Iniciantes

Iniciantes Raymond Carver




Resenhas - Iniciantes


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Maria Ferreira / @impressoesdemaria 13/05/2015

A beleza está no que é comum
Iniciantes é a versão original dos contos publicados em 1981 no livro Do que estamos falando quando falamos de amor. Naquela época os contos passaram pelas mãos do editor Gordon Lish, que modificou quase todos. O que rendeu ao autor, Raymond Carver, o título de minimalista.
Nesses contos Carver expõe o dia a dia de pessoas comuns. Pessoas que não fizeram nenhum ato heróico, simplesmente vivem. E o Carver é tão certeiro que começamos a pensar que a beleza está mesmo nisso: nas simples tarefas do cotidiano.

O primeiro conto do livro é "Por que não dançam?". Aparentemente, um homem está tentando vender seus móveis e os coloca em exposição no jardim de sua casa, quando casal passa por lá e se interessam por alguns móveis.
"Uma coisinha boa" é o maior conto do livro. E também é um dos mais tristes. Nele, uma garoto é atropelado no dia do seu aniversário. A princípio ele parece bem, mas quando chegou em casa, dormiu no sofá e não mais acordou. Seus pais o levaram para o hospital e ficaram com ele. O médico tentava tranquilizá-los dizendo que o menino poderia acordar a qualquer momento, que não havia motivos para ele estar dormindo e que descartava a possibilidade de estar em coma. Passaram-se dias e o garoto não acordava. Quando começaram a aceitar que o garoto estava em coma, ele dá sinal de vida, mas algo inesperado acontece.
Em muitos contos, as coisas ficaram subentendidas, como no conto "Tanta água tão perto de casa", em que um grupo de amigos saem para pescar e encontram no rio uma garota boiando na água, morta. Quando eles retornam para suas casas e avisam as autoridades, a esposa de um deles dá a entender que seu marido pode ter alguma coisa haver com a morte da garota, mas em momento algum ele confessa, apesar de agir de forma estranha. Então fica subentendido e é o leitor que tem que tomar uma posição escolher em quem acredita.

O conto "É meu" é o mais curto do livro, e é, de certa forma, o mais chocante. Nele, um casal está se separando, o marido está arrumando a mala para ir embora e quando termina diz para a mulher que quer o bebê. Ela diz que não e então os dois começam a disputar quem vai ficar com a criança, que até então estava nos braços da mãe, puxando ela de um lado para o outro. O autor encerra o conto de uma forma muito abrupta, cabendo ao leitor, novamente, tirar suas próprias conclusões do que aconteceu, mas só nos faz pensar no pior.

Foi o meu primeiro contato com os contos do Carver e foi um belo de um primeiro contato, diga-se de passagem.

site: http://minhassimpressoes.blogspot.com.br/2015/05/iniciantes-raymond-carver.html
Thiago 13/05/2015minha estante
Maria, me tira uma dúvida, os contos contidos nesse livro, também estão na edição listrada que a cia. das letras editou, pergunto isso pois você tem ambas as edições?


Maria Ferreira / @impressoesdemaria 13/05/2015minha estante
Com prazer, Thiago.
É assim: sim os contos contidos nesse livro estão presentes na edição listrada. Mas é preciso se atentar para um detalhe: os contos do livro listrados são os que foram alterados pelo Gordon Lish, editor do Carver na época. Já os contos desse estão na versão original.


Thiago 14/05/2015minha estante
Grato, pela dúvida sanada, assim talvez eu comece pela edição listrada que é mais completa(pelo menos na quantidade de contos) e se eu gostar muito, compro a supracitada.




Junior Rodrigues 02/03/2022

"Mas acho que a gente não passa do nível de iniciantes no amor"
Nunca havia lido nenhum livro de Raymond Carver, até saber que um filme de que gosto é baseado em um conto desse livro, então fiquei curioso para ver se ambos tinham a mesma estrutura de texto. Descobri que somente a ideia principal do texto é o que interliga o filme, porque o conto é bem curto e sucinto, mas percebi lendo os demais contos que essa é a maneira que ele escreve deixando o leitor à deriva com sua imaginação ao fim da leitura.
São contos sobre pessoas comuns e que passam por problemas rotineiros e as histórias não tão bonitas de se ler, porque algumas mostram a degradação do ser humano com situações que realmente podem acontecer e gerar o que é contado ali.
Tem contos que causa uma aproximação surreal com o leitor e isso aconteceu comigo em "Quer ver uma coisa?", pela maneira crua e sem rodeios que ele conta uma história que começa com um suspense e com o decorrer da leitura vamos nos deparando com um drama corriqueiro na mente das pessoas e o conto traz um questionamento pertinente sobre a vida que acredito que muitas pessoas vão se identificar com ele.
Cada conto é mais impactante que o outro e vai gerando uma sensação difícil de ser explicada em palavras, porque mesmo curtos, são tão intensos e trazem tamanha realidade que conseguem causar essa sensação inexplicável.
Acredito que cada pessoa terá uma experiência diferente ao ler os contos desse livro, ainda mais quando houver alguma identificação com algo que o escritor traz em seus contos.
Recomendo!
Samyra33 17/01/2023minha estante
Qual o filme?


Junior Rodrigues 17/01/2023minha estante
Pronto para Recomeçar com Will Ferrell




Camila 25/04/2013

Muito bom, uma escrita muito simples e direta. Mas também é muito dolorido, às vezes fico angustiada demais e preciso de uns intervalos entre um conto e outro.
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Diego 13/11/2013

Iniciantes
Os contos de Raymond Carver parecem histórias contadas por um amigo em um mesa de bar ou fragmentos do cotidiano que ficaram marcados no fundo de nossa memória. São simples e impactantes.
Sendo um livro de contos, claro que há aqueles que nos atingem mais, outros menos. Mas o estilo do escritor é sempre direto, cru. Não conheço tantos escritores assim para comparar, mas achei até meio parecido com Bukowski, afinal, sempre tem uma dose de álcool e de decadência.
Pessoalmente, destaco os contos: "Coreto", "O Lance", "Tanta água tão perto de casa" e "Mudo".
Enfim, é uma leitura que realmente vale a pena.
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Wolney Fernandes 14/11/2014

Iniciantes - Do que falamos quando falamos de Raymond Carver
“Naquela manhã, ela derrama uísque Teacher’s em cima da minha barriga e lambe. De tarde, tenta se jogar pela janela.”

Mais sobre o livro no link abaixo

site: http://instantespossiveis.blogspot.com.br/2014/11/iniciantes-do-que-falamos-quando.html
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jota 20/11/2018

Resumindo Raymond Carver: Iniciantes
Do Que Falamos Quando Falamos de Amor (1981) foi o primeiro volume de histórias curtas que Raymond Carver (1938-1988) publicou: são dezessete no total. Elas estão todas completas neste Iniciantes, foram restauradas conforme os originais de Carver: é bem conhecida a história do editor Gordon Lish, que fez cortes em todos os contos daquele livro. Apesar da qualidade deles, Lish não deve ter feito um trabalho tão ruim assim. Tanto que o volume fez enorme sucesso e o crítico do New York Times, Michael Wood escreveu no lançamento que "Ele (Carver) fez o que muitos dos mais talentosos escritores não conseguem fazer: inventou um país próprio." Povoado, entre outras coisas, por dramas aparentemente triviais e catástrofes silenciosas, conforme já se escreveu a respeito das histórias de Carver.

Sua nação é de pessoas comuns onde todos têm uma história para contar, onde qualquer acontecimento pode servir de tema e as pessoas discutem com muita frequência (outro livro de Carver se chama Fique Quieta, Por Favor), bebem muito e fumam muito também. O próprio Carver morreu com apenas cinquenta anos vítima de câncer no pulmão e durante muito tempo foi alcoólatra. O acaso também tem papel importante na vida dos personagens. Em Uma Coisinha Boa, no dia de seu aniversário de oito anos, o pequeno Scotty sofre um acidente; sua mãe havia encomendado um bolo numa confeitaria dias antes, o que cria uma grande confusão em seguida. E muita tristeza...

Em Cadê Todo Mundo? o narrador flagra a mãe no sofá aos beijos com um homem: tinha ido à casa dela passar algumas noites lá porque havia brigado com a esposa, Cynthia. Ele lembra que naquele tempo "(...) nem trabalhava direito, bebia e andava feito um doido. Meus filhos estavam doidos e minha mulher estava doida e estava tendo um rolo com um engenheiro aeroespacial que havia conhecido nos Alcoólicos Anônimos." No meio dessa história entram os astronautas Buzz Aldrin e Neil Armstong, que eram amigos íntimos de Ross, o namorado de Cynthia, que também era casado etc. Entra ainda uma cena de A Consciência de Zeno, livro de Italo Svevo, do tempo em que o narrador ainda lia, não vivia sempre bêbado, como ele mesmo afirma.

Ao incorporar histórias dentro de outras que estão sendo contadas, mas não apenas isso, os contos de Carver quase sempre fogem da narrativa tradicional com início, meio e fim, em que geralmente o autor reserva uma surpresa no parágrafo final ou na última frase, como acontece com contistas famosos. Caso de Guy de Maupassant em O Colar de Diamantes, por exemplo, ou mesmo com contistas de nosso tempo, como Gustavo Pacheco em Alguns Humanos, seu excelente livro de estreia. Carver não, então às vezes o conto não vai ou não parece ir a lugar algum porque o que importa para ele é retratar momentos da vida das pessoas, instantâneos.

Algumas histórias de Iniciantes foram adaptadas por Robert Altman para seu filme Short Cuts (que também é um livro de contos de Carver), de 1993, que no Brasil virou Short Cuts – Cenas da Vida, fotografias, fotogramas dos personagens de Carver. Assim é que três amigos topam com o corpo de uma mulher morta boiando no rio em que vão pescar. O que eles fazem, imediatamente telefonam para a polícia? Nada disso, continuam sua pescaria numa boa: é o que se lê em Tanta Água Tão Perto de Casa. Pessoas comuns também podem se tornar violentas, como em Diga às Mulheres Que A Gente Já Vai, em que dois amigos casados, enquanto suas esposas e filhos os aguardam em casa, perseguem de carro duas garotas em suas bicicletas e as coisas terminam muito mal mesmo. Em É Meu, o conto mais curto do livro, pai e mãe disputam violentamente um bebê, quem vai ficar com ele, numa briga que nem é bom pensar no seu final...

Bem, para certos leitores ler todos os contos de Carver de uma vez só pode não ser a melhor ideia: li aos poucos, no máximo dois em seguida, enquanto lia Lance Mortal, livro de contos e uma novela do mesmo nome, de William Faulkner e os ensaios de Virginia Woolf, A Arte do Romance, sempre interessantes. Você lê Uma Coisinha Boa, que te deixa bem triste, e logo em seguida vem uma história bastante violenta, Diga às Mulheres Que A Gente Já Vai, então seu dia vai ficar meio desgraçado. De todo modo, vale a pena conhecer esse autor, tido por especialistas como um dos mais talentosos autores americanos. Ou universais, uma vez que tem quem o compare ao russo Anton Tchekhov, reconhecidamente um dos maiores contistas de todos os tempos.

Lido entre 09 e 20/11/2018.
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Vorspier 31/12/2018

Grata surpresa
Primeiro livro do Carver que leio, e posso dizer que é um dos melhores que li em 2018. Alguns contos são densos, para deixar você pensando no que aconteceu mesmo depois de ter terminado de ler.
Esse livro traz 17 contos sem a tesourada do editor americano Gordon Lish, que havia feito uma redução de cerca de 50% nos textos originais. No final do livro, é possível ver em qual título o conto foi publicado originalmente e as diferenças entre a versão cortada e a versão originalmente pretendida pelo autor.
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Licia Maria 26/06/2021

Iniciantes
Iniciantes não é para amadores, definitivamente. Li muitas resenhas falando sobre como os contos parecem conversas de bar e, talvez por isso, tenha ficado impressionada com como a violência nas relações cotidianas pode parecer, de fato, só uma conversa de bar.

Muitos gatilhos (para as mulheres principalmente, claro!). O nó no estômago apertou forte e, mais de uma vez, eu precisei de um tempo pra digerir um conto antes de conseguir voltar a ler.

Outras muitas vezes me vi prendendo a respiração, aflita tentando sobreviver à narrativa ou encantada com as representações mais sutis do amor (Uma Coisinha Boa ?) Efeitos que certamente justificam o trabalho primoroso de resgate dos textos originais.

Um livro que desperta tantos sentimentos, merece todas as estrelas que recebe, mas, por aqui, além do reconhecimento da qualidade da obra, ficou também um tiquinho de mal estar.
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arthur966 16/02/2022

eu não tinha nada para lhe oferecer, nada para oferecer a ninguém, aliás. eu era só uma superfície lisa, sem nada por dentro, a não ser o vazio

contos preferidos: por que não dançam?, visor, iniciantes, quer ver uma coisa?, cadê todo mundo?
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larissa viana 05/04/2022

"Acho que a gente não passa do nível de iniciantes no amor."
Esta é a versão original dos 17 contos escritos por Raymond Carver e publicados, em 1981, após serem modificados por Gordon Lish ? editor de Carver na editora Knopf ? sofrendo mais de 50% de cortes e sob o título "Do que estamos falando quando falamos de amor". Além disso, nessa edição um breve histórico de publicação de cada conto é oferecido na seção de notas, informando quais eram seus títulos originais e a porcentagem de corte. Pessoalmente, não consigo entender como Lish conseguiu cortar tantas páginas da obra original; a escrita de Carver é sempre direta e concisa (um dos motivos de ter ganhando a alcunha de Tchekhov americano) e se em sua obra cada palavra importa, imagina eliminar metade dela! Não consigo imaginar, achei cada conto maravilhoso em seu formato original, alguns viraram meus favoritos como "Cadê todo mundo?", "Coreto", "Uma coisinha boa" e "Iniciantes". Talvez, na minha opinião, a única mudança boa de Gordon foi mudar o título para "Do que falamos quando falamos de amor", é muito mais poético e significativo do que "Iniciantes" (mesmo que esse conto seja um dos melhores da coleção), é preciso ler o texto para saber quem ou que são esses iniciantes (inclusive essa palavra faz parte de uma das minhas frases favoritas do livro), mas o título modificado nos instiga a saber o que Carver tem a falar sobre o amor. Usando as palavras de Philip Roth, que estão na descrição do livro e são melhores que as minhas, para falar um pouco mais sobre a obra: "Apesar de falar de gente normal sem traços de genialidade, heroísmo ou arroubos românticos, o que mais impressiona na obra de Raymond Carver é o caráter descentrado de seus personagens. [...] São basicamente histórias de alcoolismo e de casamentos em ruínas, protagonizadas por figuras anônimas da classe trabalhadora envolvidas em sua luta inglória e quase sempre perdida por uma vida dentro dos inalcançáveis padrões do sonho americano. O estilo dos contos originais de Raymond Carver, desidratado de firulas retóricas, mas não de vozes humanas densas palpáveis, adapta-se à perfeição a um neorrealismo americano."
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