Dani do Book Galaxy 02/06/2020Poderia ser um sci-fi, mas é um YA com algumas mensagens sensíveis e um romance pé no saco Já li outros livros do David Levithan, e em todos observo a mesma tendência também encontrada nos romances de John Green: a de se preocupar mais em criar "quotes memoráveis" do que de fato desenvolver uma história.
Tendo esclarecido este ponto, acho que o autor começou bem com "Todo dia". A premissa me interessou muito e gostei da forma como ele a abordou - como descrever, de forma interessante e coesa, uma história onde o protagonista nunca é o mesmo? Onde ele continua com a mesma essência em seu interior, mas acordando cada dia no corpo de uma pessoa diferente?
Claro que fui com um pouco de sede ao pote, esperando uma explicação sobre esse fenômeno ou, pelo menos, um desenvolvimento dele através da personagem. Entretanto, David Levithan preferiu gastar suas palavras com um romance teen bastante chato, para o qual eu não dei a mínima.
Achei que não havia muita química entre as personagens e a coisa ficou bem rasa, repentina, um "instalove" bem bobo de acompanhar.
Porém, por trás disso tudo, o autor levantou umas questões que achei interessantes e ficaram bem explícitas por trás da história chata.
Acho que a principal mensagem - e mais óbvia - foi a clássica premissa de que "O que importa é o que está por dentro, não por fora"; "A beleza interior é o que realmente conta". Partindo dessa ideia, a personagem nos leva então fazer questionamentos sobre amor incondicional - não importando quem você é por fora, nem onde você vive, como se comporta e qual sua origem. Apenas, literalmente, o que você carrega DENTRO de si.
Além disso, outra mensagem que achei bacana de trazer, sobretudo para o público jovem, foi a sobre o sentimento tão intrínseco do adolescente de querer pertencer a algum lugar e a alguém; a amar e ser amado por quem ele é de fato. Nosso protagonista - “A” - sabe quem é por dentro mesmo que mude todo dia por fora.
Outra coisa interessante sobre o modo como o autor criou o protagonista foi que ele não possui um gênero definido - a cada dia, acordando no corpo de um adolescente diferente, em um momento A pode ser uma garota heterossexual; no outro dia, um garoto bissexual; e por aí vai.
Essa questão do gênero fez com que eu mesma me questionasse sobre o modo como encaro a literatura e como minha mente está acomodada às tendências heteronormativas, porque, apesar de "A" sempre mudar, eu o imaginava como um "ser" ou espírito majoritariamente masculino, já que ele se apaixonou por uma garota, Rhiannon.
E falando em Rhiannon... eis um elemento que contribuiu para eu não ter curtido tanto a leitura.
Que adolescente maluca e inconsequente é essa? Em minha singela opinião, Levithan quis explorar os sentimentos avassaladores que atingem os adolescentes quando estão apaixonados, enfim; aquela coisa inconsequente, de tremer as pernas, de acelerar o coração... mas só me pareceu uma sequência de decisões erradas, onde o protagonista parte de uma maturidade notável para uma loucura de ser movido por seus desejos adolescentes.
Bem, apesar de toda essa loucura adolescente, fiquei curiosa com algumas coisas.
O autor não explica bem sobre o por que de "A" passar por esse fenômeno, onde ele acorda somente em corpos de adolescentes nos EUA e na mesma cidade.
Fora a óbvia conveniência de fazer a história fluir melhor dessa forma, me pergunto por que o autor não explorou esse fenômeno em adolescentes ao redor do mundo, ou em outros estados. Aliás, ele não explica absolutamente nada deste aspecto - e acho que é bem aqui que a Daniella leitora de sci-fi sofre.
O livro tem uma continuação, e este primeiro volume termina de uma forma que, por mais que eu tenha detestado a forma como tudo aconteceu, fiquei extremamente curiosa para ver o desenrolar. Em algum momento da minha vida, vou ter que engolir o orgulho e ler essa continuação.
Por isso, minhas três estrelinhas ao Levithan. Mas também fica aqui meu apelo: autores, parem de fazer os adolescentes serem insuportáveis, por favor! Nem todos são assim, eu confio em vocês para acabar com este estereótipo!
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