Ricardo Silas 05/08/2016
"É informação demais"
Faz tempo que um livro não me proporcionava tantos desafios. Sou o tipo de leitor que valoriza mais o resultado da leitura, seus impactos sobre minha aprendizagem, do que o prazer momentâneo de um “mero” folhear de páginas. Fico tão preocupado com a "pós-leitura" que, para reforçar seus efeitos, faço dezenas de pesquisas além-livro para reunir cada vez mais informações. Se algum parágrafo descortina um novo conhecimento, meus olhos se inflamam de desejo e logo corro em direção ao Google para buscar artigos, vídeos e documentários suplementares - e só fico contente depois de empanturrado. Foi mais ou menos o que James Gleick me instigou a fazer durante a leitura de “A Informação”. Ele escreve bem, sabe evitar a escrita tediosa e rebuscada e, o que é ainda melhor, consegue esclarecer temas muito complicados, e se sai melhor até do que eu esperava.
Esse livro contém elementos biográficos de alguns precursores influentes na área da matemática e da eletricidade, os quais foram também responsáveis pelas invenções que revolucionaram as bases da comunicação humana. Por milênios, uma simples correspondência demorava semanas ou meses até chegar ao seu destino. Exemplo jocoso disso é mostrado logo no começo do livro, quando Júlio César, em suas numerosas viagens pelo Império Romano, incumbia os mensageiros de informarem as províncias quanto à sua chegada. Entretanto, por várias vezes o antigo líder romano aparecia dias antes das mensagens chegarem aos destinatários.
A comunicação à longa distância era de fato um problema que só foi resolvido séculos depois. Gleick introduz em seu livro a história do Telégrafo baseado no Código Morse. A partir daí, as relações humanas jamais seriam as mesmas. Ao longo do século XIX, eletricidade e criptografia ocupavam a mente de filósofos, matemáticos, cientistas e até beletristas famosos. Inventos criativos surgiam quase o tempo todo, alguns não sendo nada além de meras geringonças, mas outros conquistaram um lugar de prestígio no alvorecer da era tecnológica. Entender esse processo é tarefa difícil para os leitores desavisados (como eu), pois requer um pensamento focado na época, na biografia e nas ideias dos personagens estudados.
As pesquisas que fiz para dissipar minhas dúvidas tiveram algum sucesso, embora tenham travado por falhas de circuito neurológico na compreensão de teses matemáticas e computacionais da Teoria da Informação. Pensa num balacobaco difícil de entender, esse exemplo hipotético chamado “Demônio de Maxuell” e as demais formulações físicas sobre entropia e termodinâmica. Não é nada fácil, e orgulhosamente admito que, depois de ser banhado por vídeos e pesquisas sobre o assunto, continuo sem entender um pouco mais que nada vezes nada. Culpa do Gleick? Não. Ao contrário, ele fez o que pôde. Mesmo assim, os capítulos finais conseguiram preencher as lacunas da minha ignorância. Agora, com o advento da era da informática e a crescente expansão do mundo cibernético, o que será de nós? Como nossa geração administrará tantas e tantas toneladas de informações? Qual a diferença entre “informação demais” e conhecimento? Estamos no caminho certo?
Tendo de correr riscos e nos aventurar por esse oceano desconhecido, ler “A informação” de Gleick é uma tentativa ousada de buscar as respostas para muitas outras perguntas que ainda estão por vir. Lidar com o “dilúvio de informações”, a “saturação de informação” e a “ansiedade de informação” pode ser perigoso, pois com a mesma velocidade que as coisas surgem, elas desaparecem como se nossa mente fosse incapaz de detê-las. Ou aprender a controlar o que fica e o que sai, ou teremos cada vez menos conhecimento em um mundo com cada vez mais informação. Eis um verdadeiro paradoxo.