Psychobooks 27/12/2013
Quem me acompanha há algum tempo, deve ter percebido que leio pouquíssimos livros de não-ficção, o mesmo acontece com biografias, mas quando vi a capa e sinopse de 'É Hora de Falar', fiquei interessada e não me arrependi da leitura.
Um pouco sobre a vida de Helen Lewis
Helen nasceu em Trutnov, na antiga Checoslováquia, mudou-se para Praga a fim de estudar Dança, casou-se e vivia confortavelmente com seu marido Paul até que em março de 1939 as tropas alemãs invadiram Praga e a vida de todos os judeus mudaram radicalmente.
Os judeus passaram a ter de usar a estrela amarela como identificação, não podiam frequentar todos os lugares, tinham horário para andar pelas ruas, seus cupons de alimentação valiam menos e só poderiam utilizá-los depois de um determinado horário, quando as prateleiras estavam praticamente vazias. Impedidos de frequentarem eventos culturais, Helen não podia mais trabalhar com dança, ainda assim, ela não deixou-se abater.
Aos poucos, o exército alemão foi exigindo a casa de alguns judeus para que eles pudessem morar lá com suas famílias e os antigos donos eram despejados sem aviso prévio e não tinham outra alternativa ao não ser irem para o gueto. É aqui que Helen começa a mostrar que nem todos os soldados alemães sabiam inteiramente o que seus comandantes estavam fazendo com os judeus.
A deportação para Terezín foi inevitável, Paul e Helen forma para lá juntos, mas conseguiam se ver poucos minutos por dia. Com uma carga de trabalho muito grande e pouca comida, Helen ficou gravemente doente, passou muitos meses no hospital e assim conseguia adiar sua deportação para os campos de trabalho forçado, mas ao receber alta, ela e Paul foram parar em Auschwitz e lá se separaram.
- Narrativa
Helen conta sua história em primeira pessoa, sem nenhum tipo de autopiedade ao contar os horrores que viveu durante os três anos que passou presa. Seu estilo de narrativa lembra um romance, com começo-meio-fim, sem ficar se atendo a detalhes. A escrita é simples e direta, com um ritmo de leitura acelerado e nenhum momento de marasmo.
A autora consegue mostrar várias facetas da II Guerra Mundial, seu ponto de vista nos mostra um pouco das atrocidades cometidas contra o povo judeu, mas também deixa claro que nem todos os alemães estavam de acordo com o que acontecia nos campos de concentração e tentavam melhorar a vida dos prisioneiros na medida do possível e clandestinamente, enquanto outros apoiaram a Marcha Macabra, quando na eminência da derrota, fizeram os prisioneiros caminharem por um longo período sem nenhum tipo de descanso, higiene e alimentação. Ela ainda conta um pouco sobre como foi o contato com o exército vermelho e a dificuldade na volta para casa.
- Concluindo
'É Hora de Falar' conta a história de uma mulher forte, corajosa, que conseguiu vencer todas as adversidades sem perder sua sanidade graças à dança, todas as vezes em que ela achava que estava perdida, acabava apoiando-se no seu talento e conseguia sobreviver por mais um dia. Sem se deixar abalar, mantendo as esperanças ela conseguiu passar por tudo isso e ainda teve forças para recomeçar uma nova vida, mas sem deixar a dança de lado.
Leitura mais que recomendada para quem gosta de histórias reais sobre a Segunda Guerra Mundial.
E se você não gosta muito de ler autobiografias, aconselho dar uma chance para esse livro, pois sua leitura é fluida, sem um pingo de lamentação e lição de moral mascarada em suas páginas.
(...) a instituição do uso obrigatório da estrela amarela, que deveria ser usada em público, em todas as situações, por judeus acima de 6 anos. Desse momento em diante, tornando-nos alvos fáceis para todos que quisessem nos infligir maus-tratos e nos atacar. Os efeitos psicológicos dessa monstruosa permissividade foram astuta e cruelmente calculados, a fim de incutir em nossa mente a ideia de que éramos párias sociais, sem direito a nenhum lugar na sociedade.
Página 48 e 49
(...) Os pássaros haviam fugido da fumaça negra dos fornos crematórios, fumaça que a tudo impregnava, e sua partida deixou um silêncio que mais parecia um grito de horror.
Página 119
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