spoiler visualizarVitor 24/10/2015
Como os Gregos e Romanos, os Bizantinos consideravam-se os únicos habitantes do mundo civilizado, rotulando de bárbaros todos os que não partilhavam de sua cultura. (Assim descrevo inicialmente a partir do inicio do livro, os processos de identificação do Império Bizantino por seus aspectos que visavam uma “diferenciação” dos demais impérios).
Os Ocidentais se espantavam com essa diferença e esplendor de Constantinopla, onde seria um dos maiores centros urbano. A filosofia grega partira de penetrar na Europa cristã graças a Bizâncio; Sobre tudo a Itália tinha por sua proximidade geográfica e relações mais frequentes com os bizantinos e assim, produzisse o Renascimento dos séculos XV-XVI e com eles entram na modernidade.
Já no primeiro capítulo, sobre as estruturas religiosas, no caso do fator imperial, vale destacar que a religião fornecia a fundamentação do poder imperial, a motivação básica e a justificativa da política exterior, os temas e o significado da produção cultural (absorvia recursos econômicos, que viria também envolver-se no cotidiano das pessoas desde o seu nascimento até sua morte).
O Império, neste momento, era a antecipação do Reino dos Céus, uma cópia imperfeita, mas que prepara os homens para aquele. Vale ressaltar também, que o patriarcado sempre esteve atrelado a sociedade, também, completava-se assim, a fusão tipicamente bizantina entre o temporal e o espiritual; O imperador, como sabemos, reunia em si as duas atribuições, e o mesmo deveria então ocorrer com o segundo personagem do Estado, o patriarca. Para a mentalidade cristã dos bizantinos, sempre houve o sentimento da presença do sagrado entre os homens.
Outro aspecto que mostra bastante à relação do imperador com o divino é, todo o ritual, utilizando cores e riquezas em profusão, é acompanhado por cânticos, em atividades destinadas a falar não à razão dos fiéis, mas aos seus sentimentos.
A melhor expressão da cotidiana presença divina entre os homens estava no fervoso (Sic) culto Bizantino às relíquias – pedaços de corpos santos ou objetos que tinham tido contato com eles – existiam em Bizâncio em tal quantidade que causavam admiração e inveja aos Ocidentais.
A importância da maioria dos mosteiros decoraria em grande parte do fato de abrigarem relíquias, que por sua simples presença sacralizavam aquele espaço e seus habitantes, os monges. Diante do papel que as relíquias desempenhavam na mentalidade Bizantina, não é de se estranhar que quando no curso de uma invasão, em 615, os persas se apossaram da cruz sagrada, para os Bizantinos aquela luta ganhou disputa de Terra Santa e não cessou até recuperarem o objeto sagrado 14 anos depois. Todo esse valor dado às relíquias devia-se à função protetora que elas exerciam, ajudando com seus milagres não apenas aos Bizantinos individualmente, mas garantindo a própria sobrevivência do Império.
Entrando nas estruturas políticas, as concepções políticas de Bizâncio estavam intimamente ligadas à sua visão religiosa do universo. De fato, o imperador Bizantino foi sempre visto pelo seu povo como um Vice-Deus, uma manifestação visível da divindade. Assim como Deus é regulador da ordem cósmica, o Imperador como seu prolongamento humano deveria ser o regulador da ordem social. Na arte ele era representado por todo um simbolismo religioso. Também o trono era feito com muita arte.
O Império Bizantino era, portanto um Estado autocrata. Ao deixar extensos poderes nas mãos do imperador, Bizâncio buscava uma fórmula de solução para sua conturbada história, causada de muitas crises. Nascido no contexto dos últimos tempos de um Império Romano de organização fortemente centralizada, Bizâncio desde seus primeiros momentos levava essa marca.
Desta forma, por contato com o Oriente ele se tornou desde o início do século VII basileus, isto é, aquele que dispõe de autoridade absoluta. Por influência do cristianismo tornou-se isapóstolos, quer dizer, igual aos apóstolos, portanto representantes de Deus.
Mas no princípio, o imperador era eleito pelo senado, pelo exército e pelo povo de Constantinopla. Como, contudo, não havia uma regra sucessória claramente definida, ainda em vida o Imperador coroava seu sucessor, para que ele não fosse contestado.
Quando não havia um imperador vivo para coroar aquele que seria seu sucessor, isso era feito pelo patriarca. Um detalhe muito importante nesse aspecto político é de que, por três vezes na história bizantina, quando da morte de um imperador sem herdeiro designado, o poder foi exercido por uma mulher. A imperatriz podia, então, governar em nome próprio e escolher o seu sucessor.
O senado, assembleia essencialmente aristocrática, teve certo poder apenas nos séculos VI e VII. O trono estava aberto a todos, excluindo apenas os eunucos (Homens castrados, usados na guarda imperial), cegos, hereges (considerado crime político), as mulheres (exceção as que tomavam o poder como imperatriz ou regente).
O Império Bizantino, como sabemos, reunia diferentes nacionalidades, e assim era preciso um aparelho administrativo bem montado para dar força e coesão àquele mosaico de povos e culturas.
A partir de suas funções tradicionais de chefe do exército, da burocracia e, num certo sentido, da igreja, o imperador passou a ser o símbolo natural de um novo sentimento que se desenvolvia entre os Bizantinos desde o século XII. Isto é, a luta então começava contra os muçulmanos que eram movidos pela religião e pela ideia de guerra santa, levou os bizantinos a acreditarem estar guerreando pelo cristianismo, portanto pela civilização, se passavam os ver como povo eleito, que deveriam defender a cristandade e formando um verdadeiro “nacionalismo bizantino”.
Ultrapassando o momento mais difícil no Oriente, o Império Bizantino no século IX voltou novamente os olhos para o Ocidente, mas como a possibilidade de um domínio real sobre o Ocidente logo se revelou estar definitivamente ultrapassada, Bizâncio concentrou novamente suas forças nos Balcãs e no Oriente.
Entrando no capitulo das estruturas econômicas, o autor ressalta que Constantinopla foi um grande centro urbano da Europa Medieval. Durante muito tempo, a cidade não foi apenas a capital do Império Romano do Oriente, mas a capital da comunidade mediterrânica.
Toda esta prosperidade do império dependia, como tivemos oportunidade de examinar, de uma ampla administração, de uma ativa diplomacia e de uma poderosa força armada, que demandavam vastos recursos econômicos. O papel do Estado na economia foi decisivo em muitos momentos, ainda que não tenha existido uma doutrina econômica defendida por ele. Na verdade, a prática, a política econômica adotada era resultante da própria evolução histórica de Bizâncio.
O artesanato do império muito contribuía para o sucesso destas “feiras” e deste comércio, destacando-se o de Constantinopla. Lembrando que estavam agrupadas em corporações, que pretendiam não haver desemprego e garantir abundancia de produtos aos consumidores com bom preço e qualidade. Cada corporação tinha o monopólio de sua especialidade e que deveria ser respeitada.
Três fatores ajudavam essa prosperidade do império, sua localização geográfica, pois era ponto de união entre a Europa e Ásia, desembocavam as principais rotas comerciais da época, em segundo lugar, a existência de excelentes portos em seus territórios, como Alexandria, os portos da Síria, da Anatólia, da Grécia, do mar Negro e de Constantinopla. Por último a marinha bizantina com seu domínio sobre o Mediterrâneo que permitia que os comerciantes da Síria, do Egito e da Ásia Menor, chamado genericamente de “sírios”, pudessem manter relações com todos os territórios banhados por aquele mar.
O comércio com o Oriente levava a Bizâncio produtos de luxo, sobretudo especiarias e seda.
Sua decadência viria apenas no século XII, dominado desde então pelos italianos, que colhiam seus resultados. Já em 922 os venezianos recebiam de Basílio I liberdade de comércio no porto de Constantinopla, pagando uma taxa inferior à de outros estrangeiros.
Já a história agrária bizantina pode ser dividida em três fases: a primeira que até o século VII a estrutura da agricultura romana foi mantida; daquele momento ao século X, graças a uma mudança no regime de propriedade da terra, defendendo os pequenos proprietários.
Na primeira fase, como, aliás, ao longo de toda a história bizantina, as necessidades fiscais do Estado é que determinaram as condições da agricultura. Sistema tributário criado ligando o indivíduo a terá, camponeses mesmos legalmente livres, pediam sua liberdade. A vida cotidiana dos camponeses não eram fácil, os filhos primogênitos dos militares se tornavam militares, a produtividade agrícola, ainda que superior a do Ocidente da mesma época, não permitia grandes excedentes.
A unidade produtiva básica continuou a ser o latifúndio num dos seus três tipos: terras da coroa, de nobres e das igrejas e mosteiros, o primeiro compunha de propriedades privadas da família imperial e de domínios estatais, contudo, as propriedades que mais cresciam eram as dos nobres.
Partindo para as estruturas sociais, que se percebe uma decadência desse Império Bizantino, a conturbada existência de onze séculos do Império Romano do Oriente acarretou inúmeras peculiaridades e características que, em meio a elos comuns, elaboraram sua personalidade. Mesmo uma delimitação geográfica do mundo bizantino torna-se uma tarefa árdua. A cada momento de sua história, retrocessos e expansões alteraram lhe constantemente as feições. Uma multiplicidade de povos, raças, línguas e credos ora instalam-se sob suas fronteiras, ora as fazem recuar. Constantinopla se pretendia a capital de um império Greco-cristão, mas os seus habitantes verdadeiramente gregos constituem uma magra parcela da população.
Ser “bizantino” não implica uma “nacionalização”. Os estrangeiros de Constantinopla, já em sua segunda geração eram considerados “romanos de origem” (Walter). Para tanto, bastava que falasse o grego e fosse ortodoxo.
Uma exceção a esta ampla cidadania era a nação judaica. O impedimento à sua assimilação decorria, obviamente, de problemas religiosos. Se a principio gozavam de direitos, à medida que o império foi adquirindo suas características cristão-ortodoxas, passam a sofrer restrições.
A religião ocupava um lugar de destaque na vida da população do império e, em especial, de sua capital. O sobrenatural tinha um destacado papel no cotidiano: problemas políticos e sociais acabavam por tornar feições religiosas, o comércio carregava essa simbologia religiosa.
O comércio bizantino valorizava os ganhos monetários estigmatizados no ocidente, dinamizando a estrutura social. O Estado, através de monopólios, fábricas e regulamentações, figurava entre os grandes comerciantes. Por vezes, até mesmo a igreja tornava-se uma “agência de financiamentos”.
O “mundo romano”, que tanto sucesso tivera com relação às terras do Ocidente, não teve êxito na propagação de sua civilização latina nas localidades por onde passou Alexandre, o Grande. Durante muito tempo se atribuiu a Bizâncio, em razão do forte conservadorismo presente em suas estruturas, um papel de mero compilador, sem originalidade ou criatividade.
As transformações político-administrativas e as medidas econômicas do Baixo Império Romano construíram seus alicerces. Sua estrutura se forjara após árdua luta pela supremacia de Constantinopla frente a outros baluartes do helenismo, como Alexandria e Antioquia. O cristianismo assume e incorpora à tradição clássica, A língua grega será o cimento que lhe movera à ortodoxia a unidade. Por fim, o acabamento será realizado pelos influxos do Oriente persa e posteriormente pelo Islã. Cristianismo não provocou grandes transformações, ensino religioso se processava paralelamente ao laico, ensino caseiro sempre acompanhado com um pedagogo e, a filosofia sempre representou uma grande paixão bizantina.
A teologia prosseguiu uma grande ciência à parte devido às suas grandes sutilezas, não havendo grande destaque aos laicos. A matemática pouco ultrapassou a Grécia antiga e, apenas com as contribuições árabes, ganhou um novo impulso. Astronomia e geometria permaneceram também os “gregos da antiguidade”.
A arquitetura traz grandes transformações, como a Igreja da Sagrada Sabedoria; Por sua vez, o Direito após Justiniano ressentiu-se do declínio do Latim e do ensino entre os séculos VII e IX. Em 1045 Constantino IX funda a escola de Direito obrigando todos os advogados com pretensões a exercer a profissão. O direito Canônico bizantino tem sua compilação na Syntagma e uma obra publicada a respeito do assunto, a Exegis Canonum, de 1175.
A literatura inaugurava os estudos do bizantino e primava-se pelos autores clássicos. O dogmatismo e o rebuscamento retórico fizeram malograr as hagiografias – vidas de santos, tão populares na tradição oral do Ocidente. A história, porém, salvará a literatura sendo uma das mais notáveis contribuições.
Após a conquista de Constantinopla pela quarta cruzada em 1204, pouco se conhece da posterior organização do ensino, ressaltando-se o fato de que, ao menos, a retomada dos estudos clássicos e a inserção dos conhecimentos ocidentais são extremamente revigoradas sob os Paleólogos.
A vitória das imagens acarretou a consagração do tradicionalismo sacro e o surgimento de um “neo-helenismo”. A arte profana triunfa e invade a arte religiosa através de seu classicismo e de seu realismo.
A conquista latina de Constantinopla provocou a dispersão, mas não a interrupção da evolução artística. A pobreza do império restaurado impele ao declínio os grandes mosaicos; retornam-se os afrescos, revigorando os clássicos. Os contatos com o Ocidente latino incrementam as trocas de influências; na verdade; Bizâncio mais cede que recebe. Tais contatos foram constantes durante toda a Idade Média.