janeway 16/11/2020
O livro que me fez gostar de histórias de fantasmas
"Antigamente, eu pensava que o medo do escuro era o mais antigo de todos. Talvez eu estivesse equivocado. Talvez não seja o escuro que as pessoas temam, mas o que vem no escuro. O que existe nele. "
Nunca fui uma pessoa de sentir medo com histórias de terror, ainda mais de fantasmas, pois sempre as achei infantis. E ao ler obras do gênero sempre tinha a impressão de serem mais suspenses do que o terror propriamente dito. Mas ao ler este livro durante minhas "madrugadas de leitura", eu conheci o famoso calafrio na espinha – e ele veio acompanhado com fascínio pelo o desconhecido sobrenatural.
A estrutura da história é simples: acompanhamos o diário de Jack Miller, um jovem que outrora tinha sonhos, porém agora está sobrevivendo na pobreza e em um mundo pós-primeira guerra que já pressente a vinda de uma segunda. Uma expedição ao frio extremo junto a um grupo torna-se a oportunidade perfeita para mudar de vida e dar fôlego a sua própria existência. Mas antes mesmo de chegar ao local marcado, cujo o nome Gruhuken já causa olhares desconfiados aos que conhecem sua história, as coisas vão dando errado e Jack se vê sozinho em noites que nunca acabam. Mas é claro que ele não está tão sozinho quanto imagina estar.
O que faz essa história tão interessante e capaz de causar tremores, se a premissa é até mesmo clichê? As decisões espetaculares da autora durante a construção da atmosfera. Um diário é o meio perfeito de se conectar-se profundamente com alguém, e aqui nos conectamos com um personagem que precisa encarar seu isolamento no meio de um inverno rigoroso, onde a escuridão é interrupta e o significado de "dia" tornou-se difícil de assimilar.
Tão difícil quanto isso é saber o que se está vendo de verdade, se é uma alucinação ou a realidade, pois tudo acaba se misturando com o medo, a opressão e o terror que a natureza e a escuridão são capazes de proporcionar. Aqui a assombração não é o principal, mas sim os sentimentos que são despertados ao presenciar algo que não poderia existir, ainda por cima quando se está vulnerável em um lugar que você não é bem-vindo – e pior ainda: te quer morto.
Jack Miller é um ótimo personagem. Não digo em questão de caráter, mas sim na construção de sua complexidade. Isso é surpreendente ao se pensar que o livro possui poucas paginas e mesmo assim a autora conseguiu obter êxito, onde muitas outras obras que possuem mais tempo para trabalhar seus personagens não conseguem um resultado tão bom quanto. Conforme as coisas vão acontecendo, você tenta compreender suas decisões, das mais sensatas até as que parecem estúpidas, porém o final deixa tudo claro quanto as suas escolhas.
Aliás, que final! Precisei ler mais de uma vez para processar o que tinha ocorrido, e assim que li a última linha do livro, eu voltei mais uma vez para digerir as informações. É impecável e de partir o coração.
Por último, esse livro merecia mais reconhecimento aqui. Poucas leituras conseguem ser tão bem sucedidas como essa. Para quem gosta de terror é um prato cheio, assim como para quem não é tão aficionado pelo gênero e está procurando uma história envolvente e bem desenvolvida. No fim, você acabará acreditando em fantasmas enquanto acompanha essa expedição de um homem só. E talvez, assim como eu, começará a gostar de histórias de fantasmas.