Paulo Sousa 08/06/2020
Leitura 29/2020 [Lista 1001 livros]
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Meu Michel [1968]
Orig. ????? ???? (Michael Shelí)
Amós Oz (Israel, 1939-2018)
Companhia das Letras, 2002, 304 p.
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?O tempo e a memória preservam especialmente as palavras banais. Favorecem-nas com sua compaixão. Estendem sobre elas uma penumbra piedosa? (Posição Kindle 1124/27%)
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O livro é o relato pessoal do desgaste psicológico da narradora, Hana Gonen sobre sua vida conjugal ao lado de Michel. O período compreende parte dos anos 50, quando ainda se estabelecia a consolidação da independência de Israel, fato que muito tem a ver com esta obra ímpar.
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Oz vai narrar um longo processo de desprendimento da realidade, onde a personagem Hana mantém uma relação conturbada com o professor de geologia Michel Gonen. Como uma espiral às avessas, ela recua no tempo ao momento em que conheceu aquele que viria a ser o seu marido e passa a narrar toda a história desse relacionamento.
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Assim, vamos sendo levados pelo turbilhão sensorial de Hana, desde quando era uma jovem estudante de letras, passando pelo namoro, o casamento e o progressivo estranhamento que se instala na jovem esposa em relação ao marido, sob uma ótica desconectada por vezes, mas que anseia por libertar-se. Michel, ao contrário, é centrado, equilibrado, o típico intelectual que busca a vida sem maiores escrutínios. Essa relação dualista por vezes se chocará, e é das fissuras do embate que vamos conhecendo os fantasmas que circundam e assombram Hana.
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No livro, o teor político é forte e evidente. Por isso mesmo, muitos dos que encararam essa leitura densa e perturbadora acreditam que Hana é na verdade uma metáfora do próprio processo de nascimento e amadurecimento do estado judeu, o que mostra com perfeição o engajamento político deste intelectual soberbo que Oz, morto em 2018, é.
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Estranhamente, o livro faz parte da ?Lista 1001 Livros Para Ler Antes de Morrer?, mas, ao consultar meu exemplar para a foto clássica e ?dar baixa? em mais um lido nele, fico surpreso que foi incluído na mesma página de ?A caixa-preta?, também de Oz, e que li faz bem pouco tempo. Detalhe que achei absurdo, já que, apesar de algumas semelhanças, ?Meu Michel? é livro suficientemente relevante para ter seu espaço único. Paciência. Prossigamos.