Camille 13/10/2013Uma lição sensível para qualquer pessoa. - Beletristas.comCláudia é depressiva. Seus dias são apenas dias: um após o outro, sem sentimentos. Seu estado normal já não é estar triste, ou sem fome, é estar anestesiada. E se tem algo pior que se sentir muito triste, é não sentir mais nada. Quando seu marido, Rogério, morre, ela não se sente triste. Ela não sente nada.
Já Ísis, quando recebe a notícia de que seu marido morreu em um acidente de carro junto ao amigo, faz todo mundo ao seu redor entender o significado das palavras "escândalo" e "dor". Ela grita, chora, desmaia, não se conforma. Ela deita na cama e fica ali, sem querer fazer nada a não ser lamentar e - quem sabe - acabar com a própria vida.
Quando ambas se encontram, todavia, elas encontram exatamente o que precisam. Companhia. Uma pessoa que entenda e não olhe torto. Juntas, de formas que elas sequer imaginam, encontram o remédio que estavam precisando, e a força para sair do cansaço sem motivo.
Liliane Prata tem uma escrita que prende atenção e, mais que isso, nos envolve de formas que sequer imaginamos. Vemos todas as cenas ao longo da leitura, ainda que não seja comum diálogos com travessões ou aspas.
A técnica que ela escolhe para contar a história das três viúvas (a última, que não citei acima, é a mãe de Ísis) é uma das que particularmente admiro. Gosto de estar lendo uma descrição, para me envolver em um jogo de palavras e conversas, em seguida passando para uma ação. Torna tudo mais interessante e dinâmico, algo essencial para uma história que tem como ponto inicial a depressão.
Três Viúvas foi diferente do que eu achava. A narrativa é acelerada quando falamos de ações, e é necessário que seja para que o livro não se torne chato. Ao mesmo tempo, conseguimos nos aprofundar o necessário nas personagens e nos envolver com elas tanto quanto a autora julga necessário. Seja Cláudia, Ísis ou Paula, a filha de Ísis.
Cada uma dessas mulheres ensina algo sobre amor e companheirismo, sobre criar uma estrutura para os momentos difíceis. E, por mais que algumas coisas sejam bem improváveis de acontecer, como morar durante semanas na casa de uma pessoa que você nunca tinha conhecido, em nenhum momento se torna menos real. Inclusive nos relacionamentos que não exploramos, e aqui me refiro a rotina antes da morte dos amigos.
Foi por conta dessa facilidade de se identificar o real que o livro me conquistou. Assim, ele consegue ser sensível, interessante e, claro, uma história de superação como de fato acontece.
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