Fabio.Nunes 11/01/2023
Uma face da história do Brasil
Os Sertões ? Euclides da Cunha
?Tinha nos braços uma menina, neta, bisneta, tataraneta talvez. E essa criança horrorizava. A sua face esquerda fora arrancada, havia tempos, por um estilhaço de granada; de sorte que os ossos dos maxilares se destacavam alvíssimos, entre os bordos vermelhos da ferida já cicatrizada? A face direita sorria. (?) Aquela velha carregava a criação mais monstruosa da campanha.?
Essa obra é considerada um clássico nacional. Escrita pelo jornalista Euclides da Cunha em início do século XX, ela aborda em tom jornalístico e detalhado o massacre de Canudos. Mas foi além de uma descrição pormenorizada das 4 expedições que açoitaram o arraial de Canudos. Acima de tudo, esse livro é uma denúncia de um massacre sobre um povo marcado pelo esquecimento secular e coletivo do país.
A primeira parte do livro faz apenas uma descrição cansativa dos processos climáticos, botânicos, geológicos e geomorfológicos da região. Coisa que cansou até um entusiasta de geomorfologia, como eu.
A segunda parte é a mais anacrônica do livro, onde vemos um cidadão formado por ideais positivistas escrevendo sobre a gênese do povo jagunço, flertando fortemente com teorias de darwinismo racial. Pulei sem dó.
A terceira é, em si, a maior parte, pois é a que descreve todas as expedições até Canudos.
Mas não se engane, o livro é difícil de ler devido ao vocabulário antiquado e recheado de rebuscamentos (coisa muito própria da época) e em muitos momentos me cansou. E acho que você só deveria lê-lo se realmente estiver interessado nesse momento tão sangrento da nossa história.
Um livro que nos mostra um país dentro de outro país, onde o Estado agiu para sufocar uma nova maneira de viver, à parte do poder constituído. E Euclides da Cunha não esconde seu assombro diante de tudo o que viu.
Recomendo o livro, com as ressalvas que fiz, deixando aqui um último trecho:
?Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.?