Higor 09/05/2023
"LENDO PULITZER": sobre um remake de clássicos latino-americanos
Se por um lado é incrível ver livros fora da caixinha, como "A fantástica vida breve de Oscar Wao", romper barreiras e alcançar méritos inimagináveis, como o de ganhar o Pulitzer e ser eleito o melhor livro do século 21, por outro, é um tanto frustrante lê-los e ver que foram superestimados.
Tudo bem que o Pulitzer não é o melhor parâmetro em questão de premiações, afinal, sua irregularidade é notória, mas mesmo que qualquer lista de melhores livros seja subjetiva, escolher um livro dominicano para ser o primeiro dentre os melhores livros, não do ano ou da década, mas de um século que está apenas começando, chama a atenção, não?
O leitor logo se questiona, curioso, por menor que esteja: o que este livro tem, o primeiro romance em uma bibliografia de duas coletâneas de contos, de tão interessante para desbancar nomes consagrados e populares, como Ian McEwan, Chimamanda Ngozi Adichie, Elena Ferrante e Zadie Smith, dentre tantos outros? Para mim, nada. Tanto que, em listas mais recentes, ele cai vertiginosamente de 1º para 63º, o que é muito mais coerente.
Importante ser justo e falar que "A fantástica vida breve de Oscar Wao" é, sim, um livro interessante, em que a narrativa atrai a atenção do leitor, mas também é preciso admitir que o livro não se sustenta sozinho e, pior, parece mais um remake de tantos outros clássicos latino-americanos consagrados, como se o livro fosse uma versão modernizada para atrair novos leitores, um público alvo recente ou em um nicho específico, certamente de receosos ou que consideram clássicos como Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, Juan Rulfo e tantos outros como chatos, difíceis ou antiquados de se encarar.
Digo isso porque os grandes temas abordados em "Cem anos de solidão", "Ficções", "A casa dos espíritos", "Pedro Páramo" estão presentes em "A fantástica vida breve de Oscar Wao". As ditaduras latinas, o realismo fantástico e até mesmo as gerações de famílias e suas narrativas emblemáticas se fazem presentes, mas de maneira organizada, ora tímidas, ora mais modernas e descontraídas, mas nada de tão renovada ou louvável.
Seriam, então, as referências às culturas geek e pop o grande atrativo de "A fantástica vida breve de Oscar Wao"? A mistura eficiente de espanhol com inglês em uma mesma frase, como se fosse um novo idioma usado pelos latinos nos Estados Unidos?
Claro que todo livro não precisa ser necessariamente, original, ou iniciar um novo estilo ou escola literária, mas apesar de "A fantástica vida breve de Oscar Wao" ser divertido de se ler, o que já é um dos objetivos de um livro, é bastante comum ver outros leitores falando: este livro fala sobre a Ditadura na República Dominicana, mas para entender melhor esse contexto histórico, leia livro tal. Se "A fantástica vida breve de Oscar Wao" se propõe a falar sobre tal assunto, ele não se basta? Ele não se sustenta sozinho, mas precisa de apoios, de outros romances ambientados no mesmo contexto, para poder caminhar?
"A fantástica vida breve de Oscar Wao", de Junot Diaz, não precisaria se apoiar em "A Festa do Bode", de Mario Vargas Llosa, para ser um bom livro a abordar a Ditadura Militar da República Dominicana, muito embora saibamos que se inspirou nele - ou mergulhou de cabeça na fonte - para escrever um dos mais emblemáticos capítulos de seu livro.
Acredito que o autor tenha potencial, tanto que o livro começa muito bem, mas se perde com a parte da mãe, principalmente, e quando volta, não parece mais tão promissor, e sim morno, pouco natural e apelativo até, como se forçasse o leitor a acreditar que o destino de Oscar Wao fosse um, para depois fazer um plot twist e apresentar um desfecho que leitor nenhum esperava.
Um tanto fora da caixa, "A fantástica vida breve de Oscar Wao" é um bom livro, com muitos defeitos, mas não o melhor livro do século ou sobre o assunto. Incrível para uns, dispensável para outros, é um livro democrático, pelo menos.