Leonardo 04/07/2011
Genialidade absoluta
Disponível em: http://catalisecritica.wordpress.com
Terminei hoje Enquanto Agonizo, livro escrito em 1930, em um período de 8 semanas. É um romance com poucas páginas, mas de uma genialidade absoluta. O livro narra um episódio inusitado da família Bundren: A mãe, Addie Bundren, morre e o pai, Atie Bundren, junto com os filhos – Cash, Darl, Jewel, Dewey Dell e Vardaman, vão enterrá-la em na sua cidade natal. Justamente quando ela morre uma feroz tempestade derruba duas pontes e atrapalha muito os planos da família.
A história é contada a partir de pequenos – às vezes minúsculos mesmo – recortes, como se fossem depoimentos de diversos personagens, incluindo todos os componentes da família, vizinhos e pessoas que cruzam a sua trágica peregrinação.
O autor aproveita esse estranho episódio para traçar um perfil de uma família que nunca se amou e que tem diversos pontos a serem ajustados.
Não dá para escrever muito. Enquanto Agonizo precisa ser lido pelo menos duas vezes. Cumpri a primeira parte.
Quando cumprir a segunda, retornarei ao blog.
Para não fugir à regra, Faulkner abusa (no bom sentido, no melhor sentido) do seu refinadíssimo estilo, presenteando-nos com pérolas, algumas das quais transcrevo a seguir:
1 – Um dos textos mais complexos e malucos, faz parte do capítulo de Darl, o mais confuso dos filhos:
“Num quarto estranho você tem que ficar vazio para dormir. E antes de estar vazio para dormir, o que você É. E quando você está vazio para dormir, você não é. E quando você se enche de sono, nunca foi. Não sei o que sou. Não sei se sou ou não. Jewel sabe o que ele É, porque ele não sabe que ele não sabe se é ou não. Ele não pode ficar vazio para dormir porque ele não é o que é e ele é o que não é. [...] E posto que o sono é não-ser e a chuva e o vento são era, a carroça não é. Mesmo assim, a carroça é, porque quando a carroça é era, Addie Bundren não será. E Jewel é, então Addie Bundren deve ser. E então eu devo ser, ou eu não poderia ficar vazio para dormir num quarto estranho. E se eu ainda não estou vazio, eu sou.”
2 – Uma das descrições mais fantásticas:
“Parece uma figura mal talhada em madeira bruta por um caricaturista bêbado.”
3 – Sem comentários:
“Foi quando aprendi que palavras não servem para nada; que as palavras nunca se encaixam nem ao que querem dizer.”