Bruno Oliveira 20/01/2022Lembro que gostei bem mais da primeira vez em que li, mas acho que o livro não “perdeu qualidade” com meu envelhecimento; eu é que mudei um pouco de critério.
Li por aí que se trata de um romance sobre amizade, porém acho que ele tem mais relação com desencanto, com o fim de certas perspectivas dos personagens.
É verdade que a amizade está lá, inclusive, o livro começa com amigos reunindo-se em torno da morte de um deles, no entanto ela é menos o tema e mais uma maneira de abordá-los. A amizade é a “forma”, o estratagema literário que conecta os acontecimentos e personagens do livro, que contrapõe indivíduos diferentes, significados diversos, porém não tanto o tema.
A meu ver, o tema da obra é que vida não é como desejamos e, ainda assim, ela é tudo o que temos. Os protagonistas são pessoas maduras que já tiveram seu auge, que já viveram o que queriam viver e, no entanto, perguntam-se se a vida é só isso mesmo.
Há nesse desencanto algo sobre o começo do período democrático, o fim da polarização capitalismo versus comunismo e dos ideais que envolvem essa disputa, mas tudo isso está lá de forma contextual e indireta. Creio que a questão dos personagens é mais pessoalizada e menos histórica, por assim dizer.
Particularmente, a obra me lembra um pouco outro livro, “O encontro marcado”, do Sabino, pois em ambos há uma sensação de decepção com a vida.
Todavia, há uma diferença significativa entre eles também; os personagens do livro de Sabino são bem mais pretensiosos e seu desencanto decorre daí ─ cada um achava que seria o novo Rimbaud, mas todos se descobrem ordinários, comuns.
Os personagens de Maria Adelaide, por sua vez, não possuem essa pretensão. Eles são pessoas que, em algum momento anterior, tiveram interesse na vida e que não notaram muito bem quando esse interesse sumiu e só sobrou ranço quanto à vida. Esse tipo de decepção me toca mais, aliás.