LER ETERNO PRAZER 02/09/2022
Escritor israelense, Oz foi um ativista político e um dos mais renomados e premiados intelectuais de seu tempo. Falecido em dezembro de 2018, foi autor de uma extensa obra literária formada por romances, ensaios e críticas e publicada em 40 países, tendo se tornado um dos escritores israelenses mais traduzidos no mundo. Fundador e principal representante do Movimento Paz Agora, defendia a solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina. Amós Oz afirmava que não escrevia para entreter, mas sim para que os leitores se fizessem perguntas. Foi agraciado com o Prêmio Israel, o Prêmio Goethe e o Prêmio Príncipe das Astúrias, dentre outros reconhecimentos. Seu livro mais recente no Brasil é Como curar um fanático, reunião de ensaios e entrevista para debater a questão de Israel e Palestina, enfocando a tragédia no sentido mais antigo do termo: ?a batalha entre o certo e o certo".
Dele temos aqui " O mesmo mar " uma obra simples, de linguagem fácil, muitos poderiam dizer, cheia de clichês, mas escrita de uma forma tão, como direi, poética, singela, com acontecimentos bem cotidianos e normais, nada coisas extraordinárias, mas acontecimentos simples, de pessoas comuns, mas que ele transforma em "coisas" gigantesca mente sentimentais.
Em "O mesmo mar", vamos acompanhar o entrelaçamento de alguns triângulos amorosos. O principal deles tem em seu centro Albert Danon, um viúvo sexagenário. Seu filho, Rico, que depois da morte da mãe, vítima de câncer, parte para o Tibete em busca de paz interior. Durante sua ausência, sua namorada, Dita, aproxima-se do sogro idoso -a princípio, à procura de proteção. Ambos não conseguem evitar, porém, um envolvimento que mistura desejo com consolo.
Segundo Oz este foi o livro mais difícil de escrever em toda a sua carreira. Tomou do escritor quase cinco anos de dedicação. Ele justifica a demora por ter sido tomado pela obsessão de romper alguns limites literários. O resultado é um texto que mistura prosa com poesia, ficção com biografia.
Seus personagens, mesmo sendo todos como pessoas comuns, são daqueles personagens que quebram fronteiras, pois estabelecem diálogos não apenas entre os vivos e os mortos, como com pessoas distantes geograficamente e forças da natureza, como deserto e mar.
Por ser uma trama que envolve triângulo amoroso sempre esperamos muitos conflitos, mas o que vemos aqui é a predominância de uma história sem picos dramáticos e que caminha -entre refeições conciliadora e pequenos cuidados carinhosos entre os personagens- para uma situação de comunhão final. Algo bem diferente de muitas coisas que já li, e que , sinceramente adorei.
Um romance cheio de esperanças e talvez por isso em muito momento, podemos achar que ele seja ingênuo e romântico, " O mesmo mar " apresenta o que, para o autor, é a redenção dos homens. Exatamente ao mesmo tempo, porém, mostra como esta é transitória -como as ondas que quebram na beirada de seu deserto.
Uma sem muitos floreios, sem grandes reviravolta, mas carregada de sentimentos. Ótima!!