Carlos Nunes 22/02/2024
Os dinos estão de volta
A grosso modo, a trama desse livro é bem semelhante à de JURASSIC PARK: pessoas perdidas uma ilha tentando sobreviver ao ataque dos dinos, mas à medida que avançamos na leitura, vamos percebendo várias diferenças, principalmente em relação aos debates científicos, que são bem mais profundos aqui. Por mais que se saiba sobre a evolução das espécies, a extinção delas ainda é um grande mistério, e o personagem Ian Malcolm tem uma teoria de que a extinção dos dinos não seria resultado apenas de um evento natural, como a queda de um meteoro, mas teria algum elemento comportamental por trás, e isso seria visível observando o comportamento dos dinos em um ambiente natural. Algumas mudanças comportamentais não seriam passadas geneticamente, mas por aprendizado, passado de geração a geração, e de alguma forma modificariam o ambiente de tal forma que acabariam levando ao extermínio da própria espécie, exatamente o que estamos fazendo hoje, destruindo o planeta, o que fatalmente nos levará à extinção.
Um outro ponto que achei bem interessante nesse livro foi a discussão sobre a existência de um planejamento inteligente por trás de tudo o que existe. Um argumento muito usado pelos ateus para “provar” que Deus não existe, é que tudo na Natureza seria obra do acaso, mas esse fato já foi refutado pela própria ciência, que comprovou por A+B que a Natureza, apesar do aparente caos, segue um ordenamento e um equilíbrio bastante eficientes, inatingíveis por total acaso. Então, mesmo sem chegar ao ponto de reconhecer a existência de Deus como uma entidade suprema, a ciência já aceita que há um princípio inteligente por trás de tudo, que há algo ou alguém para pôr ordem na casa.
O ritmo da história é bastante frenético, o Crichton é um autor que sabe criar muito bem como criar situações de impacto e manter a tensão das cenas, e aqui, com os personagens à mercê de dinossauros à solta em um ambiente selvagem, as cenas são bem mais impactantes e violentas do que no primeiro livro, e também mais numerosas, porque aqui existem várias outras espécies de dinossauros que não aparecem no livro anterior. Mas, mesmo assim, O MUNDO PERDIDO tem alguns problemas: talvez por conta de ter sido uma obra encomendada já com o objetivo de virar filme, parece que o autor teve um certo desleixo com o desenvolvimento de certos aspectos. Os personagens aqui são bem menos desenvolvidos do que no primeiro livro, suas motivações não parecem tão fortes a ponto de justificar os perigos a que se submetem, em especial o Ian Malcolm, depois de tudo o que passou no primeiro livro, chegando até a ser dado como morto. Situações que seriam altamente traumatizantes, que precisariam de uma motivação absurda para serem superadas. Um outro problema é o velho recurso da carta na manga, é um alçapão no lugar certo, um galho de árvore estratégico, um galão de gasolina encontrado por acaso, coisas desse tipo, soluções bem típicas de um filme de aventura, mas que soaram um pouco deslocadas aqui. É um livro bom, bastante interessante, que prende a atenção, só perde um pouco nesse quesito do desenvolvimento, que fez com que as duas histórias ficassem bem parecidas. E como o filme acabou ficando bem diferente do livro, acho que a leitura desse segundo livro foi mais empolgante que a do primeiro, porque tinha uma carga de novidade maior. É leitura de entretenimento, sim, mas o Crichton fala de questões importantes com propriedade, além de escrever muito bem. Recomendo a leitura até mesmo para quem já conhece o filme, porque o livro traz muito mais do que uma simples aventura.