Aventuras na História Nº 118 (Maio de 2013)

Aventuras na História Nº 118 (Maio de 2013) Abril



Resenhas - Aventuras na História - nº 118


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z..... 20/01/2018

Lampião virou lenda através de fatos míticos e reais, que o projetaram em seu contexto e também na cultura e história do pais. O tema dessa edição aborda um dos diferenciais para essas questões: a entrada de mulheres em seu bando. Fato que aconteceu a partir de 1930, transformando a rotina do cangaço em diferentes níveis.

O primeiro enfoque foi a ideologia do cangaço em relação às mulheres. A entrada era vetada por conceitos práticos e míticos. A primeira razão associa-se à visão de fragilidade, pois os cangaceiros viviam em andanças constantes (em sete estados nordestinos), enfrentando severas dificuldades. Em suas conclusões, não aguentariam o tranco e atrasariam os deslocamentos. De fato, para ser cangaceiro tinha que ter preparo físico e muita determinação para a rotina do inusitado crossfit. Coisa pra macho! Em caso de captura pelas volantes, poderiam ser delatoras com mais facilidade, além de poder gerar desentendimentos no bando por ciúmes e traições. O fator do contra mais acirrado talvez fosse o misticismo, pois as mulheres eram vistas como "quebradoras do corpo fechado dos cabras", em outras palavras, enfraqueciam os homens.
Lampião deu um chute para escanteio em tudo isso e trouxe Maria Gomes de Oliveira. A primeira cangaceira, conhecida no bando como Dona Maria, Santinha para o Virgulino e Maria Bonita para as volantes, população e história. Particularmente, acredito que esse aspecto romantiza o Lampião, estimulando o imaginário em inusitado heroísmo e história de amor. Quem ainda não ouviu aquela: Virgulino Ferreira, o Lampião / Bandoleiro das selvas nordestinas / Sem temer a perigo nem ruínas / Foi o rei do cangaço no sertão / Mas um dia sentiu no coração / O feitiço atrativo do amor / A mulata da terra do condor / Dominava uma fera perigosa (por que, hein?) / Mulher nova, bonita e carinhosa / Faz o homem gemer sem sentir dor.

Voltando à reportagem, o impacto das mulheres transformou a barbárie sanguinária dos cangaceiros. As práticas comuns de estupro foram abandonadas ou reduzidas, assim como as mortes, que passaram a ser mais seletivas nas ações do banditismo. A reportagem cita que as mulheres intercederam em muitos assaltos, em que os cangaceiros priorizaram mais o saqueamento do que deixar a famigerada fama demoníaca.
Outro aspecto foi a questão do visual clichê fashion dos cabras, consequência direta da influência feminina. A revista não citou, mas vi em outro momento que uma das principais responsáveis teria sido a Dadá (mulher do Corisco).
Também organizaram muita coisa entre os homens como secretárias pessoais.

Depois de Maria Bonita, por volta de 40 mulheres adentraram o bando. Algumas por sequestro (como a Dadá) e outras por vontade própria (será que seriam marias-cangaceiras?).

O preço era se adaptar àquela vida hostil e fugitiva, onde filhos deveriam ser entregues a coiteros, traições geravam lavagem da honra com sangue e, em caso de morte do perceiro, deveriam se unir a outro cangaceiro. Se isso não acontecesse eram mortas para não se tornarem enfado ou caír nas mãos de inimigos, onde poderiam ser delatoras via tortura.

Gostei da leitura, que termina dando uma romantizada na morte do casal 20 do cangaço. Porém, achei que houve uma falha grande em não privilegiar o contexto feminino citando outras cangaceiras, além de Maria Bonita e Dadá. Poderia ser no texto da reportagem ou nas janelas para informações curiosas que costumam aparecer em paralelo. Além das duas citadas, no meu caso, conheço apenas mais uma: Sila (sobrevivente e testemunha ocular de importantes relatos sobre o cangaço). Seria interessante para enriquecer a reportagem.

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Folheando outras coisas da edição não resisti em citar uma nota pra lá de inusitada, que disse que foi encontrada uma literatura copta (com mais de mil anos) afirmando que Judas teria beijado Jesus (na traição) para identifica-lo porque Jesus era uma espécie de mutante e vivia mudando de forma. Oche! Quem foi o autor desse apócrifo, hein? Algum ancestral do Stan Lee?

Outra coisa curiosa refere-se ao carnaval. A idealização como se estabelece até hoje teria sido algo estimulada pelo Estado Novo (a ditadura do governo de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945). Segundo a edição, as festas tinham cunho desorganizado, o samba não era o ritmo principal e os temas falavam de malandragem. No período da ditadura organizaram-se as escolas de samba, recebendo apoio do governo e orientação para valorização de temas patrióticos sobre história e cultura. O samba se popularizou como maior identidade e os desfiles atendiam a propaganda ideológica de Vargas.
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