborto , e entregam os filhos para a adoção. Tambem não estão preparadas para serem mães e tem dificuldade na relação com os filhos.
Os personagens são bem construídos e os finais são surpreendentes.
Bastaram tres contos: Antes da mudança , A ilha de Cortes e O sonho de mamãe para afirmar que Alice Munro e Júlio C.ortazar são as grandes leituras de contos nesse ano.
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Dri 07/04/2022

Perturbador, dual...
Vamos conhecer um livro novo? Este é formado por 8 contos longos (média de 1 hora de leitura pra cada), que não são nada românticos, como o título e a capa sugerem. Foi indicação de uma amiga especial, cujo gosto literário, normalmente compartilho.

Com uma narrativa plácida, tão calma que parece indiferente, Alice Munro relata com uma visão peculiar, a insatisfação, os atos e desejos contraditórios de mulheres aleatórias, sem muito sentido, bagunçado.

Algumas vezes irônico, outras poético, outras sem sal, tal como a vida descrita. Os contos são independentes, porém com pontos em comum. É o tipo de livro que não sei definir se gosto ou desgosto. Apenas antecipo, o modo como a autora escreve, traz uma certa estranheza que me deixa, no mínimo, curiosa, intrigada.

O primeiro conto, ainda não me fez sentido algum, é como se a autora tivesse se perdido na própria história. Eu, com certeza, o pularia, em uma releitura.

Os principais temas são relacionados a casamento, filhos, aborto, independência e a as mulheres com elas mesmas. Ela traz críticas claras ao patriarcado, aos padrões sociais impostos, em especial, na década de 70. Confusa e clara, dúbia em quase tudo, me fez querer ler algum romance, uma construção maior, que desnudasse sua escrita, e me instigasse a explorar suas obras.

Ela, por vezes, me provocou o furor e a repulsa, ainda que compreendida a colocação, a realidade opressora, me provocou um desconforto benéfico, e a reflexão sobre sequelas desses tempos, nos dias de hoje. Surpreende pela época que ela relata, mas não me surpreende como livro.

Algo na sua narrativa, não me fisgou como achei que aconteceria. Por vezes, os contos pareciam ser escritos por pessoas diferentes, tamanha sua distinção entre um e outro. Talvez, no futuro, leia alguma outra obra dela e a impressão mude.
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Wanderson 10/01/2021

Melancólica e bonita
Há uma melancolia meio esquiva na escrita de Alice Munro. Suas personagens falam de qualquer coisa, mas parece que falam meio que sussurrando, num tom de profunda calma. Calma, acho que é o que descreve a paisagem da escrita dela (mesmo ao narrar uma tormenta). Uma paisagem linda, calma e um tanto melancólica.
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Eliane 02/08/2019

O livro é composto por oito contos e todos, de uma forma ou de outra, prosam sobre o papel da mulher na sociedade. O primeiro conto é o que dá título ao livro, "O amor de uma boa mulher". Ele começa com uma informação aparentemente aleatória, a de que um museu preserva uma caixa de instrumentos de optometria, importante porque pertenceu a um médico que se afogou no rio. Logo após, a autora começa a nos dar mais informações. Aparecem três garotos que descobrem o carro do optometrista afogado no rio e eles voltam para casa a fim de contarem sobre sua descoberta, então a autora destrincha a vida de cada um deles e nos faz conhecer como eles se relacionam com seus familiares e com as pessoas que os cercam, feito isso, a autora interrompe e parte para outra narração aparentemente sem ligação alguma com a primeira. Uma enfermeira cuida de uma paciente muito doente, que antes de morrer lhe revela um segredo envolvendo a morte do optometrista e assim, quando menos esperamos, as três histórias se entrecruzam .Genial!! Os contos que se seguem "Jacarta", "A ilha de Cortes", "Salve o Ceifador", "As crianças ficam","Podre de rica", "Antes da mudança" e "O sonho de mamãe", falam sobre traição, relacionamento entre pais e filhos, casamento, aborto e é surpreendente porque as histórias se passam ma década de 50 mas vemos que em alguns aspectos não evoluímos tanto a ponto de não termos nenhuma relação com aquele passado. 
O melhor conto : O Sonho de Mamãe, em que mãe e filha criam uma verdadeira relação de ódio mútuo e concretizam o mito do amor materno , É impossível assistir passivamente à raiva genuína trocada entre dois seres supostamente concebidos para se amar incondicionalmente, mas que relutam em aceitar qualquer afago sentimental.
A complexidade dos personagens que Alice Munro cria não permite prejulgamentos e visões parciais. Essa é uma leitura que só pode ser verdadeiramente apreciada quando o leitor se despe de qualquer preconceito, especialmente do machismo. Essas são protagonistas que precisam ser degustadas e Munro nos dá acesso direto a sua alma, a seus sonhos, a seus pensamentos mais secretos. 
São mulheres que, apesar de certa aura de resignação, libertam-se das amarras e restrições instituídas pela vida em suas diversas nuances, e fogem do padrão da mãe que deve inevitável e obrigatoriamente amar sua filha, transgredindo até mesmo a regra impeditiva de deixar os filhos e o casamento de lado para embrenhar-se em aventuras amorosas.  Mulheres, como sempre, indecifráveis e sinuosas. Entalhadas delicadamente pela experiência de Alice Munro.

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Henrique Fendrich 19/04/2019

É muito interessante observar como todos os contos de “O amor de uma boa mulher” são feitos a partir da perspectiva de personagens mulheres. Isso já é, de antemão, um mérito, diante de uma literatura que frequentemente é essencialmente masculina. As personagens de Munro podem ser uma esposa, uma avó, uma jovem, podem ser casadas, podem ser solteiras, mas é sempre pela ótica delas que o mundo é apreciado.

Também é muito interessante como elas estão mergulhadas em dramas perfeitamente atuais. A questão do aborto, por exemplo, é abordada com grande sinceridade no ótimo “Antes da mudança”. A maternidade e todas as expectativas que ela carrega são confrontadas em contos como “As crianças ficam” e, sobretudo, “O sonho de mamãe”, que deve ser o melhor conto do livro. Também questões como o casamento e o adultério marcam presença – tudo, reforce-se, sob uma ótima feminina.

Uma coisa que se pode notar em vários contos é que, à medida que os dramas se desenrolam, chega um momento em que há um acontecimento decisivo, uma morte, um acidente ou uma ameaça que alteram a vida “normal” dos personagens. O drama físico também aparece com destaque.

Gostei especialmente dos contos em primeira pessoa: “Antes da mudança”, “O sonho de mamãe” e “A ilha de Cortes”. O conto que dá título ao livro, apesar de momentos muito tocantes, em seu realismo, não foi do meu agrado devido ao formato, que o faz muito mais um romance pequeno do que um conto. São abertas várias “abas” na história que, assim me pareceu, se mostraram desnecessárias. Pessoalmente, gosto de contos mais curtos, e menos “povoados” do que costumam ser esses contos de origem norte-americana.

Mas não nego que se trata de uma escritora de muito valor em nossos tempos. Quando ela assume a primeira voz e se torna mais intimista, como em “O sonho de mamãe”, ela se torna ainda mais forte e a sua mensagem impacta mais.

Em tempo: quem gostou dos contos dela, vá atrás também da Flannery O'Connor, que merecia igualmente um Nobel.
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João 19/12/2018

O Amor de Uma Boa Mulher - Alice Munro
O fascínio exercido pela obra de Alice sobre o leitor reside na capacidade com que a autora faz brotar a tragédia humana da narrativa do quotidiano de suas personagens.

Os contos de Alice frequentemente transitam pela monotonia que caracteriza o dia a dia das pessoas em geral e de suas personagens, a narrar, por exemplo, a rotina de uma cuidadora de idosos e doentes, a vida sob o mesmo teto de um casal de noivos, as aflições de uma mãe de primeira viagem etc., para, então, a partir de um resgate do passado, revelar a tragédia que faltava para explicar talvez o vazio, o olhar sombrio ou a rabugice perceptível desde o início em algumas dessas personagem.

Porém, para retirar o véu da monotonia e fazer transparecer o drama que dá cor à narrativa é preciso atentar para as frequentes digressões presentes nas narrativas. Isso porque os contos de Alice não são lineares e brincam bastante com a técnica da digressão, sendo comum o leitor ser transportado para conhecer o passado, o presente e o futuro das personagens, a fim de que, fechando-se o elo da narrativa, a trama possa ser bem compreendida. Daí que o leitor apressado pode se ver confuso diante da sucessão temporal dos fatos.

Tal como em outras obras de Alice (Ex.: Fugitiva), além da narrativa não linear e das digressões, está presente a marca do universo feminino. A autora trabalha magistralmente com personagens mulheres, descrevendo-lhes detalhadamente a identidade física e psicológica. As temáticas que permeia os contos vão desde de uma assassinato passional ("O amor de uma boa mulher") até o drama da maternidade sentido por uma mãe de primeira viagem ("O sonho de mamãe"), passando por relações adulterinas ("Jacarta", "A ilha de Cortes", "As crianças ficam"), por crises na relação entre mãe e filha ("Salve o ceifador") e pela temática do aborto ("Antes da mudança").

Ao final da leitura dessa coletânea de contos, fica evidente a sensibilidade revelada por Alice Munro, autora capaz de retratar com excelência o universo psicológico de suas personagens mulheres. Ganhadora do Prêmio Nobel, faz jus à alcunha de "Tchekhov de saias".

Boas leituras!

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Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

Munro É Desoladamente Maior Do Que Sua Fama
A Academia Real Sueca foi dura com Alice Munro. Há anos que seu nome era cogitado entre os prováveis vencedores do Nobel de Literatura, mas somente em 2013, fez-se feita justiça a sua obra.

Essa reservada senhorinha canadense é considerada, com toda razão, a maior contista da atualidade. Conhecida como "Tchecov de Saias", qualquer outro elogio que possa ser feito a seu respeito passa a ser absolutamente redundante.

Suas narrativas têm como cenário as pequenas cidades da região de Ontario ? onde ela vive ? e são protagonizadas por mulheres de todas idades. Embora, aparentemente diferentes num primeiro olhar, todas possuem em comum a mesma capacidade de viver apaixonadamente e um marcante desejo por liberdade. Nesse universo, há espaço para a ansiedade adolescente, o desejo desvairado assim como a difícil relação familiar, especialmente, entre mães e filhos, expondo a dimensão do amor em suas várias manifestações, inclusive, na agonia e morte.

Em seus contos, fica evidente o prazer de contar uma boa história e sua fonte de inspiração são sempre os fatos corriqueiros do dia a dia, como pequenas incidentes ou uma doce lembrança. Porém, engano pensar que sua leitura seja fácil, sua prosa, marcada pela alinearidade, é impactante, destila lirismo e ao mesmo tempo, traz um intruso desconforto, pois, Mr. Munro sabe questionar o leitor, colocando em xeque suas angústias.

Entre esses contos, tenho dois que gostaria de destacar. O primeiro é o que intitula o volume, "O Amor De Uma Boa Mulher", que aborda o "aparente" suicídio de um respeitável cidadão de uma pequena cidade interiorana e cujo final é uma autêntica obra-prima. O segundo trata-se de "Antes da Mudança" que fala de amor, renúncia e morte, tocando com crueza no controvertido tema do aborto.

Restam ainda, "Jacarta", "A Ilha De Cortes", "Salve o Ceifador", "As Crianças Ficam", "Podre de Rica" e "O Sonho de Mamãe".

Se você acredita em dignidade e que uma escolha incidental pode mudar sua vida, não deixe de ler esse livro.

Aguardando outros, até a próxima!
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Edna 20/01/2018

Cotidiano
O amor de uma boa mulher da escritora Alice Munro com 08 contos, é o primeiro livro da autora que leio, mas mesmo sendo 08 contos você se surpreende com cada um que vai narrar fatos do dia a dia mas tão intensos e na maioria vividos por mulheres que vivem, e que erram e que continuam em cada conto com vidas totalmente diferentes mas com fatos corriqueiros e sem hipocrisia nos remetendo a incidentes e acidentes que po transformar a vida, sem perder a riqueza de detalhes com personagens de complexos a cativantes.
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Vou citar alguns dos contos para que não fique tão enfadonha e extensa a resenha:
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1º Conto - Detalha inicialmente um museu com objetos nada comuns, a vida de três garotos que descobrem um carro submerso com um corpo, e de suas famílias, e descreve a vida das pessoas envolvidas, evidenciando a vida de uma enfermeira que vive as restrições da época da narrativa, anos 1950, caracterizando cada personagens, e do nada ela interrompe um fato e inicia outro fazendo a junção deles sem deixar de segurar o leitor.
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Jacarta
A vida de dois casais se entrelaçam e se dispersam e sofrerão consequências pelos atos, serão punidos com finais nada agradáveis, mas ela sempre apoia a esperança das mulheres em um novo começo com uma cumplicidade feminina.
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A ilha do corte
Um jovem casal vai morar em um porão e serão atormentados pela Senhoria que é uma pessoa extremamente invasiva, mesmo assim a garota desempregada passa a cuidar do dono da casa e descobre um segredo intrigante.
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Salve o Ceifador
Eve é mãe de Sophia que vai morar longe ao se casar com Ian, um genro que ela imaginava ser o oposto do imaginado que descobre através do neto que ouviu uma conversa do casal por telefone e relata a avó, surpresas, decepções e aventura mesmo vao viver os três Eve, Philip e a bebe em um passeio que ela vai relatando fatos de sua infância para o neto ao mesmo tempo entra na brincadeira do neto em perseguir uma camionete que ele julga ser extraterrestres e se torna algo assustador quando se deparam em uma estradinha e impedida de manobrar porque a camionete está barrando o caminho.
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Podre de rica
Um escritor, uma revisora e sua filha, vão viver momentos conturbados em umtrailer no meio das montanhas e tem Ann a esposa de Derek, muito tenso.,muito tempo após eles já terem deixado de ser sócios no livro, Rosemary retorna em visita com Karin e um jantar preparado Karin resolve fazer uma surpresa vestindo um velho vestido de noina de Ann que será o estopim de um acidente, que ela chama de uma configuração de curiosos pontos negros.
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Um minuto e tudo pode se transformar.
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Cada conto, cada narrativa, uma construção maravilhosa com desfechsos intrigantes e surpreendentes, fiquei fã da autora.
4,0/5,0
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eneida 13/06/2017

Oito contos com personagens principais sempre mulheres, fortes, mas que não têm noção de suas forças, de seus talentos, de seus sentimentos
. Um denominador presente quase em todos são casamentos errados, onde um não conhece verdadeiramente o outro, mulheres sozinhas, carentes, que se casam muito jovens e depois tomam decisões drásticas.
A profissão da mulher é também um tema sempre presente, numa época em que as mulheres eram sustentadas pelos maridos mas que já eram necessárias no mercado de trabalho e começavam a prestar atenção em seus próprios talentos.
Personagens muito bem elaborados, leitura intensa mas sem ser pesada e sempre um fim que me deixou pensando.
meriam lazaro 13/06/2017minha estante
Também gosto dela




lucsoa 28/03/2017

Contos densos e surpreendentemente cotidianos.
"Esta é uma dor aguda. Vai se tornar crônica. (...) Não a sentirá a cada minuto, mas não passará muitos dias sem senti-la. E aprenderá alguns truques a fim de mitigá-la ou afastá-la, esforçando-se para não terminar destruindo o que, para ser alcançado, fez você se expor a ela."
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Laura 28/03/2017

Alice Munro escreve espetacularmente, é incrível. Os contos se complementam no volume, e em cada conto há a construção de uma cumplicidade do feminino muito grande. O feminismo ainda é muito necessário e a autora é super contundente ao comunicar a realidade das mulheres, tirando todos os véus (seja da hipocrisia ou do marketing ou de whatever) -- é impossível não se identificar, se não com o todo, com parte.
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Para aquelas mulheres que são conscientes o texto da Alice Munro é acolhedor. Para aquelas ou aqueles que ainda vivem na superfície pode ser um conteúdo até chocante -- quando de fato é extremamente cotidiano. Independente da data em que o texto foi escrito, ou que as histórias são ambientadas, são eventos atemporais.
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A vida é o que é, sem drama e sem floreios, parece ser esse o tom da Alice Munro. Ela pode nos contar um evento mas a sua continuidade, o julgamento de valor dos atos, o depois, o "felizes pra sempre", qual quer que seja a continuidade do conjunto de experiências dessa personagem, isso não é importante. Não é UM evento -- por maior importância que parece ter no momento que ocorre -- que define e dita o restante da vida. A vida é muito complexa -- e ao mesmo tempo muito simples.
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Leia tudo que puder da Alice Munro, seus textos são sublimes, nos deixam ao mesmo tempo sem palavras e com muito o que conversar.
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IvaldoRocha 18/10/2016

Um livro magistral e um dos melhores que já li.
Este é o primeiro livro de Alice Munro que li e há muito tempo não me surpreendia tanto com uma nova escritora. Nova para mim é claro, escritora canadense, Alice Munro recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2013, já com 82 anos e 45 anos de carreira.
O livro contém oito contos sobre “Boas Mulheres”, com certeza não tão boas para os padrões da época. É difícil falar de um conto em si, o conjunto dos contos é completo e perfeito.
Alguns escritores são mestres ao descrever a alma feminina como Machado de Assis e Balzac, mas nunca li nada como as mulheres de Alice Munro. Suas personagens são mulheres comuns de pequenas cidades e passam por momentos de transição ou transformação na sua maneira de viver e sempre acabam surpreendendo. É a vida simples de todos nós, naquele momento fora do usual, quando algo simplesmente brota e você deixa acontecer é a bolha que explode e a vida segue.
Me chamou a atenção a maneira brilhante como ela inclui no meio de um conto, um simples parágrafo, que nada tem a ver com a história, mas que choca, surpreende de uma maneira impressionante, é como um tempero forte em um prato sofisticado, e depois a história simplesmente segue seu rumo. Um bom exemplo disso é o conto “Antes da Mudança”.
Um livro sobre mulheres, indispensável para homens e mulheres.
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Heloisa.Nass 09/10/2016

Maravilhoso
Contos muito bem escritos, prendem a atenção até a última página. Leitura leve, agradável e muito ágil. Escritora talentosa, vale muito a pena.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 21/07/2016

Alice Munro - O amor de uma boa mulher
Editora Companhia das Letras - 376 páginas - Tradução de Jorio Dauster - Lançamento no Brasil em 20/05/2013.

O que eu mais gosto em Alice Munro, Nobel de Literatura 2013, é o respeito à inteligência do leitor. Ela valoriza a experiência de interpretações múltiplas de seus contos, desafiando a tarefa de elaborar uma resenha objetiva e completa, pois parece nunca repetir uma estrutura narrativa, seja através de inversões na passagem do tempo, uso de diferentes vozes ou simplesmente com inesperadas mudanças na condução da trama, os seus contos surpreendem e alcançam regiões de nossa sensibilidade com efeitos que mesmo os longos romances não conseguem obter. No entanto, precisamos pagar o preço que o entendimento de sua obra exige, ou seja, uma leitura atenta e dedicada, não só na arquitetura dos seus textos, mas também na sutileza da construção psicológica de cada personagem, sob o risco de perdermos o brilhantismo da ficção, ou o pecado de escrever uma resenha com tipo de divulgação promocional.

De forma contraditória, toda a complexidade de seus contos é normalmente derivada de protagonistas provenientes da população supostamente mais simples de pequenas cidades no interior do Canadá, distantes portanto das crises existenciais típicas de habitantes neuróticos dos grandes centros urbanos, além de reproduzirem épocas que já se tornaram remotas como a fase ingênua da recessão após a Segunda Grande Guerra nos anos cinquenta. Logo, uma realidade distante e possivelmente pouco atrativa para a nossa era contemporânea da internet, nada mais falso. A ficção de Munro alcança as camadas mais escondidas da alma, essa coisa cada vez mais difícil e que só a verdadeira literatura consegue fazer. Principalmente nos oito contos desta antologia, lançada originalmente em 1998 e vencedora do National Book Critics Circle Award do ano, cada narrativa expressa a experiência de uma protagonista feminina para ultrapassar as barreiras que a sociedade da época impunha às mulheres através do preconceito (e ainda impõe em muitos casos) impedindo-as de viver a sua plena individualidade, questões como a dificuldade de realização profissional, adultério e separação nas relações envolvendo filhos, homossexualismo e até mesmo, em casos ainda mais polêmicos, o direito ao aborto.

"O amor de uma boa mulher" empresta o título a esta antologia, sendo o primeiro e longo conto de abertura, dividido em quatro partes, um excelente exemplo do estilo de Munro. Na primeira parte, um grupo de meninos descobre em uma manhã de sábado de 1951 um carro no fundo de uma represa abandonada, através de "um brilho azul-claro na água que não era um reflexo do céu", onde costumavam ir para nadar. Eles reconhecem o carro e o corpo em seu interior como sendo do optometrista da pequena cidade em que moravam. Até o final desta parte cada um dos três meninos, suas famílias e impressões sobre o ocorrido são detalhadas pela autora. Somente na segunda parte a verdadeira protagonista é apresentada, Enid que atendeu ao último pedido do pai de não concluir o curso de enfermagem devido à ideia dele de que esta profissão a transformaria em uma mulher vulgar devido à "familiaridade que as enfermeiras passam a ter com o corpo dos homens".

Afinal, exercer uma profissão, seja ela qual fosse, era considerado na época como "um infortúnio resultante da viuvez ou, pior, da inépcia de um marido vivo". De qualquer forma, após a morte do pai, Enid passa a acompanhar pacientes moribundos e desenganados em seus últimos momentos, morando em suas próprias casas, juntamente com as famílias. Enid é descrita como um modelo de virtude e abnegação até que na terceira e quarta partes, a história passa a fazer sentido como um todo, devido a um segredo que ela escuta da sra. Quinn, uma de suas pacientes terminais, que irá mudar o seu comportamento e guiar o conto para uma conclusão magistral.

"Enid dormia num sofá no quarto da sra. Quinn. A coceira devastadora da enferma desaparecera quase por completo, assim como a necessidade de urinar. Ela dormia durante a maior parte da noite, embora em alguns períodos respirasse de forma áspera e raivosa. O que despertava Enid e a mantinha acordada era um problema que só tinha a ver com ela própria. Começara a ter sonhos ruins. Eram diferentes de qualquer sonho que havia tido no passado. Ela costumava pensar que um mau sonho era se ver numa casa estranha onde os quartos mudassem todo o tempo e o trabalho a fazer estivesse acima de sua capacidade, tarefas a cumprir que imaginara já cumpridas, distrações inumeráveis. E, naturalmente, também tinha tido sonhos que caracterizava como românticos, nos quais algum homem passava o braço em volta de seu ombro ou mesmo a abraçava. Podia ser alguém conhecido ou não — às vezes um homem que só como piada poderia estar numa situação daquelas. Esses sonhos a deixavam pensativa ou um pouco triste, porém de certa forma aliviada por saber que tais sentimentos eram possíveis para ela. Podiam ser embaraçosos, mas não eram nada, absolutamente nada, quando comparados com os sonhos que tinha agora. Nestes, ela copulava ou tentava copular (às vezes impedida por intrusos ou mudanças das circunstâncias) com parceiros totalmente proibidos ou impensáveis. Com bebês gordos e hiperativos, ou pacientes envoltos em bandagens, ou com sua própria mãe. A lascívia a deixava molhada, oca, gemendo de desejo, e ela buscava se aliviar com rispidez e com uma atitude de pragmatismo malévolo. 'É vai ter que ser assim', ela dizia a si mesma. 'Vai ter que ser assim se não aparecer nada melhor.' E essa frieza do coração, essa depravação prosaica, simplesmente estimulava sua libido. Acordava sem sentir nenhum arrependimento, mas, suada e exausta, lá ficava como uma carcaça até que seu próprio eu, sua vergonha e sua descrença refluíssem para dentro dela. O suor esfriava sobre a pele. Permanecia deitada, tremendo na noite quente, sentindo repugnância e humilhação. Não ousava voltar a dormir. Acostumou-se ao escuro e aos compridos retângulos das janelas com cortinas de voal através das quais penetrava uma luz tênue. Enquanto a enervante respiração da enferma soava como uma reprimenda, e depois quase desaparecia." (págs. 62 e 63)

Em "As crianças ficam" a autora acompanha o desenvolvimento de um caso de adultério sob a ótica da protagonista, uma mãe de duas filhas que decide abandonar tudo para ficar com o amante, o diretor de uma montagem teatral amadora de Orfeu e Eurídice na qual ela decide participar, incentivada pelo próprio marido. Em um dia de chuva, ela caminha sozinha pensando nos efeitos de sua escolha, principalmente o fato de que não poderá ficar com as duas filhas pequenas, uma dor aguda que ela entende que se tornará crônica com o tempo, significando que "será permanente, mas talvez não constante", que "não a sentirá a cada minuto, mas não passará muitos dias sem senti-la". Poderá haver, à partir deste dia, algum alívio ou um improvável perdão das filhas para essa mulher?

"O que ela estava fazendo era alguma coisa sobre a qual já ouvira falar e já lera. O que Ana Karênina tinha feito e Madame Bovary tinha desejado fazer. O que uma professora, colega de Brian, tinha feito com o secretário de escola. Fugido com ele. Era assim que se dizia: fugir com alguém. Dar no pé. Algo mencionado em tom cômico ou depreciativo, se não com inveja. Era o adultério elevado ao grau máximo. Os casais que o faziam quase certamente já eram amantes, sendo adúlteros por bastante tempo antes de se tornarem suficientemente desesperados ou corajosos para dar aquele passo. Raras vezes um casal podia alegar que o amor não tinha sido consumado e era tecnicamente puro, porém essas pessoas, se alguém acreditasse nelas, seriam vistas não apenas como muito sérias e virtuosas, mas quase devastadoramente imprudentes. Comparáveis na prática àquelas que se arriscam e abrem mão de tudo para ir trabalhar num país pobre e perigoso. (...) Os outros, os adúlteros, eram considerados irresponsáveis, imaturos, egoístas ou mesmo cruéis. Felizardos, também. Felizardos porque eram com certeza esplêndidas as relações sexuais que vinham tendo em carros estacionados, campos verdejantes, leitos conjugais maculados ou, mais provavelmente, motéis como aquele. Caso contrário, não teriam tamanho desejo pela companhia do outro a todo custo, ou tamanha fé de que o futuro que compartilhariam seria muito melhor e diferente de tudo que haviam conhecido no passado." (págs. 230 e 231)

Já no difícil e perturbador "Antes da mudança", a protagonista escreve uma longa carta para o seu ex-namorado sobre o período de convivência com o pai em sua clínica, na qual ele atende mulheres que decidem fazer um aborto, tema espinhoso e difícil de tratar, principalmente quando Munro nos coloca ao lado da protagonista que acaba fazendo o papel de assistente durante uma dessas sessões clandestinas. O seu passado será introduzido aos poucos até ficar claro em uma conversa final com o pai que encerra o conto. Impossível não ficar sensibilizado com esta narrativa, sendo homem ou mulher.

"Eu estava pensando em dizer alguma coisa que pudesse lhe trazer alívio ou distraí-la. Podia ver agora o que meu pai estava fazendo. Dispostas sobre uma toalha branca, na mesa ao seu lado, havia diversas hastes, todas com o mesmo comprimento mas com diâmetros crescentes. Eram usadas, uma após a outra, para abrir e alargar o colo do útero. De onde me encontrava, atrás da barreira feita pelo lençol sobre os joelhos da moça, não era capaz de acompanhar o progresso invasivo daqueles instrumentos. No entanto, podia senti-lo através das ondas de dor que se sucediam em seu corpo que, sufocando os espasmos de apreensão, a faziam de fato ficar mais imóvel." (pág. 302)

Como acontece com toda grande obra de ficção, os contos de Alice Munro permanecem em nosso inconsciente, transformando-se e ganhando novos sentidos à medida que a nossa experiência de vida avança, em alguns casos nos incomodam sem sabermos exatamente o motivo, talvez porque reflitam algum sentimento que está cuidadosamente escondido dentro de nós mesmos.
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Jessica.Silva 03/06/2016

Mulheres pré e pós revolução sexual. Histórias de solidão, paixões, desilusões e força. Objetos tem muito a dizer sobre as pessoas.
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