Henderson 28/12/2014
Bom livro
A primeira coisa que chama a atenção em “Digam a Satã…” é a bela capa colorida com motivos geométricos. Junte a isso a um título incomum e é uma ótima isca para “pescar” leitores desavidos numa estante de livraria.
A estrutura do texto também é incomum. É narrado em primeira pessoa, mas por seis personagens diferentes. Tecnicamente o nome disso é escrita polifônica. Até onde eu me lembre, só li um outro livro assim, o excelente Os rostos de Lenora, de Daltro Conrad.
O fio condutor da história é Magnus Factor, um imigrante sem origem revelada que mora em Dublin, Irlanda, onde se passa a história. Magnus é atraído por russas, o que para ele é qualquer mulher eslava – o par romântico dele acaba sendo uma eslovena. Ele e seus amigos que são donos de um city tour que passa por lugares assombrados de Dublin são um dos núcleos onde se desenvolve a história. Detalhe que os lugares são todos inventados por eles mesmos.
O outro núcleo é composto por uma seita esquistotérica maluca que acredita em ETs, batalhas cósmicas e no poder dos ofidios. Sim, cobras. Nesse núcleo está a melhor personagem de todas, Patrícia, uma pré-adolescente que faz excelentes reflexões sobre a vida, o Universo e todas as coisas. A revelação da verdadeira “identidade” dessa personagem, quase no final, é um dos pontos mais engraçados do livro. Seu queixo vai cair. Literalmente.
Parece que os dois núcleos nunca vão se cruzar, e você só sabe a relação entre os dois bem no final, nas últimas páginas mesmo. Aí todas as pontas são amarradas de forma coerente, apesar do autor deixar margem para interpretações a gosto do leitor.
Só acho que faltou um capítulo narrado pela namorada de Magnus, a Stefanija. Teria sido interessante, bem interessante. Poderia ser colocado no lugar do capítulo ocupado por um dos sócios de Magnus, o polonês Zbigniew, que eu achei totalmente dispensável.
No fim, você fica sem saber exatamente como classificar “Digam a Satã…”. Não é um livro de humor, apesar de ser sutilmente engraçado em alguns pontos. Não é um romance, apesar de ter um que conduz a história, e ele ser vendido como um. Mas é um livro divertido, que faz rir e pensar ás vezes. A estrutura é meio caótica, parece que nada faz sentido, mas de repente faz. Vale a leitura.