jota 08/06/2014Na Córsega...O sermão sobre a queda de Roma - título deste livro - tem a ver com Santo Agostinho, citado na abertura da obra e depois em quase todos os capítulos, com trechos que vão dando uma ideia da evolução da história aqui contada, passada em sua maior parte num lugarejo da Córsega. Contada com diálogos mínimos e frases e parágrafos longos, imensos às vezes. Mas tudo sempre muito bem escrito; em momento algum o leitor se perde pelos caminhos da escrita de Jérôme Ferrari.
A primeira citação depois da abertura, Talvez Roma não tenha perecido, se os romanos não tivessem perecido., assim como a última Pois Deus não fez para ti senão um mundo perecível. e Santo Agostinho não pensava exatamente sobre a queda de Roma dão a ideia de que tudo é perecível, ou seja, nenhuma construção humana é eterna, tudo tender a desaparecer ou ruir. Como diz o autor, a queda de Roma era apenas um exemplo dessa lei natural que se aplica a tudo. Acontecia no passado e continua acontecendo hoje em dia.
Essa ideia de queda, desaparecimento, que percorre o livro todo vem embutida principalmente nas histórias dos três personagens principais do romance: o velho Marcel Antonetti - nascido no início do século XX e marcado sobretudo pelas guerras mundiais e a da Indochina -, seu neto Matthieu e o amigo de infância dele, Libero, estudantes de filosofia que decidem abandonar Paris para administrar um bar num lugarejo pouco movimentado da Córsega.
Ali, Marcel passa grande parte de seu tempo olhando para uma antiga foto de família em que ele nem aparece e vai relembrando sua vida. Matthieu e Libero logo no primeiro verão administrando o bar passam a pensar que aquela era a vida que tinham pedido a Deus sol, garotas, música, bebida farta, clientes, prosperidade: o melhor dos mundos possíveis. Mas, fiel à ideia de Santo Agostinho, Ferrari vai nos mostrando aos poucos, como diz Milton Hatoun na apresentação, que o mundo é como o homem nasce, cresce e morre. Que sempre foi assim e assim será.
Bem, O Sermão Sobre a Queda de Roma pode parecer, já a partir do título, que se trata de um livro complexo, ou de ideias complexas talvez, mas não é nada disso, pois é sempre claro e interessante ainda que nenhum grande acontecimento seja encontrado em suas páginas. É um livro sobre pessoas - principalmente sobre Marcel, Matthieu e Libero - a maior parte do tempo. E como disse alguém, que nos importam as bicicletas, os automóveis ou os foguetes: queremos mesmo é saber sobre a vida das pessoas. De verdade ou personagens de histórias que parecem saídos da vida real...
Vencedor do Goncourt de 2012, principal prêmio literário francês, bem que o livro de Jérôme merecia uma nota mais próxima de 5 do que 4, mas como isso não existe aqui, então vamos ficar com 4 mesmo.
Lido entre 05 e 08/06/2014.