Lucas1806 27/08/2022
Excelente fantasia épica com toques da mitologia eslava.
Nunca joguei os jogos e nem assisti à série, decidi ser introduzido a esse universo pelos livros que o originaram, e não poderia ter feito melhor escolha. Os dois primeiros conquistaram rapidamente meu lugar predileto em minha estante, cada conto terminado me deixava com a mesma sensação de terminar um livro completo, tal é a qualidade narrativa e beleza do universo apresentado por Sapkowski. Nota-se desde o começo a influência da mitologia eslava, já que o autor é polonês. Muitas das criaturas apresentadas são oriundas das lendas dos povos do leste europeu, como o leshy e a estrige. Um bom toque de ambientalismo e preocupação com o destino de culturas à beira da extinção permeia o universo - difícil não traçar um paralelo entre as dríades e muitos dos povos indígenas da vida real. A maneira que a civilização humana destrói a natureza e ameaça a extinção de espécies também é mostrada, mesmo na empatia do protagonista com criaturas perseguidas até sua quase extinção, como os dragões.
Geralt é descrito como frio e estoico, mas não raramente vemos a sensibilidade e o idealismo do herói clássico por trás da armadura gélida do bruxo. No terceiro volume somos apresentados a outros bruxos na fortaleza de Caer Morhen, e a simpatia é quase instantânea com a classe de seres vistos como impuros ou aberrações pelos humanos, mesmo que eles vivam justamente a proteger a todos.
Para mim, um amante de linguística, um detalhe muito interessante é a construção das línguas fictícias da trama: a Língua Antiga é claramente inspirada no galês (língua celta que também inspirou o Sindarin de Tolkien), vemos isto em nomes como Caer Morhen, por exemplo. A língua das dríades tem mais influência do irlandês (Brokilon inclusive é inspirado na lenda celta da floresta de Broceliande). Nomes e palavras nilfgaardianas carregam influência germânica.
Este terceiro volume tem um ritmo mais empolgante do que os contos, usando o tropo muito usado na fantasia do império do mal se erguendo sobre o mundo, onde Geralt e sua criança predestinada são peça chave para a resistência dos povos. Mal posso esperar para adquirir os próximos volumes. A edição com a capa do game é de longe a mais bonita, além do papel agradável ao toque e com aquele cheiro maravilhoso nas páginas, e, claro, a textura aveludada da capa. A experiência sensorial de ver, tocar e cheirar o livro é quase um complemento para a perfeição da obra.