gleicepcouto 11/06/2014Já fazia um tempinho que queria ler algo do Connolly. O cara é venerado lá fora, recebendo ótimas críticas. Decidi começar a conhecê-lo com Os Portões (Bertrand) e foi bem bacana.
A história idealizada por ele é bem bolada, apesar de não ter grandes surpresas. O assunto de portal do inferno e passagens de demônios para a Terra já foi trabalhado em diversos outros livros. Mesmo assim, Connolly consegue imprimir um toque pessoal com seus demônios ora genuinamente maus, ora meio indecisos com seus sentimentos, deixando um pouco de dúvida sobre a maldade aflorar. O modo como inseriu aspectos da ciência (especialmente a física para explicar o portal) ficou interessante e enriquece a história.
Aqui, a narrativa do autor é o grande diferencial. Connolly possui uma característica que admiro muito em autores infantojuvenis: não subestima o seu leitor. O fato de narrar uma história cujo protagonista é de 12 anos não interfere em nada na sua escrita esperta, ágil e bem humorada. Com notas de rodapé interessantíssimas, a leitura flui fácil entre aventuras e um toque de terror cômico. Junto a isso, há aprendizado, acredite. Pacote completo. E... Ah! Os capítulos possuem nomes extensos e ótimos.
As personagens são bem desenvolvidas. Percebemos o cuidado do autor em tornar verossímil até mesmo as figuras fantásticas. Alguns demônios possuem até consciência pesada, enquanto que o antagonista é marcado no estilo clássico, maldade pura. O protagonista Samuel faz uma dupla e tanto com o seu cachorro e companheiro de aventuras. Na segunda metade do livro, dois amigos aparecem para ajudar e são bem-vindos, pois adicionam uma dinâmica eficiente à história. Dei boas risadas com eles.
Curti também o modo como o autor mostra as crianças bem mais perceptivas que os adultos. Ao longo da obra, piadas sobre o assunto vão sendo apresentadas e todas fazem um sentido absurdo. Praticamente gritam como nós, adultos, que complicamos as coisas. Por outro lado, senti que ele pecou no excesso. Ok, entendi tudo o que ele queria fazer com Samuel, mas senti falta de cenas onde o garoto agisse realmente como uma criança... Não dá para ser daquele jeito sempre.
O projeto gráfico está impecável. A capa segue a identidade visual do livro anterior do autor e as páginas internas possuem detalhes no início de cada capítulo, assim como a imagem de um demonete no topo de cada página. Lovely, lol.
Por fim, Os Portões é um início interessante de uma série que tinha tudo para ser mais ou menos, mas que, graças ao talento do escritor com as palavras, conseguiu ir além do trivial e, acima de tudo, entreter. Connolly é um verdadeiro contador de histórias e estou ansiosa pelas próximas.
John Connolly é irlandês mais conhecidos pela série Charlie Parker, que possui 12 livros publicados. Aqui no Brasil, o autor teve destaque com O Livros das Coisas Perdidas (também publicado pela Bertrand), que foi indicado a alguns prêmios e será adaptado para o cinema. Os Portões é o primeiro livro de uma trilogia, já totalmente publicada lá fora; o segundo livro chama-se The Infernals e o terceiro, The Creeps. Ambos sem previsão de lançamento aqui.
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