O anjo Esmeralda

O anjo Esmeralda Don DeLillo




Resenhas - O Anjo Esmeralda


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Patrick 13/03/2018

Fluxo de consciência fílmico
Eu percebo no DeLillo, acima de qualquer influência literária anterior a ele, uma forte influência do cinema, do cinema em geral, cinema como narrativa, cinema como arte. Ele mesmo demonstra grande interesse e prazer pelo próprio, como percebi em Americana (foi aqui que descobri cineastas experimentais como Jonas Mekas e Shirley Clarke) e Running Dog (a trama gira em torno de um suposto filme pornográfico de Hitler). Não me refiro, no entanto, a meras alusões ao cinema, como quando no seu primeiro livro ele compara uma festa monótona a um filme de Antonioni; eu me refiro ao seu estilo; leia Turguêniev e DeLillo ao mesmo tempo: o primeiro não dá um nome sem apresentar também um sobrenome e um patronímico e acrescentar não uma breve mas uma longa introdução ao leitor sobre o personagem; o segundo além de não lhe dar um nome, deixa a cargo do leitor descobri-lo e conhece-lo a ele e a sua história e, quando isso é impossível, inferir-lhe o resto. ''Isso fez com que uma expressão pensativa surgisse em meu rosto.'' O russo talvez escrevesse simplesmente ''Tornei-me pensativo.'' Ivan não parece imaginar a si próprio ou seu personagem num auto-retrato a óleo com uma expressão pensativa, mas DeLillo parece imaginar-se ou imaginar seu personagem durante um close-up com uma trilha sonora evocando tensão, talvez uma única nota de piano. São somente minhas impressões, é claro. Não estou fazendo uma crítica negativa ou positiva dos respectivos estilos, nem querendo determinar que um é superior ao outro, e a comparação entre os dois é, sim, totalmente aleatória. Sendo o cinema uma arte que tornou-se muito forte, capaz de influenciar, bem e mal, nossa visão de mundo, nossas reações semânticas e nossos códigos linguísticos não quero dar a entender que somente DeLillo sofreu essa grande influência. Todos ou, mais corretamente, a grande maioria desde o final do século XIX até nossos dias atuais sofreram-na e como disse Jorge Luis Borges em outro lugar ''Por que incomodar-se em ser contemporâneo se não lhe é possível ser outra coisa?'' Poucos escritores, no entanto, parecem admiti-la na própria fluidez do texto sem esconder-se atrás de uma bronzeada prosa titânica de centenas de anos atrás e ainda conceber algo do tamanho de Underworld.

Sobre o Anjo Esmeralda: às vezes os seus personagens que parecem-se sempre com adolescentes brincalhões, irritantes e super espertos, independentemente das suas respectivas idades e sexos perturbam-me um pouco. Mas não mudaria isso nele, se pudesse. É o que ele é, como escritor. E o cara pode escrever sobre qualquer coisa, de freiras com transtornos de limpeza à astronautas assombrados e maravilhados pela Terra.
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