Todo aquele jazz

Todo aquele jazz Geoff Dyer




Resenhas - Todo aquele jazz


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Arsenio Meira 28/12/2013

All that...

É um livro que vale a pena ser lido, e isto vale pra quem gosta ou não gosta de jazz. Eis o mérito da obra. Ela ultrapassa os tópicos limítrofes que todo tema carrega consigo, e vai além, humanizando - ainda mais - a história de homens que criaram e produziram uma das mais puras e legítimas formas conceituais de Arte, por meio de uma perícia que cada um sabia ser uma dádiva, um dom.

É, também, um panorama riquíssimo culturalmente, ainda que não abrangente (o livro contém apenas 240 páginas), da vida desses artistas que venceram o racismo, que deram um pontapé na boca dos imbecis (em sentido metafórico, claro); esses homens deram adeus a pobreza, a uma série de obstáculos tortuosos; mas a maioria deixou-se levar, por motivos vários, pelo lado outsider no que este tem de mais perigoso.

As drogas ceifaram a vida de grande parte dos protagonistas da obra. Há, todos sabemos, uma certa inclinação do público para mitificar os ídolos "caídos" tragicamente, e precocemente. Uma orquestra alinhada por Charlie Parker, Fats Navarro, Billie Holiday, Bud Powell e John Coltrane não precisa de mais nada. O que milhares podem contestar, indagando: e Chet? Bem, em minha opinião Chet teria uma vaga só se um deles resolvesse sair. O lance é que todos morreram cedo demais, e Chet arrastou sua lenda por mais de trinta anos, naquele sombrio auto-exílio europeu. É sabido que - durante esse período, ele tocou mais com o nome, pois o vigor do seu enorme talento já havia sido consumido por incontáveis picos de heroína.

Esses homens e mulheres, que tanto tinham ainda para criar e viver, não conseguiram fugir desse abismo. Mas deixemos de lado tais digressões: o fato é que todos eram especiais, uma incrível geração, que ainda hoje perdura como norte para quem se aventura por estas praias.

Dyer criou uma miscelânea onde a ficção emana um parentesco com o ensaio, a biografia. Um relato ficcional e histórico. Fatos verídicos e malabarismos fictícios justapostos, que dão à obra o tom de uma "jam session" que o grande Duke Ellington teria feito se o tempo permitisse, ao lado de Lester Young, Thelonious Monk, Bud Powell, John Coltrane, Charles Mingus, Eric Dolphy , Charlie Parker e Art Pepper no mítico Cotton Club: um jorro de luz e poesia sonora no velho Harlem. Para ler e reler.
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moraes_psi 18/04/2021

VALE PELA RARIDADE E ORIGINALIDADE DO MATERIAL.
Muitos elogiam esse livro pela originalidade em fazer biografias de músicos de jazz, da fase bebop, em prosa, em formato de um "romance". Comigo, não foi diferente, eu gostei, mas tenho ressalvas.

Não tem como não aplaudir a prosa poética e trechos tão belos, como ao explicar a música desses grandes artistas e eu teria vários outros argumentos pra dizer que o livro sim, vale a pena ser lido.

Mas o que tira pontos nessa obra foi a falta de ligação e regularidade. O próprio autor, Geoff Dyer, explica que ao escrever não sabia o formato que o livro ia se tornar e pra mim isso parece muito claro. Não vejo a ideia de ligação, introduzida sempre pela história de viagem do músico Duke Ellignton e sua banda, como uma solução eficaz. Realmente, como Duke e sua estrada, o autor também as vezes não sabia para onde estava indo.

Fiquei também frustrado com as escolhas de episódios dos músicos, alguns reveladores e conhecidos do grande público, como a perda de dentes do Chet Baker, mas outros foram pra mim sem relevância. Em alguns casos, não senti que entendi a história ou importância do jazzista citado. Por exemplo, senti falta de mais detalhes da obra importantíssima de Thelonius Monk ao invês de centrar tanto em seu problema mental. E também de não ter tido uma história com Miles Davis ou John Coltrane. Imagina uma história envolvendo a gravação de A Kind of Blue? Ok, talvez isso tudo tenha sido propositadamente para fugir do óbvio, mas pra mim, fã de jazz, é frustrante.

Penso que o livro não teria ficado completo sem o texto inicial e final, aí sim puramente biográficos, pra contextualizar pro não familiarizado com a história do jazz. E no meu entender, ele devia ser compreendido já na sua prosa.

De todo modo essa leitura é muito válida pela tentativa e principalmente pela raridade de materiais traduzidos no Brasil sobre músicos de jazz. E fez parte do início de um projeto pessoal meu de ler ficção (romances/contos) e biografia ou com ambientação jazz/blues ou centrados no tema.

Editora Companhia das Letras
Tradução de Donaldson Garschagen

site: https://www.instagram.com/nandobpmoraes
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Renan 05/11/2013

Um ótimo livro. Deixo um trecho dele abaixo:


- Se alguém lhe perguntava sobre sua filosofia da música, Duke respondia Ëu gosto das lágrimas sentidas dos velhos tempos", e Ben poderia dizer o memo. Adorava baladas, músicas sentiments. Já houve quem o definisse o sentimento como emocão barata, mas isso não se aplica ao jazz. O jazz torna automaticamente necessário ganhar a emocão, porque é dificílimo tirar do saxofone um som tão suave, manter o suingue e fazer com que o sax arranque lágrimas de seu coracão. Se você está fazendo jazz, está automaticamente pagando pela emocão; ...
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jota 25/04/2014

Um livro sobre jazz
O título original deste livro é But Beautiful: A Book About Jazz. But Beautiful é uma canção de Jimmy Van Heusen & Johnny Burke que diz que O amor é engraçado ou é triste / Ou é livre ou é louco / É uma coisa boa ou é mau e por aí vai, para dizer que, porém, o amor é lindo (but beautiful). E A Book About Jazz, é o que efetivamente o livro de Geoff Dyer é, muito distante do que o abrangente título brasileiro pode ou quer sugerir.

Todo Aquele Jazz parece querer significar que aqui vai se falar tudo sobre o assunto mas nem de longe é isso (são apenas 235 páginas) e lembra muito mais o filme de Bob Fosse, All That Jazz, de 1979, que é um drama autobiográfico sobre dança mesmo que utilize o jazz como trilha sonora. Todo Aquele Jazz, o livro de Geoff Dyer, é um misto de ficção e ensaio sobre algumas figurinhas carimbadas do fabuloso gênero musical que deu ao mundo artistas como Lester Young, Chet Baker, Duke Ellington, Art Pepper, Thelonious Monk e outros grandes.

Artistas talentosos em situações-limite, vivendo na corda bamba, a um passo do abismo (mas também da eternidade) com problemas de drogas, álcool, doença mental, relacionamentos, etc. É esse o material que Dyer nos traz a partir de uma extensa pesquisa histórica, mencionada no final do livro.

Muito interessante é o extenso posfácio (são 35 páginas de muita informação), Tradição, influência e inovação, onde o autor praticamente, aí sim, ainda que resumidamente, escreve sobre todo o jazz do passado, do presente e para aonde o gênero caminha. Achei que esta foi a melhor parte do livro, ainda que os outros textos, todos de caráter intimista, pessoal, subjetivo, tragam pequenas histórias sobre os músicos, quase sempre com alguma poesia, mesmo quando encerram fatos tristes de suas vidas.

Também no final do livro há uma Discografia Selecionada, muito útil para quem quer conhecer um pouco mais sobre os artistas enfocados. Toda composta por discos de música instrumental então não menciona nenhum álbum de Billie Holiday, a grande cantora de jazz, que é citada por Dyer apenas duas ou três vezes, já que o livro é sobre criadores (que executavam suas próprias canções), não sobre puramente intérpretes. Mas Chet Baker cantava muito bem também, não apenas tocava trompete como poucos. São dois dos jazzistas que mais aprecio. Eu e muita gente ao redor do mundo musical.

Lido entre 17 e 24/04/2014.
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Adriana Scarpin 24/07/2015

Ó céus, que delícia de livro. São oito contos cujos estilos são correlatos da vida e obra dos respectivos músicos: Lester Young, Thelonius Monk, Bud Powell, Charles Mingus, Ben Webster, Chet Baker, Art Pepper e arrematando todos eles a fragmentação de Duke Ellington e Harry Carney. Cada conto traz uma nova perspectiva do porque suas entranhas reagem diferentemente a cada um deles, por exemplo, agora me ficou completamente claro o porquê eu me identificar tanto com a música do Chet Baker.
Estou tirando uma estrelinha das cinco que daria a esse livro porque não há um conto que norteie vida e música de Miles Davis, não sei se por alguma razão subjetiva do autor ou por ele não ter encontrado uma forma literária que exemplifique o que venha a ser Miles Davis dentro do Jazz, mas tal frustração acaba sendo compensada pelo ótimo texto de encerramento do livro, um ensaio sobre a natureza rizômica do jazz.
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Júnior 17/01/2018

Relatos biográficos ficcionais
O jazz apresenta uma manifestação cultural que toca a todos seus amantes, cada um de uma forma singular. Dentro de seus elaborados padrões harmônicos e improvisados solos, é natural construir uma imagem específica para cada um dos compositores que ouvimos, imaginando suas personalidades, visões de mundo e filosofias de vida. Assim, é espetacular o trabalho de Dyer para dar vida à esse sentimento, prestando uma homenagem humanística a consagrados jazzistas. Além das impressões causadas pela música de cada um, o autor usa também de fotografias e fatos reais para construir relatos fictícios mas que dão tanta vida, se não mais, àqueles inconsequentes músicos quanto uma verdadeira biografia pode fazer.

É um livro gostoso e que nos abre uma nova dimensão para escutarmos os gigantes desse estilo musical infinito em sensações.
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urbenave 18/12/2023

Toda aquela dor?
É um livro sobre jazz, mas não é só isso. É um livro sobre pessoas, mas não são simples biografias. É um livro de recortes sobre muito do que é importante para se entender que as pessoas, a arte, a música, são grandiosas ao ponto de, muitas vezes, serem insuportáveis. É um livro sobre dor, sobre racismo, sobre sociedade, sobre arte.

É um livro que busca mostrar o quanto a genialidade cobra um preço alto e troca a beleza da obra pela destruição do artista.

O objetivo aqui não é nos fazer entender mais sobre jazz, mas certamente nos faz amar ainda mais essa arte tão cara a tantas pessoas extraordinárias.

Geoff Dyer apresenta o livro de uma forma em que cada capítulo te leva até aquele lugar especial da leitura em que você para de ler um pouco pra perceber que está chorando e sorrindo ao mesmo tempo.
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