Aline T.K.M. | @aline_tkm 17/01/2014Juliana Frank, você acaba de ganhar mais uma fã.Mais uma boa surpresa literária, Meu coração de pedra-pomes traz uma protagonista de hábitos excêntricos, cuja mania de inventar as próprias macumbas assustaria facilmente qualquer desavisado. Lawanda – como gosta de ser chamada – narra em primeira pessoa os fatos cotidianos de sua vida, uma vida que ela leva como pode (e até mesmo como não pode).
Desbocada, a garota de dezenove anos trabalha como enfermeira num hospital, além de vender servicinhos clandestinos aos pacientes à beira da morte, por exemplo, comida industrializada. O único consolo é saber que o bordel será sempre uma alternativa nos momentos mais desesperadores.
Que o leitor jamais venha a subestimar Lawanda, porém! Em sua inexperiência e mesmo ignorância, Lawanda é muito viva. A não necessidade de dar provas da própria inteligência, por si só, já é um ato de astúcia. Gente de filosofia e mistérios próprios, a personagem parece possuir um método particular de viver, uma lógica pessoal que nem sempre segue a mesma direção da lógica coletiva. Está sempre “pontualmente atrasada” e usa um vocabulário inventado com uma naturalidade impossível.
Meu coração de pedra-pomes é aquilo que muitos poderiam definir como wannabe despretensiosamente excêntrico, e é certo que é uma leitura de puro entretenimento, não soma nem tira. Talvez seja exatamente isso o que o torna genial, hilário e dotado de personalidade. A narrativa crua e de palavreado chulo reflete algo da sujeira e da miséria humanas, da vida real, dos dias que tomam sem oferecer nada em troca.
Como a paixão de Lawanda pelos besouros – e por costurar borboletas nas calcinhas, e pelo amante José Júnior –, criamos gosto pelo livro, uma espécie de paixonite meio secreta e incompreendida. Daí uma leitura que não saímos recomendando por aí, exceto àqueles que sabemos suficientemente loucos para apreciá-la em suas particularidades – característica que faz dela algo especial.
Tenho lá minhas dúvidas, mas talvez, a maneira mais justa de terminar isto aqui seja confessando: Juliana Frank, você acaba de ganhar mais uma fã.
LEIA PORQUE...
É literatura nacional desprovida dos "quero/tento ser". Apenas é o que é; e é boa demais.
DA EXPERIÊNCIA...
Para ler numa “sentada” só, rindo sozinho enquanto balança ligeiramente a cabeça de incredulidade.
FEZ PENSAR EM...
Sabe aquelas personagens que conquistam, que marcam e você nem sabe explicar direito por quê? Pois bem...
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