Tiago 25/10/2018Muita forma e algum conteúdo"Pornopopéia" é o tipo de literatura que eu costumo evitar, aquela que prioriza a forma e o estilo e deixa o conteúdo em segundo plano. Ok, por vezes Reinaldo Moraes consegue igualar um pouco as coisas, produzindo trechos engraçados, irreverentes e bastante politicamente incorretos. Mas para um livro de quase 500 páginas, achei esses momentos um pouco escassos.
Em termos de forma, a linguagem "marginal" do Zeca, que é o narrador e o interlocutor da obra, é bastante incoerente. Ele vai do "rancou" para "escangalhou" em menos de três frases. Se fala português errado, no inglês ele acerta tudinho. Ou seja, pelo histórico do personagem (estudante da USP, morador de Higienópolis, fala inglês) a linguagem que ele usa não condiz com sua educação, é apenas uma tentativa de soar diferenciado, marginal como o único filme que ele dirigiu.
Dividido em duas partes, cada uma apresenta um mote. A primeira uma suruba que demora muito a acontecer, mas que ao menos faz a espera valer a pena pois é realmente um acontecimento erótico repleto de sexo sem nenhum tipo de pudor e habilmente relatado por Zeca. Já a segunda parte envolve uma questão policial que além de arrastada apresenta um desfecho morno.
Bastante irregular, "Pornopopéia" vai fundo no sexo e na bagaceira, mas a ambição de criar uma epopeia pornográfica escrita em uma linguagem "original" fazem o livro soar inconsistente e cansativo em diversos pontos. Tem seus momentos, mas a frase "menos é mais" cairia maravilhosamente bem aqui.