Juliana @4livreira 31/07/2013Genialidade no maior mistério da literatura universal! Veja resenha completa: limonadeofbooks.blogspot.com.br/2013/06/dom-casmurro-machado-de-assis.html
Ou Capitu, como muitos dizem, é uma obra-prima de Machado de Assis, um carioca que além de escritor, era: jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo. Ah, esqueci o principal: era um gênio!
Do começo ao fim, Bentinho, o garoto sensível, romântico, sonhador, aquele menino adorável traça uma narrativa de pistas ora sobre a traição ora não. Mas se engana quem pensa que é disso que eu vou falar! Não, caro leitor, vou falar da obra em si.
Vou falar das entrelinhas!
Quem lê pelas entrelinhas entende a essência do livro e não a aparência que este quer passar. O autor tem suas nuances e nos leva ao mundo de Bentinho, que vive com a mãe Dona Glória, viúva e ainda jovem, que se sustenta com as propriedades que este a deixou. Junto com prima Justina, tio Cosme, e o grande amigo e esperto (mais adiante vocês irão entender!) José Dias, eles moram na rua de Matacavalos, numa época em que mulheres eram submissas aos homens, a imagem e honra de um homem era sua fortuna e posses, um século que tudo era tão simples para as crianças que até me deu saudades da minha! Mas é isto que ele quer passar.
Sim, o livro começa já com o desprezado e rabugento Dom Casmurro, o fidalgo (Dom) que é excluído da sociedade e das relações por vontade própria. Ele mesmo diz isso! Começa uma lembrança do seminário, em que a mãe o levou por causa de uma promessa. Ah, essa promessa! O início inteiro fala da tal promessa que Dona Glória fez para que se seu filho nascesse com saúde, iria servir à Deus no seminário, virar padre e quiçá, Papa! Sim, o sonho da mãe dele é ver o filho de padre, regendo uma missa! Mas Bentinho não quer isso, não até chegar a vizinha do seu Pádua e mudar todo esse rumo apostólico.
Até completarem 14 anos, os dois eram apenas amigos, e viviam pra cima e para baixo à brincar de missa. O sonho do padre Cabral!
O romance inocente, doce e adolescente é lindo! Os dois planejam casamento, filhos e vida, nada dá certo. (Tudo só acontece 20 anos depois!)
Apesar de não concordar, e estar apaixonado por Capitu, a jovem e esperta menina do lado, com seu olhar conquistador e seu jeito atrevido, Bentinho vai para o seminário e lá conhece Escobar. Melhores amigos então, eles constroem uma amizade que perdura anos, em que ele vai em sua casa, conhece Capitu e então Sancha, a melhor amiga dela, com quem se casa e tem uma filha.
Mas esta relação improvável não é suspeitada por Bentinho até que Escobar morre, em um acidente terrível, quando ele já tem Ezequiel com 5 anos, mais ou menos e a mãe velha.
Então começa a longa perseguição pela verdade e pelo enigma que os dois levam ao túmulo. (Capitu e Escobar)
Gostei bastante, é um clássico, e a genialidade do enigma mantida há tanto tempo só faz com que Dom Casmurro permaneça na lista de maiores do mundo! A leitura é completamente rebuscada e difícil! Todo texto machadiano o é, mas fica aqui uma dica: leia com um bom Aurélio do lado, ou um dicionário que possua várias palavras não mais usadas!
A trama é só um pano de fundo para a verdadeira face da história.
SPOILER
Sabe-se que o tempo todo Bentinho joga pistas e mais pistas sobre o comportamento e caráter de Capitu, sua amada amiga e esposa.
Desde o início, em Matacavalos, quando eram crianças, ele narra sua desconfiança quanto à aparência e índole da criança chamada por José Dias de ‘’cigana oblíqua e dissimulada’’. Porém, vemos que não é só ele quem a vê assim! Outros personagens também a acham assim. Vemos prima Justina muitas vezes criticar a aproximação (ou bajulação, como ela diz) de Capitu com a mãe de Bento e percebemos o quão hábil ela é! Só que fica uma contradição e um dilema: seria Bento o traidor ou Capitu? Seria os dois?
Veja, falo de traição em outro patamar. Falo da traição com o leitor. Sim, ele nos trai! Aquele leitor que confia cegamente ao autor, ao narrador, ao personagem, por ser fiel e sua narrativa dizer aquilo que ‘acontece’, algumas coisas são passadas em branco. O título do livro chama-se: Dom Casmurro, logo sugere que não é sobre Capitu ou sua traição e sim sobre o solitário e reprimido Bentinho. Ele faz-nos pensar que é ela quem é má índole, dissimulada, quando ele quem é ardiloso em inventar uma narração em que se auto-define um ‘sonhador’ (aí dá a ideia à alguns leitores de que tudo foi imaginado por ele. Há essa hipótese.), romântico e até sensível. Apesar de não precisar de provas, vemos que Capitu pode sim ter-lo traído pelo fato dela própria ter confessado a semelhança do filho com o velho amigo seminarista Escobar.
Mas Bentinho enfatiza a veracidade e objetividade! Então ele nos engana quanto aos fatos e características que dá a Capitu? Sim! Porque são dele também. Ele joga com o leitor o tempo todo e se passa de pobre coitado e injustiçado quando é ele quem também nos trai! Ele diz que ela é sutil, habilidosa e prática, mas ele também não foge à isso. Ele mesmo, quando se separa dela, diz que já era caso pensado. Falso e calculista!
Então, você, que for ler ou leu, não se confie nele! É também dissimulado e subjetivo, dando-nos a impressão de que é ele quem é vítima. Mas se Capitu traiu ou o traía, ele então percebia, não?!
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