Resenhas - A sociedade contra o Estado

Sacripanta 20/12/2012

Altamente recomendado
Fabulosa coletânea de artigos de Pedro Clastres que tem como tema central a questão do poder nas sociedades primitivas. Esse livro é um convite a romper com todas as baboseiras que nos foram faladas durante o ensino médio e que ainda repercutem nos meios de comunicação, sem deixar, por isso, de apresentar farto material para que todos que simpatizam com a antropologia ou com a discussão sobre o poder possam se deliciar. Os créditos dessa façanha, acredito, vão tanto para o autor quanto para o tradutor, pois o livro tem uma escrita muito boa, clara, objetiva. Esse livro pode abrir as portas para um novo entendimento de desenvolvimento, Estado, chefia, linguagem e sobre os indígenas americanos.

Nanda 25/04/2020

Boa leitura
Esse livro retrata muito bem a sociedade e os problemas do Estado com embasamento histórico e teórico.

Leitura obrigatória para a faculdade

minefreitas 17/01/2022

Rico em detalhes
O antropólogo Pierre Clastres é muito vinculado ao anarquismo, e neste livro ele nos leva a compreender como funcionam as sociedades que não possuem um estado como conhecemos. Ricos detalhes e apesar de seu viés anarquista e da própria ideia do livro, não vi estampada sua ideologia, vi a descrição minuciosa de hábitos, costumes, "crenças religiosas" que fazem a roda continuar girando de forma saudável a todos. Eu discordo da ideia de que seja possível uma sociedade sem estado, pois o livro trata justamente de sociedades pequenas, onde certas crenças as vezes são suficientes para manter a ordem das coisas.

Kyririm 17/04/2022

Oré?
Umas das onrasais marcantes de toda sua trajetória na Antropologia, Pierre Clastres ressalta a formação social dos nativos na qual ele teve contato (Guaranis Mbyá). Ele desmonta toda a idéia racista e etnocêntrica construída instituncionalmente por grupos políticos que se estabelecem no capital (BOURDIEU, 2004), dessa forma ele pretende abranger o debate sobre a Antropologia política e etnologia em uma perspectiva anti-colonial. Oré ou "Nós" se projeta em um questionamento sobre como a objetificação dessa violência cai nas sociedades nativas, retomando o que já foi abordado aqui.

Gustota 11/06/2014

Não é um livro sobre anarquia, mas enche anarquistas de esperanças.
Diferente do que possa parecer, a coletânea de ensaios da Sociedade Contra o Estado não é uma ode ao anarquismo, à destruição do Estado e à horizontalidade como inicialmente possa parecer para quem só ouviu falar de longe sobre este livro. É antes de tudo um trabalho de antropologia política voltado à explicação da complexidade política dos ameríndios, em especial os Guarani e os Tupinambás, tidos como "primitivos" em relação aos seus vizinhos das civilizações hierarquizadas andinas e mexicanas.

Aqui, a preocupação do autor é entender por meio da perspectiva nativa como se dá a liderança numa sociedade onde ela aparentemente está ausente. Não há demarcações de líderes nem de liderados. Não há uma força coercitiva tradicional, nem um rígido sistema legitimador do poder, no seu sentido mais weberiano. O que há é um esforço culturalmente arraigado das sociedades indígenas em sabotar constantemente os possíveis focos de poder, onde eles possam se concentrar.

Há aqui uma troca subjetiva entre a liberdade que o chefe da tribo dispõe em praticar a poligamia (lembrando que a mulher na perspectiva já trabalhada por Lévi-Strauss aqui é parte de um sistema de trocas intertribais baseado na dádiva) e sua voluntariedade para servir a tribo como líder, sendo que seu trabalho é o mais penoso, uma vez que não dispõe de legitimidade alguma. Ele passa a falar no centro da aldeia ininterruptamente sem que tenha qualquer lastro de respeito ou solenidade. Sua autoridade se manifesta no momento em que a sociedade se vê frente da necessidade de uma liderança, como numa guerra. Logo após o evento, sua autoridade é dissolvida.

Logo, é a partir dessa visão que o autor trabalha, derrubando os últimos ranços de um evolucionismo que poderia postular sem culpa acadêmica que aqueles povos ameríndios aparentemente anárquicos estão aquém do desenvolvimento, utilizando-se de um termômetro político eurocêntrico. Se é possível fazer de fato uma leitura anarquista deste livro, seria a de que a autoridade, a estratificação e a hierarquia não são assim tão naturais e universais como as ciências sociais e a história poderiam crer, assim como uma sociedade não necessariamente se desintegra ou não sedimenta base sem a sua presença.

Malu Fernandes 03/06/2016

Textos que não precisam ser lidos necessariamente na ordem apresentada,
ainda que eu tenha gostado mais de uns do que outros, em sua totalidade é uma obra que transpõe barreiras e apresenta ideias que diferem de tudo que nos foi dito por uma vida inteira (ou boa parte dela).
Nos faz pensar o que são de fato povos primitivos, que é visto como algo tão pejorativo e se primitivos não seríamos nós, na verdade.

Milena.Bessan 23/05/2022

Gostei demais desse livro, as leituras da faculdade estão me surpreendendo no sentido de não serem totalmente massantes e cheia de palavras difíceis.
Me surpreendi, e faz com que a gente rompa os padrões estabelecidos dos povos indígenas.

Anny Campos 04/06/2013

RESENHA CRITICA EM HISTORIA ANTIGA I - UFMT
“A sociedade de hoje é controlada pelo Estado, e por isso somos pacíficos e civilizados”, isso é o que o Estado e as ciências nos querem fazer acreditar, hoje o Estado domina a sociedade e somos subordinadas a ele. O que aconteceria se hoje todos nossos poderes do estado: Político, jurídico e social desaparecessem? Seria um caos, pois estamos condicionados desde nosso nascimento a viver “programados”, seguindo as leis, e ordens da “sociedade”, se não as seguir você terá de pagar por isso, sendo com prisão ou em meios monetários. Mas isso nos torna mais pacíficos ou civilizados do que os povos antigos onde ainda não existia o Estado?

Não concordo com esse ponto de vista que o Estado e a Sociedade desejam impor aos membros dessa sociedade controlada, se formos ver, as guerras de hoje matam muitos mais do que no passado? Será pela tecnologia avançada? Sim, mas antigamente, os povos também tinham meios de matar, mas não atacavam por poucos motivos, senão a sua sobrevivência, e hoje? Matamos porque o Estado mandou e quer aumentar seus territórios. Ao invés de dialogar e tentar de todas as formas possíveis não entrar em conflitos que resultem mortes, ao primeiro sinal de divergência sacam suas armas e bombas nucleares e começa o matadouro.

Quando estudo sobre os povos antigos encontro uma certa dificuldade em entender como se comunicavam, se não havia escritas? Como eles interagiam entre si sem leis a regelos? Sim é confuso, principalmente para alguém do século XXI tentar entender algo que ocorreu a mais de 10000 anos atrás. Mas eles ainda assim tem sua historia. Imagine que alguém desse século acabe parando naquele período? Seria uma bagunça claro, mas se formos pensar bem, se essa pessoa não tiver discriminação pré-imposta e programada ela poderá avaliar a sociedade da época como um amante da arte analisa uma nova obra prima. Afinal faz parte do ser humano ser curioso, aprender e evoluir, tanto é que isso é o que fez esses seres incivilizados chegarem ao que somos hoje. Através de conhecimento de observação, aprendizado, experiências falhas. Comparo esse exemplo de pessoa em épocas diferentes com hoje com um caso diferente, jogue um brasileiro na china, sem que ele saiba nem o inglês, como acha que ele se sentirá ao olhar aqueles símbolos? O idioma completamente diferente do seu? Poderia se tornar ate mesmo violento? Sim, mas depende de como ele veja isso, se considerar como uma forma de aprendizado, ele poderia aprender muito mais e com isso ganhar mais do que partir para a violência e não aprender nada.

Na questão de tecnologias e mercados, como ressaltado pelo autor, ao invés de criticarmos que eles não possuíam equipamentos modernos como o nosso, porque não apreciar a capacidade que tiveram de criar algo da natureza com quem vivia em harmonia, para confeccionar meios de sobrevivência? Eu considero como arte uma “faca” da época dos “incivilizados”. E considero que hoje em dia, depende da educação de cada pessoa como também sua vontade de pensar por si mesmo. Com mais pessoas assim, talvez não existissem tantas guerras, e preconceitos entre os seres humanos, afinal somos todos iguais por dentro, nossos corpos são compostos pelos mesmos órgãos. Se isso é a verdade porque deve ser considerado “selvagem ou incivilizado” uma época onde o ser humano trabalhava para conseguir o que precisava para si e seu grupo, onde todos comiam por igual, e considerar hoje como uma era “civilizada” sendo que há tanta desigualdade social entre seres iguais? Ate mesmo a Terra sofre hoje com a ambição do homem em ter sempre mais. Somos piores que parasitas que só destroem tudo que tocam para poder satisfazer a pequena minoria que comanda a grande maioria.

O autor citou vários exemplos usando os índios para comparar a sociedades com Estado x a as sem Estado, os exemplos foram bem claros e coerentes. Um ponto que chamou minha atenção foi a questão de trabalho, nas tribos os índios trabalham poucas horas por dia, e ainda assim tem comida suficiente para se alimentar, festejar e ainda se manter saudável, ao contrario do que pensaríamos de sociedades que vivem de “sobrevivência”. Isso me fez analisar o dia de hoje das pessoas “de cidade”. Hoje trabalhamos do nascer ate o por do sol, conseguimos o suficiente para sobrevivermos, torcendo e implorando a Deus para não ficar doente, pois quem proverá as necessidades da família se não você? Assim passamos nossos dia-a-dia, sem tempo para divertir, conhecer outros lugares, e nem mesmo conhecer nossos vizinhos, nossa família, as crianças são educadas pelo Estado e assim saem configuradas como ele deseja, e com a mentalidade de que se você tem dinheiro você pode tudo. Em contraste a isso, uma pequena minoria, trabalha menos que os índios “incivilizados” e tem mais regalias. Com a globalização podemos pegar um avião hoje e dar a volta ao mundo em menos do que 80 dias e não podemos ir todos, por quê? Será porque somos todos civilizados?

Hoje em dia, somos prisioneiros do Estado e da sociedade, sempre com medo e buscando meios de pagar nossa divida: o custo para viver. O meio como os chefes das aldeias viviam para o povo, assim como os reis e hoje os governos do Estado, foram criados para cuidar e viver pelo povo, mas claro, na realidade tivemos reis déspotas e o governo corrompido, onde só a grande maioria só pensa em como conseguir mais para si, sem nem se importar com os que estão abaixo deles que foram usados como escadas para sua escalada social. Isso é um fato triste, mas se formos considerar, antigamente o Estado individualista não existia porque o povo não deixava então se formos analisar por esse lado, hoje estamos assim, porque nós deixamos? Finalizo aqui com essa questão, e outra, hoje cada um de nós não pensa mais em conseguir bens materiais para subir na sociedade ou nos preocupamos em dar a todos uma sociedade igualitária?

Fim

soares123 08/02/2024

Ajudou bastante na minha análise crítica. Gostei um bocado ? Desmistificou bastante os conceitos abordados no ensino básico.