Bbortolotti 06/02/2012
Os Sertões de Euclides
A terra. O Homem. A luta. Os Sertões é antes de tudo um relato completo sobre a Guerra de Canudos. A terra, chamada de sertão é o palco. O homem é o sertanejo. A luta é entre uma república recém instaurada e um povoado esquecido pelo Estado.
De um lado, os ideais de uma república, o exército que a saúda e luta em seu nome; de outro os jagunços, sertanejos formados a partir da miscigenação racial entre índios e brancos e com o espírito desbravador dos bandeirantes acabam fundando um arraial em terras esquecidas, às margens do rio Vaza-Barris. Sob a influência espiritual de um asceta, um líder carismático chamado Antônio Conselheiro que consegue, a partir de seus sermões religiosos, mobilizar massas e desprezar a República, reunindo os sertanejos para a construção de uma terra prometida, onde nem Estado e nem a Igreja conseguiriam penetrar. Canudos, o arraial que não se rendeu; que derrubou quatro expedições do exército; o arraial que resistiu até os dois últimos homens, o último velho e a última criança;
Euclides, que via os sertanejos como degenerados, como uma raça miscigenada inferior, teve que reconhecer a partir do trecho mais conhecido do livro: “... o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Os jagunços, esquecidos pelos homens do litoral, pelos homens do sul, eram homens bárbaros que conseguiam usar o ambiente a seu favor (por isso a descrição densa da geografia e do clima no capítulo “A Terra”), conseguindo derrotar exércitos inteiros por quatro vezes. Ali, as forças armadas da república, com a organização prussiana das tropas, não se adequaram. Os guerrilheiros de Canudos fizeram uma aliança com os sertões e ali os homens do Sul e do litoral sucumbiram pela fome, pela sede, pela estratégia desordenada dos sertanejos.
O resultado do relato de Euclides da Cunha é uma das primeiras obras que ajudam a pensar o Brasil como nação. Influenciando a ciência, a política, a literatura, o cinema e os movimentos artísticos como o Modernismo, a obra aponta as dicotomias do país: litoral civilizado x interior bárbaro; Sul rico x Norte pobre; cidade x campo. Euclides aponta para os problemas com que a República tem que lidar para construir uma identidade nacional. Se a obra em alguns momentos apresenta trechos que seguem o determinismo e as teorias raciais preponderantes da época, por outro lado propõe a inclusão desses sertanejos esquecidos, devendo incorporá-los ao projeto da república, da civilização, para a criação de um projeto para a construção uma identidade da nação brasileira.