Sâmella Raissa 22/05/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
Após seus esforços para fugir dos planos de Nicholas Moringan e ser dada como morta em meio a uma terrível nevasca, Celebriant Devoy se vê enfim na Base Rebelde. Mas uma vez estando fraca e com seus sinais vitais quase sumindo, os residentes da base acabam por encaminhá-la à Phoebe, então médica do lugar com poderes de Curare, e é quando a sua marca de Oculta é dada por conhecida. Em consequência disso, temerosos para com suas origens e poderes, Celebriant tem seu Kassan bloqueado pelos Anciões, e acaba por acordar sem quaisquer lembranças sobre toda a vida que havia levado até então. Sob os cuidados de uma das anciãs chefes, Aaminah, ela terá, então, uma chance para tornar-se uma rebelde de fato, ao mesmo tempo em que irá se deparar com pessoas inesperadas. Mas uma vez que o seu Kassan volta a revelar-se dentro de si, cedo ou tarde ela terá de encarar a verdade sobre si mesma novamente e as consequências resultantes dela.
Eu posso não ter favoritado o primeiro livro da série, mas de longe Kassan já havia apresentado um potencial altíssimo como fantasia e, portanto, eu não pude deixar de ficar curiosa com o desenrolar dos fatos para a sequência. As expectativas não eram muito altas, mas ainda assim elas foram superadas e o meu status atual está centrado, em parte, pela ansiedade em ler Curare, o terceiro livro. Porque depois de me surpreender já na introdução que foi Kassan, Intueri só se firmou ainda mais como história e apresentou uma série de rumos e personagens que me encantaram ainda mais.
Como se sua jornada até o momento já não tivesse sido suficientemente complicada e árdua, após ter suas memórias de Kassan bloqueadas, temos a chance de conhecer um lado diferente da Celebriant tão enfezada e tempestuosa do primeiro livro. Com um jeito mais meigo e cauteloso de agir, acompanhamos os seus primeiros passos na Base Rebelde enquanto aprende um pouco mais aprofundadamente sobre sua Intueri com Aaminah, alternando em seguida com novas sequentes amizades feitas no lugar. Phoebe é uma delas, desde o início acolhendo a garota e, assim como Aaminah, acreditando que ela é muito mais do que simplesmente uma Oculta que pode levá-los à ruína. Alguns outros poucos que sabem sobre sua realidade, tais como os Anciões, no entanto, ainda se sentem receosos perante à garota, e só quando seu Kassan começar a reaparecer que ela terá a chance de provar que é inocente, apesar de tudo. Ou não.
“— Prever o futuro me parece algo duvidoso.
— Bem, é incerto. Mas, ao mesmo tempo, temos um destino, mesmo que não acreditemos nisso. Temos uma missão para se realizada aqui, portanto, nossa vida gira em volta desse destino.
Aaminah sentiu que Celebriant tremeu.
— Não gosto da palavra destino.
— Então, use outra.”
Assumindo uma personalidade mais meiga e sensível dessa vez, o início da leitura segue-se em um ritmo mais leve, ainda que por entre constantes discussões e revelações entre os Anciões da base, possibilitando-a interagir de uma forma menos temperamental e agressiva com as pessoas ao seu redor, dentre os quais estão Phoebe, Aaminah, Ário e Ulisses. Uma vez que seu Kassan começa a retornar, porém, ela é assolada por lembranças constantes e amedrontadoras de seu passado tenebroso como Oculta, até chegar ao momento em que, recobrada toda a sua memória, ela precisa aprender a superar esse passado e confiar em quem ela é agora, não naquela que um dia ela fora, entre os Ocultos. Assim, de certa forma, acompanhamos um pouco de seu amadurecimento ao conviver com uma realidade totalmente diferente e conhecendo mais a fundo o impacto causado por famílias poderosas como a sua na vida das outras pessoas, e é quando ela ganha ainda mais impulso em ir contra a corrente antes imposta pelos pais e correr atrás do seu real destino rumo à verdadeira justiça.
Mas não será apenas de muita ação e intensas aventuras que viverá nossa protagonista. Enquanto segue na base, à medida que depara-se com pessoas e realidades totalmente novas, Celebriant terá a chance de conhecer melhor o próprio coração ao surgir de um sentimento inesperado que abala um pouco as estruturas da personagem. Ulisses, então um dos soldados da tropa de defesa da base, também responsável por cuidar de Ário desde que o irmão mais velho do garoto, Erik, partiu da base, acaba por aproximar-se de Celebriant, provocando coisas até então desconhecidas para ela. Nesse ponto da história, porém, admito que fiquei um pouco irritada pela forma um tanto quanto rápida com que o romance se deu, e por mais que Ulisses seja, sim, um bom personagem no geral, ainda achei-o um pouco instável e influenciável demais, e decepcionei-me seriamente com ele no decorrer da leitura. No todo, também não senti nenhum sentimento verdadeiro envolvendo ele e Celebriant, o que fez o romance acontecer de forma quase indiferente para mim, em muitas das vezes.
“— Mas você não tem medo? Não gostaria de poder escolher qual caminho percorrer?
— Bom... Eu não acho que vai ser algo fácil e sem complicações, mas eu não tenho medo.”
Esse, porém, foi o único ponto real que me incomodou na história. No mais, tudo se desenvolve muito bem, inclusive os demais personagens. Phoebe e Aaminah, ambas com seu jeito protetor, servindo quase como um verdadeiro porto seguro para Celebriant em meio a sua chegada na base, além de Ário, outro personagem criança que se mostrou, assim como a pequena Saori, ser muito mais do que aparenta e contribuir de uma forma tão madura e centrada para com o enredo. Por falar nela, à propósito, ainda que não estando presente em igual força quando comparação ao primeiro livro, também evoluiu bastante e ela volta a reafirmar, neste segundo volume, a sua importância ainda maior dentro da série Devoy. Uma vez sem qualquer aconchego em casa, com a irmã do meio, Lune, assumindo o lugar deixado por Celebriant com Nicholas Moringan e a constante ausência dos pais, a menina, inteligente e ágil como bem é, virou-se tão bem longe da irmã que ela realmente me surpreendeu nesse volume. O único personagem que dividiu opiniões para mim foi o Jean Vandreisen, então responsável por resgatar Celebriant da nevasca de outrora e seguir responsável por ela em seus primeiros dias na base, quando longe da presença de Phoebe. Ele ainda é uma incógnita para mim depois de tudo, mas de alguma forma única e inesperada, afeiçoei-me a esse personagem de um modo tão repentino que estou realmente receosa de estar shippando o casal errado no livro, mas o que posso fazer? Ele me ganhou ainda que com seu jeito meio irritadiço e distante, mas tão corajoso e batalhador quanto o próprio Ulisses, que caiu no meu conceito tão rápido a leitura avançou.
Assim, por entre uma jornada intensa e imprevisível, desde a chegada até a Base Rebelde, até o momento de correr atrás de fazer acontecer no mundo em que vive, seguimos com Celebriant por essa leitura fluida e intrínseca que é Intueri, conhecendo mais a fundo os antigos e mesmo alguns dos novos personagens, reconhecendo ainda mais a dimensão do conflito entre os Ocultos e os rebeldes de tal forma que quando o livro acabou, eu já queria desesperadamente o terceiro, cuja previsão de lançamento é para o segundo semestre de 2016. Eu, ansiosa? Imagina. Só MUITO. Talvez DEMAIS DA CONTA, mas sem pressão, hein, Paula Vendramini? Leitura mais do que recomendada para os fãs de uma boa fantasia nacional com uma protagonista que, apesar dos altos e baixos, permanece determinada a fazer a diferença, ainda que muitos não acreditem nela; ainda.
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