Luiz 06/03/2013
Um autor que saiu do frio
Quem leu "Se um viajante numa noite de inverno" do Calvino entenderá o que é um autor que um dia vou ler mas não sei quando, ou um livro cujo autor é bem conhecido, mas nunca li e um dia vou tentar ler, enfim, "Sempre um Colegial" veio para minhas mãos de um sebo, por 10 pilas, com status, de vou enfim saldar minha dívida com Le Carré.
O estilo lembra muito o cinema, os bons roteiros dos bons filmes, aqueles onde você é jogado no meio de uma trama e fica até o meio filme tentando se localizar e reconhecer o que se passa.No livro isto dura algo como 100 páginas, após as quais você não quer mais desgrudar de George (Smiley) e de Jerry.
George comanda o serviço secreto inglês, chamado o Circus, na época da Guerra fria, sob um clima de terra arrasada e descrédito. Depois que um traidor fora descoberto por ele dentro do Circus, o governo britânico e os primos americanos não esperavam mais nada do Circus.
Em busca de restabelecer confiança no serviço secreto Smiley procura alguma pista deixada encoberta pelo traidor. Encontrada uma pista a trama se desloca de Londres para o sudeste asiático (Hong Kong, Bangkok, Phnom Penh e Saigon) sob o pano de fundo da gruerra do Vietnâ. Contar mais é estragar o sabor da leitura.
Smiley é o oposto perfeito de 007, baixo, gordinho, de óculos e, como se não bastasse, corno. Os personagens construídos por Le Carré estão longe dos esterótipos do gênero hollywood, embora muitos dos seus livros renderam bons filmes e séries da BBC.
A leitura não é fácil, como a trama também não é, o estilo é realista, não há devaneios literários, a escrita relata de forma crua o desenrolar dos fatos e o leitor acompanha a longa trama numa posição sempre desconfortável. O gênero por um mestre. Para aficcionados ou ocasionais leitores dispostos.
Ao final das mais de 500 páginas, a sensação é de ter saído ferido nesta história toda. Mas valeu muito a pena. Terminamos ansiosos por reencontrar Smiley, mas não queremos mais falar de Westerby.