Youko 21/02/2023Após ter tido uma vida regada a poder e ao prazer de comer, o crítico gastronômico, Pierre Arthens, depara-se com o próprio coração dando suas últimas batidas, num aviso de que restam-lhe poucas horas de vida. Há, então, a urgência de cumprir seu último desejo: relembrar o gosto de algo que comeu há muito tempo, de que já não se lembra mais.
"Vou morrer em quarenta e oito horas - a não ser que esteja morrendo há sessenta e oito anos, e que só hoje tenha me dignado notar."
Sendo o primeiro livro da minha TBR obrigatória deste ano, eu tinha certas expectativas sobre A Morte do Gourmert, mesmo tendo uma leve noção de que ele não seria, para mim, como A Elegância do Ouriço foi.
E, de fato, foi o que aconteceu: A Morte do Gourmet é um bom livro, mas não ganhou as minhas graças da mesma forma que seu sucessor.
A jornada de Pierre Arthens antes de sua morte me cativou somente nas primeiras páginas, depois foi difícil para eu gostar novamente da história. Acredito que foi a forma presunçosa como a autora guiou sua bela escrita, com o intuito de acompanhar a personalidade de seu protagonista. Foram divagações e mais divagações sobre comida, coerentes com o enredo, mas que não me fizeram nem salivar.
Para ser justa, algumas passagens me tocaram genuinamente. Há uma em especifico, bem curtinha, que me trouxe um bonito sentimento de nostálgia e quietude. Me fez lembrar de momentos felizes, deixou o coração quentinho.
"Rituais de férias, sensações imutáveis: um gosto de sal no canto da boca, os dedos enrugados, a pele quente e seca, os cabelos colados que ainda pingam um pouco no pescoço, o fôlego curto, como era bom, como era fácil."
Se você já leu algo da Muriel Barbery e gosta de suas histórias, A Morte do Gourmet é um livro interessante para observar o processo de amadurecimento da escrita dela. Agora, se é seu primeiro contato com a autora, eu recomendaria começar por outro título.