O Inominável

O Inominável Samuel Beckett




Resenhas - O inominável


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Arsenio Meira 13/09/2014

Iconoclasta, em silêncio.

Samuel Beckett foi um iconoclasta. O inominável integra a famosa trilogia ("Molloy", "Malone Morre" e este exemplar) de romances da lavra do escritor irlandês, que não obstante seu amor pela Irlanda (?), se mandou para Paris e escreveu quase toda sua obra em francês.O homem dinamitou a linguagem, e tinha pouca esperança no ser humano. Seus personagens são maltrapilhos, errantes; muitas vezes não tem nem sexo nem forma definidos, estão não raro imersos na sujeira. A ausência, o fracasso são outras marcas do texto beckettiano. Beckett endossou a passagem do existencialismo para o pessimismo. A época em que viveu não ajudou muito, pois - mesmo sem ter ido derramar seu sangue - ele vivenciou o drama pós-guerra.

As paisagens inóspitas e os diálogos de seus personagens, que denunciam a impossibilidade de comunicar algo,são evidências da realidade do pós-guerra. Sua linguagem sem ornamentos tem como função ressaltar o silêncio, e trucidar qualquer possibilidade de ordem na orbis do texto.A narrativa de Beckett mimetiza a situação do sujeito contemporâneo, à margem do sistema. Em seus enredos, predominam espaços nebulosos, cuja cor dominante é a cinzenta, compondo um cenário de desesperança e solidão. Não só a Trilogia, mas também obras como The lost ones (1970) e How it is (1964) mostram o cenário dantesco de seres angustiados, torturados e sem fé.

Em certa passagem de O Inominável, Beckett arma o cenário:
"Sou obrigado a falar. Nunca me calarei. Nunca? [...] A palavra experiência faria alusão a algo que é verdadeiramente experimentado. Mas, dessa maneira, também busca-se reencontrar a segurança de um nome, e situar o conteúdo do livro naquele nível pessoal em que o que acontece ocorre sob a garantia de uma consciência, num mundo que nos poupa da infelicidade maior, a de ter perdido o poder de dizer Eu. Mas O inominável é precisamente uma experiência vivida sob a ameaça do impessoal.

Diante disso, é preciso analisar, de forma concreta, como essa negatividade está presente em sua narrativa, especialmente em O Inominável, terceira parte da sua Trilogia, onde se percebe o ápice do processo de negação; este fel pode ser observado em todos os níveis linguagem. Trata-se de uma narrativa que se desfaz, continuamente, à medida que avança imersa em um monólogo interminável.

Afinal de contas, Godot definitivamente ainda não deu as caras. O jeito é esperar... A espera é "Paideuma" da angústia, e foi galgando o calcário das feridas do seu tempo, a partir desta aflição que o grande escritor irlandês construiu seu glossário de ruínas, sempre em silêncio.

Ricardo Rocha 27/10/2014minha estante
Beckett o aluno de Joyce =) to brincando...


Arsenio Meira 27/10/2014minha estante
rsrsrs... De certa forma... é válida sua afirmação. Ainda que Beckett,como vc sabe, tenha trilhado um caminho diametralmente oposto ao do seu velho Mestre...


Carlos Patricio 23/10/2015minha estante
arsenio manda muito




arthur966 08/10/2021

sou todas essas palavras, todos esses estranhos, essa poeira de verbo, sem fundo onde pousar, sem céu onde se dissipar, reencontrando-se pra dizer, fugindo-se pra dizer, que sou todas elas, as que se unem, as que se deixam, as que se ignoram, e nenhuma outra coisa, sim, toda uma outra coisa, que sou toda uma outra coisa, uma coisa muda num lugar vazio, duro, fechado, seco, nítido, negro, onde nada se mexe, nada fala, e que eu escuto.
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Joao 10/12/2010

Há sérios problemas em se fazer uma resenha sobre um livro de Beckett. É sempre complicado descrever tal ou tal coisa, encontrar motivos ou buscar"enbasamentos" para tentar passar uma ideia sobre o que é ou por que acontecem certos fatos. Nesse livro, as coisas parecem que se complicam um pouco mais: não podemos afirmar nada de concreto...ou quase nada: a coisa que nos fala é um ser pensante. E pensa muito. Essa é minha única certeza sobre a figura.

O que vem a ser esse ser? Seria ele Mahood ou Worm? Será que ele inventou Mahood na sua ânsia de pensar (ou a ânsia de pensar de Mahood foi que inventou a "coisa"?)? Seria o Worm? Mas como é possível se Worm não pensa? Worm não sente, portanto ele não é Worm. Mas tem alguém querendo que ele seja Worm? Ou seria isso também uma invenção dele?

Em minha bizarra mente, eu imaginava a Coisa/Mahood/Worm como alguém preso numa camisa de força,um esquizofrênico jogado numa sala acinzentada e fria de um hospício, sendo forçado a conversar com médicos ou sei lá o que sobre algo da qual ele nega em acreditar ter sido. Mas acredita por vezes, só para satisfazer o senhorio. Acredita por que ele não para de pensar. Não consegue e investe todas suas "forças" em pensar para tentar não pensar mais e aproveitar o silêncio que, provavelmente Worm sinta (mas Worm não sente!).

O livro é pequeno, mas tortuoso. Ele é denso, até por ser um fluxo de pensamentos que, ainda por cima, é de alguém que só o que faz é pensar, e que tem a esperança de um dia parar. Muitas vezes me perdi na leitura, porque meu fluxo de pensamentos sobrepôs o de Mahood (talvez ele seja mesmo Mahood...).

Do mesmo jeito que podemos ver que muito pode ser entendido com poucas palavras, vemos que um livro inteiro, pode não te dar nada além de incertezas. E Beckett faz de propósito. Assim como eu, quando resolvi (tentar) escrever algo sobre um livro que fala de algo inominável.

O fato de não ter sido escrita nenhuma resenha sobre o livro, explicaria melhor o que se tem a se falar no livro do que minha resenha.
Talvez o Nada explica melhor o livro do que essa resenha.
GabrielFontes 22/02/2012minha estante
Um dos poucos livros que eu não consegui. Um dia quem sabe, mas por ora, coloquei de lado.




Jakob von Gunten 09/08/2016

Texto sem tempo, espaço, personagem, situação ou conflito. Uma espécie de monólogo feito por uma voz sem corpo, uma máquina textual que discute o aprisionamento e os limites que a linguagem nos impõe. Um texto difícil, sem sentido imediato, mas impactante. Talvez o máximo da vanguarda do século XX, pois propõe a destruição de todos os valores literários "burgueses" e "realistas". Mostra o jogo da linguagem da maneira mais clara e desesperadora possível. Falar não faz sentido, mas não conseguimos parar de falar. Um drama primordial entre voz, silêncio e linguagem. Existir e não existir.​
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 29/07/2012

Samuel Beckett - O inominável
Editora Globo - 208 páginas - Tradução de Ana Helena Souza - Introdução de João Adolfo Hansen - Lançamento 2009.

Este livro do dramaturgo e romancista irlandês Samuel Beckett (1906 - 1989), prêmio Nobel de Literatura de 1969, publicado originalmente em 1953, no idioma francês, é o último da trilogia formada por Molloy (1947) e Malone morre (1948). O romance pode ser resumido como um longo monólogo de uma voz anônima, além do tempo e espaço. Uma voz que parece, por vezes, representar os pensamentos do autor mas que, por outro lado, não se define nunca como quem ou quê, um sujeito sempre indefinido. E assim, ao longo do texto, através de afirmações e contradições simultâneas a voz avança nas suas intermináveis reflexões sem nunca chegar a uma conclusão.

Beckett utiliza o recurso filosófico da aporia que, segundo Aristóteles, pode ser definido como "igualdade de conclusões contraditórias". Difícil de entender? Sem dúvida, mas também uma experiência única que vale a pena conhecer, além de contar com um dos finais mais lindos da história da literatura e que justifica o objetivo do livro como uma homenagem à linguagem (que é a minha interpretação, embora possam e devam haver muitas outras):

" (...) é preciso continuar, não posso continuar, é preciso continuar, então vou continuar, é preciso dizer palavras, enquanto houver, é preciso dizê-las, até que elas me encontrem, até que elas me digam, estranha pena, estranho pecado, é preciso continuar, talvez já tenha sido feito, talvez já tenham me dito, talvez já tenham me levado até o limiar da minha história, diante da porta que se abre para a minha história, isso me surpreenderia, se ela se abrir, vai ser eu, vai ser o silêncio, ali onde estou, não sei, não saberei nunca, no silêncio não se sabe, é preciso continuar, não posso continuar, vou continuar."
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dieipi 04/06/2022

puta que o pariu
há um fora e há um dentro e eu no meio, talvez seja isso que sou, a coisa que divide o mundo em dois, de uma parte o fora, da outra o dentro, isso pode ser fino como uma lâmina, não estou nem de um lado nem de outro, estou no meio, sou a divisória, tenho duas faces e nenhuma espessura.
celso.baptisti 07/06/2022minha estante
Ruim.


dieipi 07/06/2022minha estante
sim




Italo139 02/06/2023

Ahh a trilogia e marcante o inominável e algo que toca e faz com que você reflita pensamentos e existência
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