spoiler visualizarAna 31/01/2021
Li Cidades de Papel pela primeira vez em meados de 2013/2014, ou seja, eu tinha 12 ou 13 anos. Na época, achei o livro o máximo e me decepcionei muito com o final, o que não abalou o meu amor pela história, tanto que eu sempre a guardei como a minha favorita, mesmo sabendo não ser a melhor entre tantas lidas.
Acontece que eu me esqueci dela. Me esqueci completamente, só tendo guardado, durante esses anos todos, a lembrança do amor pelo enredo e desapontamento com o final. Contudo, como a maioria das releituras para muitas pessoas, agora minha impressão é bem diferente de quando li pela primeira vez. Acredito que agora posso distinguir bem as duas experiências não apenas pelo tempo e todas as coisas da vida que as distancia, mas também pelo fato de que, desta vez, eu conheci a história novamente, por não me lembrar de quase nada dela.
Bom, eu me lembro de admirar muito a Margo. Eu poderia dizer que isso mudou dessa vez, mas a construção da personagem é tão incrível que a cada capítulo eu a enxerguei de uma forma diferente.
A minha Margo Roth Spiegelman não é fio, mas sim, relva. Mas a Margo gosta da ideia dos fios, então sinto injustiça em vê-la de outra forma, porque, afinal, não posso ser ela, apenas imaginá-la. Desse ponto, então, posso afirmar que ela é um emaranhado de fios. E, de certa forma, ela realmente é: trágica e de rompimentos permanentes.
Escolho escrever especificamente sobre Margo porque todas as minhas emoçõe nessa releitura estão conectadas às percepções do Quentin sobre ela. Cidades de Papel é sobre Margo Roth Spiegelman e Margo Roth Spiegelman poderia ser toda uma cidade de papel. Não sei se peguei o espírito da coisa, mas se essa foi a intenção do John Green, eu não hesito em dizer que ele teve uma sacada genial na construção dela e do livro. Espero conseguir expressar bem isso, porque tantas coisas passaram pela minha cabeça durante a leitura, que achei que não conseguiria emitir uma opinião, mas estava enganada.
No início, na parte um, a leitura é divertida, empolgante, exala juventude, bem como Margo é apresentada: uma divindade, sagaz, viva, livre. As menções ao cara suicida do Jefferson Park quebram isso e gradualmente me levaram ao clima da segunda parte. A partir daí, da busca pela Margo, a leitura foi densa, pesada, mexeu com meu psicológico e com meu humor. Quase chegando ao final da segunda parte, eu tentei escrever a resenha aqui e não consegui - ainda bem! Minha visão era totalmente pessimista e dramática. As visitas às cidades de papel e elas em si são tão bem ambientadas, tão bem escritas pelo autor que eu incorporei o medo e a angústia do Quentin. Incorporei também a Margo que, nesse ponto do livro, Q (e eu) acreditava ser a Margo de verdade. Construí na minha mente uma garota com sério quadro de depressão e tendências suicidas, desapontada com a fragilidade da vida de papel que a cercava (e mesmo que ao fim do livro essa não seja minha concepção sobre ela, ainda gosto de como a temática foi abordada, de forma inerente e presente. Aqui, destaco também a importância dos comentários dos pais de Q, que solidificam a importância do amparo, afeto e acolhimento na adolescência).
Algo que me deixou muito contente com Cidades de Papel foi saber sentir e definir com exatidão o momento em que essa nebulosidade se foi. É justamente o momento de epifania (posso chamá-lo assim?) de Quentin, enquanto sai da escola pela última vez, descobrindo a liberdade e o prazer em fugir, em encerrar ciclos.Nesse momento ele compreende Margo, e justamente nesse trecho eu suspirei de alívio, porque pude entender ela também, apesar de ainda considerá-la um tanto infantil e egoísta (não no mau sentido. Acho que todos devemos ser um pouco egoístas, mas a questão é que a Margo é mais dramática com a coisa toda). Me identifico fortemente com ela nesse ponto, porque me desfazer de pessoas, ciclos, fases, lugares etc. sempre foi muito natural, inerente à minha personalidade, assim como à dela, embora, como já dito, ela seja mais radical com suas escolhas.
A última parte de Cidades de Papel é a melhor. É como a primeira parte, mas fala muito mais sobre Radar, Ben, Q, Lacey e amizade, e sobre impulsividade, paixão, juventude. É de tirar o fôlego, e isso devido à escrita maravilhosa do Green, que me fez sentir a velocidade da minivan como se eu estivesse lá, com pressa e vontade de ir ao banheiro.
No fim das contas, dessa vez não estou decepcionada com o final. Foi um alívio o desfecho, por perceber que Margo não era exatamente infeliz, só queria ser livre e conhecer a ela mesma. A coragem dela é sua característica mais nobre, mas não posso deixar de dizer que vejo arrogância nela por achar que todos e tudo são de papel. Mas não a julgo por fugir da vida que a prendia. É complicado, mas acho que somos parecidas demais, e por isso Cidades de Papel continua sendo minha história mais querida.