Jaqueline 24/11/2013 “Mel e Amêndoas”, livro publicado no Brasil pela editora Planeta, é um belíssimo e sensível romance sobre seis distintas mulheres libanesas. Vivendo em diferentes classes sociais e passando por necessidades emocionais incomparáveis, nossas protagonistas trazem em si uma beleza e humanidade sem igual. Com habilidade técnica e emoção, ingredientes fundamentais para um bom livro, a jornalista e escritora Maha Akhtar conseguiu me fisgar com sua história, um dos melhores romances que li neste ano.
O livro tem como cenário principal o salão de beleza Cleópatra, comandado pela espirituosa e batalhadora Mouna Al-Husseini. Vivendo com sua mãe e sua tia, ela enfrenta condições adversas para sustentar sua casa após a morte do pai e dos irmãos na guerra civil que abala seu país. Com quase 40 anos de idade – ou seja, muito velha para conseguir um bom casamento segundo os costumes libaneses - e pouquíssimo dinheiro, ela atura os lamentos diários da mãe, que se preocupa mais em ofender a filha por conta de seus trajes “ocidentalizados” do que em trabalhar por conta própria.
Amal, a reclusa e mal-humorada assistente de Mouna, também é uma das protagonistas do livro. Com uma história de vida trágica, esta mulher talentosa se fechou para o mundo e para tudo de bom que a vida pode lhe oferecer. Amargando uma agenda vazia no salão e precisando desesperadamente de dinheiro para o pagamento de um imposto, a vida destas duas mulheres começa a mudar com a chegada de novas clientes, que ficam maravilhadas com a qualidade do atendimento do salão. É no simples salão com porta de madeira e letreiro de luz neon cor de rosa que mulheres tão diferentes quanto a diplomata Imaan Sayah e a ex-miss Lailah Hayek encontram um ponto de convergência, um porto seguro para falar sobre suas vidas, seus dilemas, suas frustrações, seus relacionamentos pessoais, sonhos e desejos mais profundos.
Em certos momentos, viajamos para o passado dos personagens e embarcamos em uma “história dentro de uma história”, algo próximo de “As Mil e Uma Noites”. Em uma delas, temos a zona sul do Rio de Janeiro como cenário, e confesso que foi muito interessante ler sobre algo tão próximo a mim pela ótica de uma autora estrangeira, uma pessoa com uma bagagem de vida tão diferente da minha. Outro ponto interessante sobre o livro é o aspecto cultural que ele traz em si, apresentando ao leitor valores e significados de uma cultura tão rica e diversificada. Por mais que o ritmo da narrativa possa parecer um pouco lento em certos momentos, a linguagem do livro é simples e clara, com algumas palavras em árabe e francês que aparecem listadas em um glossário no final do livro*.
Nina Abboud, Lailah, Mouna, Amal, Nadine Safi e Imaan dividem a cena com outros personagens, como as divertidas doceiras Ghida e Nisrine, a rabugenta senhoria Claudine, o charmoso Samir, que transforma a vida de Nina, a libertária chef italiana Claudia e Amin, alvo das expectativas apaixonadas de Mouna. Porém, o foco principal da história de “Mel e Amêndoas” são as possibilidades de renovação, mudança e esperança em meio a uma cidade partida e dilacerada como Beirute – uma verdadeira alegoria para o estado psicológico de cada uma dessas personagens, que tiveram suas motivações enfraquecidas por falta de apoio, convenções sociais ultrapassadas, casamentos infelizes, ambição, violência, guerras e mortes.
A construção da história de “Mel e Amêndoas” é fantástica, realmente encantadora. A autora Maha Akhtar merece ter seu talento aclamado por esta obra, que tem personagens profundos e impactantes, que realmente fazem a diferença na história. A cada página descobrimos algo novo e relevante sobre a trajetória destas mulheres batalhadoras, que romperam barreiras em busca da liberdade de ser aquilo que elas realmente são: livres.
•Curiosidade: o país foi um protetorado da França após a Primeira Guerra Mundial, e por isso a alta sociedade gosta de provar sua distinção usando termos franceses no cotidiano.
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