Aula 10: Santo Agostinho

Aula 10: Santo Agostinho Olavo de Carvalho




Resenhas - Aula 10: Santo Agostinho


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Luiz 02/09/2023

O legado de Santo Agostinho pra filosofia
Livro: História Essencial da Filosofia: Santo Agostinho
Autor: Olavo de Carvalho

Este livro é uma espécie de transcrição de um curso ministrado presencialmente pelo Prof. Olavo, aqui ele vêm de uma sequência de 9 aulas, sendo essa a décima, assim o objetivo se propõe a explicar a relevância de Santo Agostinho na história da filosofia.

Olavo pontua que esse momento histórico é delicado devido por um lado, a discussão sobre a filosofia grega dentro da Igreja, e por outro lado, a queda do Império Romano, nessa sequência de eventos Santo Agostinho surgia.

Existia na Igreja ideias conflitantes sobre a filosofia grega, alguns como Clemente e Justino eram favoráveis a filosofia grega por entenderem que nela existia em última análise a busca pela verdade, enquanto que de outro lado, como Tertuliano, condenava a filosofia grega por ser essencialmente pagã, até que finalmente tempos depois a filosofia é aceita pela Igreja.

O Império Romano, devido às invasões bárbaras, começa a se fragmentar, ao passo em que há uma decadência moral acontecendo, nesse "olho do furacão" surge Santo Agostinho, alguém que presencia esse momento de ruptura, fato esse que servirá de inspiração para formular uma de suas maiores obras "A Cidade de Deus".

Olavo afirma que compreender a grandiosidade de Santo Agostinho só é possível ao se compará-lo com outros filósofos, se vale principalmente de Descartes e, mais ao fim, de Maquiavel, traz paralelos interessantes também com Boécio.

Enquanto Descartes faz uma investigação filosófica buscando as raízes do seu "eu" pensante, do qual estrutura todo o seu pensamento baseado na dúvida cartesiana como elemento estruturante de todo o pensamento racional e, por consequência, da realidade, e que em si, revela um "eu" totalmente desconexo dos elementos mais primordiais da experiência humana, Agostinho num simples movimento de conversão a fé Católica no exercício da confissão, revela uma investigação retroativa e histórica, digna da filosofia clássica grega "conhece-te a ti mesmo".

Olavo pontua a marca filosófica deixada por Agostinho é infinitamente superior a de Descartes na medida em que consegue integrar uma reflexão sobre si mesmo desde a infância até a vida adulta, ponderando suas ações, seu conhecimento, suas vivências e experiências, uma investigação capaz de ao final ele mesmo compreender-se melhor, mas como também o leitor de sua obra "Confissões" entenda quem foi Santo Agostinho, sua vida, seus vícios, seus erros, seus acertos, compreendemos a alma humana em seus mínimos detalhes e contradições, enquanto Descartes no total oposto, nada sabe sobre si mesmo, faz uma investigação completamente mecânica e que nada de "propriamente humano" é possível verificar, logo faz reflexo a um tipo de filosofia que ainda que seja subjetivista parece não ter ligação alguma com a realidade, quanto mais com a experiência humana.

"Veja a que léguas de distância estamos daquela análise puramente mecânica, daquela pura justaposição de fatores que Descartes, existe um recuo formidável! Descartes não alcança o grau de complexidade da análise que Santo Agostinho faz. Santo Agostinho está falando de uma alma real que se confronta realmente com as suas incertezas e que tem que dar conta de sua própria existência. Descartes não, ele isola tudo isso e faz uma mera análise de conceitos. E, pior, acredita que está contando uma história real. Acredita que suas Meditações metafísicas são uma autobiografia interior quando não são, mas apenas uma descrição de um raciocínio esquemático. Isso é o mesmo que dizer: Descartes não tinha consciência do que se passava na sua alma; ele se conhecia muito mal, e tinha uma visão de si muito mecânica e esquemática; deixou escapar o personagem vivo que tinha dentro de si. Comparado com Santo Agostinho, é uma perda absolutamente formidável."
(Olavo de Carvalho, p.25)

Olavo ressalta que esse feito de Santo Agostinho é louvável em diversos quesitos para nós "filhos dos filósofos modernos", o esforço intelectual que tanto é visto na Patrística quanto na Escolástica são de uma elevação filosófica altíssima pois, além das Igrejas serem lugares que proporcionavam a educação cultural, como a leitura e a escrita, os pensadores estavam também buscando sua salvação, consequentemente o esforço era genuíno. A Igreja nesse sentido exercia uma papel preponderante para a riqueza intelectual da sociedade. Após a filosofia moderna, o erro de Descartes, se torna parâmetro, assim verifica-se um o surgimento de um conjunto de filosofias que já não buscam nem a Verdade, nem a realidade, muito menos um autoconhecimento, mas sim uma espécie de mundo mecânico, ou um mundo desconectado do indivíduo ao ponto de ser quase impossível apreender o mundo real.

Olavo também pontua o esforço feito por Santo Agostinho em comparação a Maquiavel, que em movimento contrário realiza o mesmo esforço no intuito de extrair a "pior versão" do ser humano, e que assim como Descartes, também faz uma filosofia desconectada consigo mesmo, pois se levassem a sério seu livro "O Príncipe" ele seria morto; comenta sobre a mesma coisa sobre Nietzsche. Faz-se paralelo com Boécio no sentido de que em consonância com Agostinho, ele também faz uma reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo criando uma obra magistral.

O livro apesar de ser curto, carrega inúmeros pontos interessantíssimo de reflexão, mas lógico, como sendo uma aula, por vezes o assunto é desviado e retomado só posteriormente, mas ainda sim, é um excelente material, pude sinceramente ver a obra Confissões com um olhar muito mais aprofundado depois de ler esse livro.
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