Vê 23/09/2013Já fazia algum tempo que não me deparava com um livro cheio de nomes que eu não sabia ler. Mas, quando se mistura dinamarqueses, lituanos, poloneses, russos e romenos, o resultado não poderia ser diferente. Quando li a sinopse de O Menino da Mala, fiquei intrigada, o que poderia estar por trás desse garoto encontrado nu e dopado dentro de uma mala, mas ainda vivo? Muitas surpresas estariam me aguardando dentro de uma história que se desenrolaria entre Copenhague, na Dinamarca, e Vilna, na Lituânia.
Com uma narrativa ágil, já posso começar dizendo que as autoras me passaram a impressão de estar diante de um episódio de Law & Order: Special Victims Unit ao mesmo tempo em que se parecia com uma narrativa que Harlan Coben teria produzido. Logo percebi, no entanto, que a obra se diferenciaria em muitos aspectos, não necessariamente cativantes, mas que ainda assim seriam suficientes para construir uma história capciosa e bem diferente.
A narrativa em terceira pessoa e os capítulos breves nos guiam através dos principais personagens que estamparão essa história, apresentando-os sem uma ordem específica, mas garantindo que nem sempre suas histórias continuem no próximo capítulo, principalmente nos momentos de maior tensão. Conhecemos Jan e Anne, um casal de milionários; Jucas (esse nome tem um acento circunflexo invertido na letra "c", o que me deixava sempre em dúvida sobre como deveria ser sua correta pronúncia) e Barbara, outro casal, mas que claramente luta por um espaço para poder viver a vida que tanto sonham; Sigita e Mikas, mãe e filho que tem apenas um ao outro e Nina, a enfermeira que ajuda refugiados e que coloca o trabalho acima de tudo.
Todas essas pessoas terão seus destinos cruzados por causa de uma mala, uma mala que, a princípio, não parecia grande coisa, mas que, quando Nina se prontifica a buscá-la no lugar de uma amiga, será capaz de virar a vida de todos de cabeça para baixo. O que estaria fazendo aquele menino ali dentro? Tráfico de crianças? Comercialização para pedófilos? Nina não tem certeza, mas seu primeiro instinto é cuidar do garoto.
E, indo contra todas as regras imagináveis, todas as ações que julgaríamos sensatas, ela se enterra até o pescoço com esse caso, deixando mais uma vez a família de lado para atender à sua necessidade de ajudar ao próximo. Na verdade, esse foi o aspecto que mais me irritou em Nina. Não estou falando sobre querer ajudar os outros, longe disso; mas deixar a família de lado, sumir sem dar notícias e aparecer mais tarde em algum país de 3º mundo para ajudar em alguma causa, deixando marido e filhos de escanteio, isso me irritou e muito.
Quer ajudar os outros? Ótimo, uma decisão que nem todos se sujeitam a tomar, mas também não é justo abandonar a própria família, que se preocupa e a ama para trás, sem qualquer consideração. Ou você cuida primeiro do que aceitou estabelecer, uma família, com filhos e responsabilidades, ou, então, não deveria nem ter começado e seguido direto para o sonho de ajudar nas causas humanitárias.
Mas, isso não vem ao caso, pois nesse primeiro livro do que parece ser uma nova série (viva os autores que não se contentam com volumes únicos!), Nina não passou nem perto de ser o personagem de maior destaque; muito pelo contrário, me deixei encantar muito mais por Sigita, que tinha muito mais presença, seu sofrimento era palpável, suas ações chamavam a atenção pela determinação.
A leitura fluiu rapidamente, capítulos curtos são meus preferidos, faz tudo parecer mais ágil, menos cansativo. Demorei apenas dois dias para ler, mas senti que faltou algo a mais. Eu diria que O Menino da Mala poderia ser um livro para iniciantes em Harlan Coben, pois a estrutura dele lembra muito a construção de uma trama que, aos poucos, tem seus pontos interligados para, enfim, compreendermos qual é o papel de cada personagem no cenário todo. Mas ela não chega a uma comparação equivalente, pois senti falta de mais tensão, já que em momento algum fiquei roendo as unhas pelas próximas páginas; talvez fosse porque estava progredindo rapidamente, mas ainda assim não continha nada "OMG!". Os personagens, em menor número, facilitaram a memorização e rápida associação às suas histórias, apesar dos nomes difíceis que apareciam, muitos dos quais eu não tenho ideia de como se pronunciavam.
A diagramação da Arqueiro ficou ótima, apesar de ter encontrado alguns errinhos na revisão. A capa é linda, impactante, e nada melhor do que uma leitura rápida, mesmo com suas mais de 250 páginas.
Ao que parece, Nina continuará em outros livros, mas não acredito que seguirei com a leitura da série, a menos que hajam personagens bem mais impactantes além dela, como aconteceu nesse primeiro volume. Como protagonista, ela não me cativou; houve momentos em que eu realmente queria que ela parasse com as decisões estúpidas e finalmente fizesse algo sensato, realmente esperado de uma pessoa normal. Mas, tal qual numa novela, filme de suspense, ou de terror, se não tivesse essas mesmas decisões, não haveria história.
E, apesar de ter sentido falta de desfechos para todos os personagens (mesmo que alguns já estivessem óbvios ou, pelo menos, previsíveis), O Menino da Mala é um livro muito bem escrito e que não dispensaria a leitura de forma alguma. Uma boa história, com bons personagens e uma realidade que, muitas vezes, achamos não existir ou já ter sido resolvida.
Apesar de não ter me entendido muito bem com a enfermeira Nina, protagonista do primeiro livro de sua série, eu super indico O Menino da Mala; uma leitura rápida, intrigante e que te fará torcer pelo melhor dos desfechos.
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